Fundações alemãs lançam cartilha com resposta aos argumentos mais comuns contra a igualdade de gênero. Objetivo, segundo autora, é evitar que
clichês sem base factual sejam tomados como verdade.
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"Feminismo é o ódio aos homens”; "a biologia determina como homens e mulheres se comportam”; "quando usam minissaia, as mulheres estão pedindo para receber cantadas” – são argumentos comuns utilizados para descreditar movimentos pela igualdade de gênero.
Quase sempre baseados em preconceitos e formulados sem base factual, esses discursos invadem redes sociais e chegam a circular na própria imprensa. Nos últimos anos, ataques ao movimento feminista, a políticas e estudos de igualdade de gênero cresceram na Alemanha.
Contra esses argumentos, as fundações Heinrich Böll e Rosa Luxemburgo, ligadas aos partidos Verde e A Esquerda, lançaram na Alemanha em meados de julho a cartilha Gender raus – 12 Richtigstellungens zu Antifeminismus und Gender Kritik (Fora, gênero – 12 retificações sobre antifeminismo e críticas de gênero, em tradução livre).
"Em tempos de populismo de direita e de uma esfera pública fundamentalista, o esclarecimento sobre argumentos e simplificações falsas é importante”, afirma Katharina Pühl, da Fundação Rosa Luxemburgo.
De acordo com a especialista em feminismo, o objetivo da cartilha é oferecer informações claras e simples para que qualquer pessoa possa apresentar argumentos sólidos contra discursos conservadores, antifeministas e racistas em conversas cotidianas.
A diretora da Fundação Heinrich Böll, Barbara Unmüssig, lembrou durante o lançamento da cartilha que a emancipação sexual, a igualdade de direitos, a identidade de gênero, o reconhecimento de toda a orientação sexual e o combate à discriminação são elementos centrais dos direitos humanos.
"Não podemos deixar o antifeminismo e a homofobia sem resposta”, salientou.
Doze frases
A partir das 12 afirmações do discurso antifeminista mais propagadas em países de língua alemã, a cartilha mostra, por meio de uma linguagem simples, as distorções de cada uma delas. A autora do livro, Franziska Schutzbach, conta que o texto foi pensado para servir como um meio de informação para o público leigo.
"Se essas pessoas só tiverem acesso a argumentações antifeministas, há o risco de que essas críticas e hostilidades acabem formando opiniões”, ressalta a especialista em estudos de gênero da Universidade de Basileia.
Por exemplo, ao debater a afirmação "Feminismo é o ódio aos homens”, o texto explica que o feminismo não é o combate aos homens, mas sim a luta por direitos iguais para todos, homens e mulheres, além da busca por uma divisão igualitária de recursos e poder – que ainda são dominados em sua grande maioria por homens.
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"Crítica não é ódio”, ressalta o documento, que lembra que também há homens que são prejudicados por não se encaixarem em padrões ditos como masculinos – por exemplo, ser forte ou ter sucesso na carreira. A argumentação finaliza destacando ser possível lutar contra situações nas quais homens sofrem preconceitos sem precisar atacar o feminismo.
Outro capítulo da cartilha discute a frase: "A biologia determina como homens e mulheres se comportam e mostra que eles são diferentes.” O texto afirma que esse argumento surgiu no século 19 para legitimar os papéis do homem e da mulher e justificar hierarquias entre eles e entre pessoas de diferentes origens.
O texto mostra, no entanto, que diversos estudos já revelaram que o comportamento humano e a construção de gênero não são baseados apenas em fatores biológicos, mas também são influenciados pela cultura, educação e socialização.
A cartilha apresenta ainda argumentos contra afirmações antifeministas que apoiam atitudes sexistas, contestam o aborto, defendem a família tradicional, negam as desigualdades entre homens e mulheres, criticam estudos de gênero e propagam a xenofobia.
Segundo a autora da cartilha, grande parte destes argumentos e desculpas funciona no mundo inteiro: "Há uma continuidade histórica nesta argumentação, com diferentes focos, mas determinados argumentos antifeministas se repetem desde o surgimento do feminismo.”
Atualmente, as fundações não têm planos para traduzir a cartilha em outras línguas. Pühl não descarta a tradução, mas salienta que o texto precisaria de algumas modificações para se encaixar na realidade de outros países.
Dez mulheres que fizeram história
Ao longo da história, houve várias pioneiras, seja na ciência ou na luta pelo voto feminino e o direito à educação. Conheça algumas mulheres que se destacaram no seu tempo.
Foto: Hilary Jane Morgan/Design Pics/picture alliance
Primeira rainha-faraó
Após a morte de seu marido, o faraó Tutmés 2º, Hatschepsut assumiu o trono em 1479 a.C., como rainha-faraó tanto do Alto quanto do Baixo Egito. As duas décadas em que esteve no poder foram de paz e de prosperidade econômica. Seu sucessor, Tutmés 3º, no entanto, tentou apagar todos os vestígios da primeira rainha-faraó da história.
Foto: picture alliance/dpa/C.Hoffmann
Mártir francesa
Na Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França, Joana d'Arc, uma filha de camponeses de 13 anos, teve uma visão. Santos pediram a ela que salvasse a França e trouxesse Carlos 7º ao trono. Em 1430, ela foi presa durante uma missão militar. No julgamento, em que virou heroína da França, foi condenada a morrer na fogueira. Mais tarde, seria reabilitada e, em 1920, canonizada por Bento 15.
Foto: Fotolia/Xavier29
Catarina, a Grande
Com um golpe audacioso, Catarina 2ª derrubou o odiado marido do trono e se proclamou imperatriz da Rússia. Ela provou sua capacidade de governar ao dominar todo o território russo e liderar campanhas militares até a Polônia e a Crimeia. Graças a isso, Catarina é a única governante do mundo com o epíteto "a Grande".
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Monarca perspicaz
Quando Elisabeth 1ª ascendeu ao trono britânico, ela assumiua supremacia sobre um país em revolta. Ela acabou conseguindo apaziguar a guerra religiosa entre católicos e protestantes, e trouxe uma era de prosperidade ao império britânico. A cultura viveu seu auge com Shakespeare e os navios britânicos derrotaram a armada espanhola.
Foto: public domain
Feminista radical
Em 1903, Emmeline Pankhurst (1858-1928) fundou o movimento feminista no Reino Unido. Na luta para que as mulheres pudessem votar, fez greve de fome, incendiou casas e foi condenada. Em 1918, conseguiu que mulheres a partir dos 30 anos pudessem votar. Morreu em 1928, ano em que começou a vigorar na Inglaterra o sufrágio universal para as mulheres.
Foto: picture alliance/akg-images
Revolucionária alemã
Num tempo em que as mulheres ainda não podiam votar, Rosa Luxemburg estava à frente do revolucionário movimento social-democrático alemão. Cofundadora do movimento de esquerda Liga Espartaquista e do Partido Comunista da Alemanha, tentou acelerar o fim da Primeira Guerra Mundial com greves em massa. Após a repressão da revolta espartaquista, em 1919, ela foi assassinada por militares alemães.
Foto: picture-alliance/akg-images
Grande pesquisadora
Marie Curie (1867-1934) foi uma das pioneiras na pesquisa da radioatividade, o que inclusive lhe rendeu um Nobel de Física, em 1903, mas também os sintomas da então ainda desconhecida doença provocada pela radiação. A descoberta dos elementos Rádio e Polônio lhe valeu o Nobel de Química em 1911. Após a morte do marido, Pierre, ela assumiu sua cátedra, tornando-se a primeira professora na Sorbonne.
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Diário revelador
"Sua Anne". Assim Anne Frank termina o diário que escreveu entre 1942 e 1944. Na última foto, a garota de 13 anos ainda sorri despreocupada. Dois meses mais tarde, em julho de 1942, ela se mudaria para o esconderijo em Amsterdã. Ali ela viveu na clandestinidade até ser deportada para Auschwitz, onde morreu em março de 1945. Seu diário é um dos mais importantes testemunhos do Holocausto.
Foto: Internationales Auschwitz Komitee
Primeira Nobel africana
"A primeira verde da África" escreveu um jornal alemão referindo-se a Wangari Maathai. Desde os anos 1970, ela se engajava tanto pelos direitos humanos quanto pela preservação do meio ambiente. Com a ONG Movimento Cinturão Verde ela plantou árvores para frear a desertificação. Em casa, no Quênia, ela muitas vezes foi ridicularizada. Mas, em 2004, seu trabalho foi coroado com o Prêmio Nobel da Paz.
Foto: picture-alliance/dpa
Símbolo do direito à educação
Ela tinha 11 anos em 2009 quando falou à imprensa sobre os horrores do Talibã no Paquistão. Quando sua escola para meninas foi fechada, ela lutou pelo direito à educação. Em 2012, sobreviveu a um atentado à bala. Já recuperada, escreveu a autobiografia "Eu sou Malala". Em 2014, com 17 anos, ganhou o Nobel da Paz por defender os direitos de meninas e mulheres.