Fechamento da rota dos Bálcãs explicita divisão da UE
10 de março de 2016
Merkel critica fechamento unilateral de fronteiras por "deixar a Grécia numa situação difícil" e reitera busca por solução europeia. Do outro lado, governo da Áustria defende decisão e diz que ela é definitiva.
Anúncio
A União Europeia (UE) se mostrou nesta quinta-feira (10/03) dividida quanto às decisões unilaterais da alguns países – incluindo os Estados-membros Eslovênia e Croácia – de fechar suas fronteiras aos imigrantes ilegais.
O bloqueio da chamada rota dos Bálcãs, levado a cabo também pela Macedônia e pela Sérvia, deixou milhares de migrantes retidos e sem perspectivas, a maioria deles na Grécia, e explicitou o grau de divisão dentro da UE.
Em essência, todos os europeus querem a mesma coisa: diminuir o ingresso de refugiados na UE. Só que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, defende que isso se dê por meio de um acordo com a Turquia. Já o chanceler federal da Áustria, Werner Faymann, diversas nações dos Bálcãs e do Leste Europeu, bem como o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendem o fechamento de fronteiras.
"Essa não é a solução do problema", afirmou Merkel, em referência ao fechamento da rota dos Bálcãs, à emissora alemã MDR. "Devemos sempre, como bloco de 28 nações, buscar uma solução comum", disse, condenando atitudes tomadas isoladamente.
"Essa decisão unilateral da Áustria e, em seguida, de países dos Bálcãs, deixa-nos com menos refugiados, mas também deixa a Grécia numa situação difícil. Essa situação não é sustentável nem duradoura. É por isso que estou à procura de uma solução realmente europeia, que é uma solução para todos os 28 países", sublinhou Merkel.
Em reação aos comentários de Merkel, o governo em Viena acusou Berlim de vender esperanças falsas para os refugiados e de não encarar o problema de frente. "A rota dos Bálcãs permanecerá fechada de forma duradoura. Esse fluxo descontrolado em direção ao centro da Europa deve ser coisa do passado", disse a ministra austríaca do Interior, Johanna Mikl-Leitner, em Bruxelas.
Refugiados se acumulam nas fronteiras da Grécia
01:14
Ela responsabilizou a política migratória alemã pela situação dramática nos campos de refugiados, como o de Idomeni, na fronteira da Grécia com a Macedônia, onde milhares de migrantes vivem em condições precárias. "Se você promover esperanças falsas, então dezenas de milhares vão se botar a caminho", afirmou Mikl-Leitner.
O coordenador do governo alemão para refugiados, Peter Altmaier, afastou as preocupações quanto a um rompimento da harmonia dentro da UE, mas criticou o fechamento das fronteiras nos Bálcãs. "Não poderemos resolver o problema enviando os refugiados de um lado para o outro como sacos de batatas" enfatizou.
Altmaier, porém, se disse esperançoso quanto ao acordo entre a UE e a Turquia, que estabelece medidas para tentar diminuir o fluxo de refugiados rimo à Europa. "Essa é a primeira vez que temos chances reais de resolver o problema", ressaltou.
Com o fechamento das fronteiras em países dos Bálcãs, o número de refugiados que chegam diariamente à Alemanha diminuiu drasticamente. Nesta quarta-feira, apenas 125 pessoas foram registradas pela polícia alemã. Na terça foram 162 pessoas.
RC/afp/dpa/rtr/lusa
A vida de um refugiado após selfie com Merkel
Há quem seja viciado em tirar autorretratos no celular, só ou acompanhado. Outros ridicularizam a moda como coisa de adolescentes. Para o sírio Anas Modamani, de 19 anos, um selfie foi o momento que transformou sua vida.
Foto: Anas Modamani
Encontrando Angela Merkel
Quando estava alojado no acampamento de refugiados de Berlim-Spandau, Anas Modamani ficou sabendo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viria visitar e conversar com os migrantes. O sírio de 19 anos, um adepto das mídias sociais, resolveu tirar um selfie com a chefe de governo, na esperança de que a iniciativa iniciasse uma mudança real em sua vida.
Foto: Anas Modamani
Fuga para a Europa
Quando a casa dos Modamani em Damasco foi bombardeada, Anas, seus pais e irmãos se transferiram para Garia, uma cidade menor. Foi aí que o jovem resolveu escapar para a Europa, na esperança de que sua família se unisse a ele mais tarde, quando tivesse conseguido se estabelecer. Primeiro, viajou para o Líbano, seguindo então para a Turquia, e de lá para a Grécia.
Foto: Anas Modamani
Jornada perigosa
Por pouco, Anas não morreu no caminho. Para atravessar o Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia, ele teve que pegar um barco inflável, como a maioria dos refugiados. O sírio conta que a embarcação estava superlotada, acabando por virar, e ele quase se afogou.
Foto: Anas Modamani
Cinco semanas a pé
O trajeto entre a Grécia e a Macedônia ele teve que fazer a pé, ao longo de cinco semanas, seguindo então para a Hungria e a Áustria. Em setembro de 2015, alcançou sua destinação final: Munique. Uma vez na Alemanha, Anas decidiu que queria ir para Berlim, onde está vivendo desde então.
Foto: Anas Modamani
Espera por asilo
Na capital alemã, o jovem de Damasco passou dias inteiro diante da central para refugiados LaGeSo. Lá, ele conta, a situação era difícil, sobretudo com a chegada do inverno. Por fim, foi enviado para o acampamento de Berlim-Spandau. Ele queria chamar a atenção para sua situação como refugiado, e um selfie com Merkel lhe pareceu a oportunidade ideal.
Foto: Anas Modamani
Enfim uma família
Anas confirma que o retrato ao lado da chanceler federal foi um elemento de mudança chave em sua vida. Ele recebeu grande atenção midiática depois que o selfie foi postado online, e foi assim que sua família adotiva chegou até ele. Há dois meses o sírio de 19 vive em Berlim com os Meeuw, que o apoiam em todos os aspectos.
Foto: Anas Modamani
Saudades de casa
Anas diz nunca ter estado tão feliz como agora, ao lado de sua família alemã. Além de fazer curso de idioma alemão, tem numerosas atividades culturais e já fez muitos amigos. Com curso médio completo na Síria, ele pretende fazer o curso superior na Alemanha. Porém, sua prioridade no momento é obter oficialmente asilo e poder trazer seus pais e irmãos para a Alemanha.
Foto: Anas Modamani
Onda de rejeição aos refugiados
O sírio Anas Modamani espera ter uma vida longa e segura em sua terra de adoção. Contudo está preocupado com os atuais sentimentos negativos contra os refugiados na Alemanha. Ele teme que esse clima de rejeição possa escalar e influenciar as leis referentes aos migrantes. Se isso acontecer e ele não obtiver asilo, será o fim do sonho de ter a própria família junto de si.