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Repercussão

25 de julho de 2008

Tema onipresente na mídia, a visita de Barack Obama a Berlim é analisada: políticos elogiam a retórica do candidato e jornais questionam o que está por trás da "perfeita encenação" que compõe o "fenômeno Obama".

Obama cumprimenta admiradores em BerlimFoto: AP

Como observa o diário suíço Neue Zürcher Zeitung (NZZ), a passagem do candidato à presidência dos EUA, Barack Obama, pela capital alemã, lembrou em muitos aspectos o entusiasmo de torcedores de futebol. Da mesma forma como os alemães "reaprenderam" a balançar pelas ruas bandeiras do país na última Copa do Mundo, não foram poucos os que sacudiam bandeirinhas norte-americanas na última quinta-feira (25/07), em Berlim.

Um "fenômeno digno de nota", observa o jornal suíço, pois "exibir uma bandeira americana na consideravelmente anti-americana Berlim não seria, em outras situações, exatamente a melhor forma de fazer amigos. No momento, porém, fazer isso parece não causar problema algum, principalmente quando se manifesta, ao mesmo tempo, simpatia por Obama".

Cultura pop

Em roupas, bonés e buttons: Obama por todos os ladosFoto: picture alliance/dpa

A conclusão de vários órgãos de mídia é a de que Obama – se tivesse que ser escolhido pelos alemães, fossem estes anônimos pedestres nas ruas ou políticos no poder – já estaria eleito. "A reverência carrega traços de cultura pop", completa o NZZ. Será que tudo isso pode ser entendido como a simples conseqüência de um "alívio coletivo" pela perspectiva do fim da era Bush, perguntam alguns jornais.

Afinal, a imagem dos EUA nunca esteve tão arranhada na Europa como nos últimos oito anos. Enquetes apontam, cita o diário berlinense taz, que "apenas 36% dos europeus vêem uma liderança norte-americana em questões de política internacional como desejável".

Pior ainda é quando o assunto é o apoio ao governo Bush, declarado por apenas 17% da população do continente, num contexto em que a maioria dos europeus vê os EUA até mesmo como "o maior perigo para a segurança internacional, mais do que o Irã, a Rússia ou a Coréia do Norte", descreve o jornal.

Proximidade dos republicanos

Saída de Bush à vista: satisfação entre europeusFoto: AP

No entanto, será que a rejeição a Bush explica sozinha a "obamania" que tomou conta de Berlim durante a visita do candidato? "Não há dúvida de que a maioria dos europeus pode ficar feliz de ver George W. Bush indo embora. Um presidente que discuta com os aliados europeus, respeite o Direito internacional e se empenhe pela defesa do clima poderá certamente fazer muito para melhorar as debilitadas relações transatlânticas", analisa o norte-americano Paul Hockenos no diário taz.

Embora, mesmo com toda a euforia, lembra o autor, "a compreensão social e os alvos da política externa de Obama estejam muito mais próximos daqueles dos republicanos do que dos social-democratas europeus".

"Carisma e liderança"

Encontro com a premiê Merkel: elogios do governo alemãoFoto: AP

As posturas concretas de Obama parecem, porém, pouco incomodar os políticos alemães dos mais variados matizes. Entre os representantes da coalizão de governo, formada pelos dois grandes partidos CDU (União Democrata Cristã) e SPD (Partido Social Democrata), as declarações em relação à sua passagem por Berlim foram unanimemente positivas. E semelhantes umas às outras.

Enquanto o porta-voz do governo Ulrich Wilhelm salientou que as posturas defendidas pelo candidato norte-americano na visita a Berlim "correspondem exatamente às da premiê Angela Merkel", o representante do SPD para questões de política externa, Gert Weisskirchen, afirmou que a capital alemã ouviu na quinta-feira "o discurso de um cidadão do mundo".

E até mesmo Edmund Stoiber, presidente de honra da conservadora União Social Cristã (CSU), elogiou as palavras de Obama por terem trazido "o que muitas pessoas anseiam: carisma e liderança".

Primeira pessoa do plural

Ruas de Berlim: homem com cartaz 'Obama para chanceler federal'Foto: picture alliance/dpa

Exatamente essa tendência "à liderança" é vista de forma crítica por parte da mídia do país. O caráter de "show" da visita a Berlim, o sucesso absoluto das estratégias de marketing da assessoria do candidato e a enorme facilidade de Obama em conjugar com maestria os verbos na primeira pessoa do plural ("nós pobres e ricos", "nós muçulmanos e cristãos", "nós negros e brancos", etc, etc) são questionados aqui e ali.

Embora, como resume o jornal Berliner Zeitung, "com Obama é possível conversar e ele vai também ouvir. Isso já é uma melhora sensível em relação aos últimos anos". Do que se pode concluir que a "obamania" não signifique muito mais do que o mero prazer de dar adeus a Bush. (sv)

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