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EducaçãoBrasil

Pandemia pode deixar 70% das crianças sem ler corretamente

17 de março de 2021

Sem aulas presenciais, sete em cada dez alunos no Brasil poderão terminar o ensino fundamental sem compreender textos simples, estima Banco Mundial. Relatório analisa impacto da pandemia na educação na América Latina.

Sala de aula vazia. Uma pessoa com roupa de proteção branca e máscara anda pelo local com um aparelho pulverizador
Vários estados brasileiros suspenderam aulas para evitar a disseminação do coronavírus Foto: Getty Images/A. Anholete

O fechamento prolongado de escolas devido à pandemia de covid-19 pode fazer com que até 70% das crianças brasileiras não consigam ler e compreender um texto simples ao concluir o ensino fundamental.

O dado alarmante consta num relatório do Banco Mundial divulgado nesta quarta-feira (17/03), que analisou o impacto da covid-19 na educação dos países da América Latina e Caribe.

A região é uma das que mais preocupa o Banco Mundial, pois já tinha um nível de aprendizado considerado baixo antes do surgimento do novo coronavírus. No Brasil, estima-se que, antes da pandemia, a pobreza de aprendizagem alcançava 50% dos alunos. Com o cancelamento das atividades presenciais por até 13 meses, esse índice pode subir para 70%.

A falta de aulas presenciais também indica piora dos países da América Latina e Caribe em exames internacionais como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. Com dez meses de escolas fechadas, o Brasil cairia 36 pontos no exame e, com 13 meses, cairia 50 pontos. 

Além disso, a disparidade de desempenho entre os alunos mais ricos e mais pobres se torna ainda maior. Segundo o relatório, as perdas são ainda mais elevadas entre estudantes de escolas públicas e meninas.

Embora reconheça que os países latinos e do Caribe tenham se esforçado em buscar alternativas para seguir com o ensino mesmo com as escolas fechadas, o relatório também leva em consideração que a falta de acesso a tecnologias dificulta que os alunos consigam acompanhar as aulas de casa.

No Brasil, o telefone celular é a única ferramenta usada para acessar a internet por 75% da população indígena, 65% da população negra e 61% da população parda, proporções substancialmente maiores do que entre os brancos.

No país, a proporção de alunos afrodescendentes matriculados em escolas sem acesso às atividades durante a pandemia foi de 12,5%, quase o dobro dos alunos não afrodescendentes (6,4%).

O relatório também cita um estudo da Fundação Lemann que revela que manter a rotina é um dos principais desafios enfrentados pelos alunos na educação à distância.

A falta de motivação dos estudantes em fazer atividades em casa aumentou de 46% em maio para 54% em setembro. A desmotivação atinge, sobretudo, crianças e adolescentes mais vulneráveis, ​​que recebem consideravelmente menos apoio de suas famílias para realizar as atividades e têm muito menos acesso a dispositivos digitais complementares.

Em toda a América Latina e Caribe, o Banco Mundial prevê que as perdas de aprendizagem e produtividade da geração afetada podem levar a um declínio no potencial de ganhos agregados de 1,7 trilhão de dólares.

Impacto poderá ser sentido no Brasil por 15 anos

Uma outra análise divulgada nesta quarta-feira mostra que, no Brasil, o impacto do fechamento das escolas durante a pandemia pode se estender por 15 anos e ser sentido no Produto Interno Bruto (PIB), no aprendizado e produtividade do trabalho e no aumento na desigualdade social. A análise é da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia e consta no boletim Macro Fiscal.

A SPE considerou que os efeitos da atual crise podem durar até o final de 2022, resultando em um hiato de três anos na educação de uma grande parcela da população que hoje tem entre 5 e 20 anos de idade. De acordo com o boletim, esse efeito deve durar por aproximadamente 15 anos após o término da pandemia, possivelmente até 2038, até que a parcela da população atingida com a suspensão das aulas presenciais entre no mercado de trabalho.

Segundo o relatório, há duas formas extremas de lidar com o problema. "A primeira seria simplesmente deixar o hiato educacional cobrar seu preço no estoque de capital humano brasileiro", afirma o boletim. Nesta alternativa, os jovens entrariam no mercado de trabalho com a mesma idade que ingressariam sem a pandemia, porém com uma quantidade menor de anos de educação formal. "Essa alternativa seria uma verdadeira catástrofe na acumulação de capital humano e na produtividade do trabalho de uma geração inteira”, alerta a SPE.

A segunda opção seria cobrir esse hiato com anos adicionais de estudo após o término da pandemia, mas o efeito de postergar por três anos a entrada dos jovens no mercado de trabalho seria "dramático", avalia a secretaria, já que haveria uma proporção menor de adultos em idade laboral e, assim, um encolhimento da população que gera riqueza no país.

Além disso, o impacto negativo da pandemia sobre o aprendizado dos alunos não é homogêneo e pode aumentar ainda mais a desigualdade social. De acordo com o boletim, embora crianças que têm condições materiais para acesso ao ensino a distância também tenham experimentado algum déficit de aprendizado, o prejuízo é muito maior para crianças pobres, que "foram destituídas de qualquer tipo de ensino em 2020", por terem menos ou nenhum acesso à internet e a ambientes adequados de aprendizado.

le/ek (ots)

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