Fernanda Torres recebe Globo de Ouro por "Ainda estou aqui"
6 de janeiro de 2025
Pela primeira vez uma atriz brasileira recebe o prêmio da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood. Em 1999, a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, concorreu por sua atuação em outro filme de Walter Salles.
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Fernanda Torres foi consagrada com o Globo de Ouro 2025 de Melhor Atriz em Filme de Drama por sua atuação em Ainda estou aqui, de Walter Salles, na madrugada desta segunda-feira (06/01).
A premiação é histórica por ser a primeira do Brasil numa categoria de atuação. Não se tratava da primeira indicação: mais de duas décadas antes, a mãe da atriz, Fernanda Montenegro, concorrera por Central do Brasil (1998), do mesmo diretor, que venceu como Melhor Filme em Língua Estrangeira. Montenegro seria indicada para o Oscar 1999 de Melhor Atriz.
Em seu discurso em Beverly Hills, Los Angeles, Torres agradeceu a sua precursora: "Quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não têm ideia... Ela estava aqui há anos. Isso é uma prova de que a arte pode permanecer na vida das pessoas, mesmo em momentos difíceis, como os que Eunice Paiva viveu." A alusão é à personagem que Torres representa, a mãe de Marcelo Rubens Paiva, autor do romance em que o longa-metragem se baseia.
Uma saga familiar na ditadura
Esse Globo de Ouro é tão mais significativo por a atriz brasileira de 59 anos ter enfrentado estrelas hollywoodianas como Tilda Swinton (O quarto ao lado), Nicole Kidman (Babygirl) e Angelina Jolie (Maria Callas).
O prêmio de Melhor Filme de Drama foi para O brutalista. Seu diretor, Brady Corbet, e ator principal, Adrien Brody, também foram premiados nas respectivas categorias.
Melhor Roteiro no Festival de Veneza 2024, Ainda estou aqui também concorria na noite a Melhor Filme em Língua Não Inglesa, que foi para Emilia Pérez, de Jacques Audiard, também Globo de Ouro de Melhor Musical ou Comédia.
Concedido desde 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, o Golden Globe se dirige aos melhores profissionais do cinema e televisão do mundo.
O longa-metragem tem ainda boas chances de concorrer ao Oscar, cuja lista será anunciada em 17 de janeiro. No filme, Walter Salles narra a saga da mãe do escritor do romance original em busca de justiça, depois que o marido, o deputado federal Rubens Paiva, foi preso em 20 de janeiro de 1971, no Rio de Janeiro. Torturado e executado pela ditadura militar, seu corpo nunca foi localizado. Eunice Paiva morreu aos 86 anos, em 13 de dezembro de 2018, vítima de Alzheimer.
av/as (ots)
A ditadura brasileira (1964-1985)
Regime militar que sufocou a democracia se estendeu por 21 anos. Período foi marcado por perseguições, tortura, censura, crescimento e derrocada econômica.
Foto: Arquivo Nacional
A perseguição política
A perseguição de adversários se concentrou nos meses após o golpe de 1964 e entre o final da década de 60 e início dos anos 70. Mais de 5 mil pessoas foram alvo de punições como demissões, cassações e suspensão de direitos políticos. Ao todo, 166 deputados foram cassados. O regime também perseguiu membros em suas fileiras. Pelo menos 6.951 militares foram presos, desligados e presos.
Foto: Arquivo Nacional
Assassinatos e desaparecimentos
Assim como a perseguição política, os assassinatos de opositores promovidos pelo regime se concentraram em algumas fases da ditadura. Mas todos os generais-presidentes foram tolerantes com a prática. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontou a responsabilidade do regime militar pela morte de 224 pessoas e pelo desaparecimento de 210 – 228 delas morreram durante o governo Médici (1969-1974).
Foto: Arquivo Nacional
Tortura
Na ditadura, a tortura virou uma prática de Estado. Já no governo Castelo Branco (1964-1967) foram apresentadas 363 denúncias de tortura. Na fase de Médici (1969-1974), seriam mais de 3.500. O relatório "Brasil: Nunca Mais" lista 283 formas de tortura aplicadas pelo regime, como afogamentos, choques elétricos e o pau de arara. Ao longo de 21 anos, houve mais de 6 mil denúncias de tortura.
Foto: Arquivo Nacional
A luta armada
Ao dar o golpe, os militares citaram a corrupção e o esquerdismo do governo Jango. A luta armada, às vezes apontada como razão de ser da ditadura, nem foi mencionada. Só em 1966 ocorreram as primeiras ações relevantes de grupos de esquerda, que cometeriam atentados e assaltos com o objetivo de promover uma revolução. Em 1974, todos já haviam sido aniquilados, mas a ditadura duraria mais uma década
Foto: Arquivo Nacional
Os atos institucionais
O regime militar recorreu a uma série de decretos chamados atos institucionais para manter seu poder. Entre 1964 e 1969 foram promulgados 17 atos, que estavam acima até da Constituição. Alguns promoveram a cassação de adversários (AI-1) e a extinção dos partidos políticos existentes (AI-2). O mais duro deles, o AI-5, instituiu em 1968 a censura prévia na imprensa e a suspensão do "habeas corpus".
Foto: Arquivo Nacional
A censura
Boa parte da imprensa apoiou o golpe, mas vários jornais passaram a criticar o regime, alguns mais cedo, outros mais tarde. Com o AI-5, passou a vigorar uma censura prévia em vários meios de comunicação. O regime censurava até más notícias, promovendo uma imagem fictícia da realidade do país. Epidemias, desastres e atentados eram temas vetados. Músicas, filmes e novelas também foram censurados.
Foto: Arquivo Nacional
Colaboração com outras ditaduras
Junto com os regimes da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, a ditadura brasileira integrou a Operação Condor, uma aliança para perseguir opositores no Cone Sul. O regime também ajudou a treinar oficiais chilenos em técnicas de tortura. Um dos casos mais notórios de colaboração foi o sequestro em 1978 de dois ativistas uruguaios em Porto Alegre, que foram entregues ao país vizinho.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
O milagre econômico...
Após três anos de ajustes, os militares promoveram a partir de 1967 investimentos e oferta de crédito. A fórmula deu resultados. Entre 1967 e 1973, a expansão do PIB brasileiro foi de 10,2% ao ano. O país passou a ser a décima economia do mundo. O crescimento aumentou a popularidade do regime durante a fase mais repressiva da ditadura. Mas o "milagre brasileiro" duraria pouco.
Foto: Arquivo Nacional
... e a derrocada econômica
A conta do "milagre" chegou após os dois choques do petróleo e uma série de decisões desastradas para manter a economia aquecida. Ao fim da ditadura, o país acumulava dívida externa 30 vezes maior que a de 1964 e inflação de 225,9% ao ano. Quase 50% da população estava abaixo da linha de pobreza. Os militares pegaram um país com graves problemas econômicos e entregaram um quebrado.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Corrupção
A censura e a falta de transparência favoreceram a corrupção. O período foi marcado por vários casos, como o Coroa-Brastel, Delfin, Lutfalla e a explosão de gastos em obras. O regime promoveu e protegeu figuras como Paulo Maluf e Antônio Carlos Magalhães, que já nos anos 70 eram suspeitos em casos de corrupção. Também abafou casos, como a compra superfaturada de fragatas do Reno Unido nos anos 70.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Grandes obras
A ditadura promoveu obras faraônicas, divulgadas com propaganda ufanista, como Itaipu e a ponte Rio-Niterói. Algumas foram marcadas por desperdícios e erros, como a Transamazônica e as usinas de Angra. Em 1969, o regime criou uma reserva de mercado para as empreiteiras nacionais ao proibir a atuação de estrangeiras. É nessa época que empresas como a Odebrecht passam a dominar as obras no país.
Foto: Arquivo Nacional
Anistia e falta de punições
Em 1979, seis anos antes do fim da ditadura, foi promulgada a Lei da Anistia, perdoando crimes cometidos por motivação política. Mas ela tinha mão dupla: garantiu também a impunidade para agentes responsáveis por mortes e torturas. No Chile e na Argentina, dezenas de agentes foram condenados por violações de direitos humanos após a volta da democracia. No Brasil, ninguém foi punido.