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Feminismo: uma luta que atravessa continentes

Bianca Riet Villanova / Natalia Messer13 de novembro de 2015

No Brasil e na América Latina, batalha por direito das mulheres ainda é intensa. Na Europa, o debate também está em pauta, e dados apontam que, apesar de diferenças, realidades dos dois continentes não são tão distantes.

Protesto de mulheres em Brasília contra o presidente da Câmara, Eduardo CunhaFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Enquanto no Brasil de 2015 as ruas de capitais fervilham com os movimentos que defendem os direitos das mulheres, na Europa, o debate pode passar despercebido. Isso não significa, porém, que a busca por igualdade não esteja em pauta.

Com históricos de desenvolvimento social, econômico e cultural distintos, as mulheres da Europa e da América Latina atingiram, em diferentes níveis e momentos, parte de seus direitos. Nos dois continentes, porém, a busca por mais igualdade está longe do fim.

Salários iguais, direitos sexuais e violência contra mulher são temas atuais de reivindicações tanto nos movimentos europeus quanto nos sul-americanos, apontam as pesquisadoras Jana Günther, pesquisadora de feminismo da Universidade de Dresden, e Herminia Gonzalvez, da Universidade Alberto Hurtado, no Chile.

A América Latina alcança, aos poucos, melhores índices. Dos 26 países da região analisados no Global Gender Gap – estudo realizado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial –, 14 alcançaram um índice de igualdade em torno de 70%. Na América do Norte e Europa, o índice é de 75%, e na Ásia Central, de 72%.

Na Europa, o destaque está nos países nórdicos: Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca são os cinco primeiros colocados no ranking mundial. E entre os 20 melhores, 12 são europeus.

O Relatório Anual de Igualdade entre Homens e Mulheres de 2014, elaborado pela União Europeia (UE), aponta que 94% dos europeus concordam que a igualdade entre homens e mulheres é um direito fundamental. O relatório aponta, porém, que apesar de muitas conquistas, a igualdade de gêneros ainda é um "trabalho não finalizado".

Trabalho

Igualdade no trabalho é uma das principais pautas europeias. "Na Europa já se atingiu muito em relação aos direitos de igualdade de gênero, porém, em relação à igualdade econômica ainda há muito a ser feito", afirma Günther.

Protesto pelo fim da violência contra a mulher na Espanha, em novembro de 2015Foto: Getty Images/AFP/C. de la Torre

Segundo o relatório anual da UE, nos países do bloco, as mulheres ocupam menos de um quarto dos postos de gerência de empresas, apesar de representarem 46% da força de trabalho.

A equivalência salarial também não foi atingida no velho mundo. De acordo com o relatório, para cada 1 euro recebido por um homem europeu, as mulheres recebem apenas 0,84 centavos, o que representa uma média de 16,4% a menos que os homens para os mesmos postos de trabalho.

A América Latina não apresenta uma realidade tão distante. No continente, as mulheres recebem em média 19% menos que os homens – mais que a média global, de salários 24% menores para mulheres, de acordo com dados da ONU Mulheres.

A representatividade feminina em postos de tomada de decisão, porém, fica bastante atrás na América Latina. Segundo relatório da Corporate Women Directors International (CDWI), entre as 100 maiores empresas do subcontinente, apenas 53 têm mulheres em seus conselhos administrativos. Destas, porém, 43% contam com uma apenas uma mulher em tais posições, fazendo com que sua representatividade nos conselhos seja de apenas 6,4%. Na Europa, essa média fica em 20%.

Alguns países já adotam medidas para diminuir a disparidade. Na Alemanha, por exemplo, foi aprovada em março deste ano uma cota mínima de 30% de mulheres nos conselhos administrativos de grandes empresas alemãs.

Jornada dupla

Segundo a ONU, 25% das mulheres europeias relataram, em 2013, que as responsabilidades familiares justificam sua saída do mercado de trabalho, contra apenas 3% dos homens.

Apesar de a grande maioria dos europeus serem favoráveis a dedicar mais tempo aos trabalhos domésticos, os homens gastam em média 9 horas semanais com serviços domésticos, enquanto as mulheres despedem 26 horas semanais para essas atividades, 2,8 vezes mais que os homens. A média fica acima da mundial, de 2,5 vezes mais.

No Brasil, enquanto os homens dedicam cerca de 5 horas semanais a trabalhos domésticos, as mulheres enfrentam uma jornada de 20 horas por semana, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Em muitos lares, apenas as mulheres se dedicam aos cuidados da casa.

Em junho de 2015, mulheres foram às ruas da Argentina contra a violênciaFoto: reuters

Mulheres na política

Atualmente, a União Europeia mantém a proporção mais alta de representatividade feminina em seu parlamento (37%), com uma comissão formada por 19 homens e nove mulheres.

Os países do bloco também mantêm a melhor média mundial de representatividade em seus parlamentos nacionais: nos 37 países-membros, 28% dos parlamentares são mulheres – um aumento de 6% em relação à última década. Nos países nórdicos, essa taxa chega a 41%, segundo o banco de dados Woman in National Parliament, mantido pela União Interparlamentar (IPU, na sigla em inglês).

Na América Latina, os índices variam entre os países. A Bolívia eleva os índices do continente, despontando em segundo lugar no ranking mundial: são 53,1% de mulheres em seu Congresso. No continente como um todo, no entanto, o índice é de 26,4%, pouco menor que o europeu.

Já o Brasil aparece na 118ª posição do ranking (último entre os países da América do Sul), com somente 9,9% de representação feminina no Congresso. Tramita no Senado um projeto de lei que visa implementar uma cota mínima de 30% de mulheres no Congresso e nas assembleias legislativas.

Segundo relatório da ONU, o número de assentos ocupados por mulheres nos parlamentos nacionais mundo afora passou de em média 14% em 2000 para 22% em 2014.

Violência persiste

Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Europa gasta em média 258 bilhões de euros por ano devido à violência de gênero. No entanto, os dados apontam principalmente para violência psicológica.

Protesto pró-aborto em Dublin, em 2014Foto: picture alliance/CITYPRESS 24/A. Widak

Um estudo conduzido em 2012 pelo Instituto Europeu de Igualdade de Gênero (EIGE, na sigla em inglês), apontou que 43% das mulheres sofreram algum tipo de violência psicológica por parte de seus parceiros.

Levando em conta tanto a violência física quanto a psicológica, enquanto nos países ocidentais da Europa, 19,3% das mulheres relataram algum tipo de agressão por parte de seus parceiros, o número chegou a 23,68% na América do Sul, segundo estudo da OMS.

A organização alerta, no entanto, que apenas um terço das mulheres abusadas sexualmente ou psicologicamente por seus parceiros fazem denúncias, indicando que o número de vítimas é possivelmente muito maior.

Apesar de os dados soarem mais promissores nos países mais ricos da Europa, o Relatório Anual de Igualdade entre Homens e Mulheres ainda indica altos índices se considerado o continente como um todo. Estima-se que, a cada minuto, sete mulheres sejam vítimas de estupro ou outras formas de agressão sexual, 25 de violência psicológica e 74 de assédio sexual em solo europeu.

No Brasil, os números revelam um triste cenário. O Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil apontou um aumento de 252% no homicídio de mulheres entre 1980 e 2013, passando de 1.353 para 4.762 assassinatos. O relatório aponta que o Brasil ocupa a 5ª posição num grupo de 83 países quanto ao número de homicídios de mulheres, com uma taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres. No mundo, a taxa média é de 2,2.

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