Festivais de música eletrônica contra ressurgimento do rock
5 de junho de 2006Se há alguns anos alguém afirmasse que uma banda de monstros heavy metal – além do mais finlandesa! – sairia um dia vencedora de um festival tão conservador quanto o Eurovisão, ninguém acreditaria.
Pois o impensável aconteceu: os integrantes do Lordi aparecem todos mascarados, armados de guitarras e outras equipagens heavy, emitindo sons até então considerados ultrapassados, nada cool nesse início do século 21. No dia 20 de maio, ganharam o Grand Prix da Canção Européia 2006, com um título programático: Hard Rock Hallelujah.
Aonde vamos parar desse jeito, diriam os DJs indignados? Está na hora de a cena européia da música eletrônica se manifestar, e para tal não faltará oportunidade nos próximos meses. Com a palavra, os sons tranqüilizantes e urbanos, o vinil e o sample, verdadeiros bálsamos contra guitarras distorcidas e microfonia.
Disco is not dead
O líder indiscutível do verão é o festival Sonar em Barcelona, Espanha, que vai de 15 a 17 de junho. Com a ajuda do tempo quente, locação à beira-mar e o bochicho da cidade, os organizadores conseguem programar de forma consistente os grandes nomes entre os DJs, ao lado de calouros mais promissores.
A palheta desses três dias embarca música eletrônica, hip-hop e tecno, com destaque especial para o Goldfrapp, baseado em Londres, e o legendário producer DJ Shadow.
"Este ano há dois focos principais", expõe Enric Palau, um dos três co-fundadores do evento, iniciado em 1994. "Um é The Year of Japan, com 20 artistas japoneses, incluindo gente do hip-hop, breakbeat e breakboxing."
"O segundo é Black Music. Não teríamos a música eletrônica sem a disco music ou os primeiros samples de rap. E o reggae tem sido importante para o tecno minimalista de hoje em dia", explica o produtor.
A edição do ano passado teve entre 80 e 90 mil espectadores, e se espera o mesmo número este ano. "Barcelona é o cenário perfeito para o festival", comenta Palau. "Nosso trabalho ajudou a posicionar a cidade no mapa dos eventos culturais e musicais."
Sol e noites sonoras
Em outro local da Espanha, o Festival Internacional de Benicàssim reúne de 20 a 23 de junho tanto artistas da guitarra quanto eletrônicos, atraindo grandes multidões para quatro dias de dança, sob o por vezes inclemente sol ibérico.
Na França, o Nuits Sonores de Lyon, embora ainda apenas em sua quarta edição, já vem angariando votos como rival gaulês do Sonar. Ao contrário deste, concentrado num único local, o Nuits Sonores se infiltra por toda a cidade – declarada pela Unesco patrimônio cultural da humanidade – em 50 diferentes locações.
Vincent Carry, de 35 anos, é um dos três fundadores. Ele define o evento: "É um panorama da música eletrônica, onde todos os estilos estão representados. Vai do tecno house ao breakbeat e ao electroclash. Muita gente o compara com o Sonar. Artisticamente, temos muito a ver com eles."
Um armazém na confluência dos rios Rhône e Saône serve como ponto de encontro. Este ano ele transcorreu de 24 a 28 de maio, reunindo cerca de 50 mil "beatômanos".
Continue lendo na próxima página sobre as ofertas da música eletrônica pop na Europa
Na vizinha Bélgica, o panorama dos festivais de verão é rico e diversificado. A cena eletrônica tem como ponto alto o 10 Days Off, de 14 a 24 de julho. Ele é parte do gigantesco Gentse Festeen, que toma de assalto a pitoresca cidadezinha de Gent durante todo o mês de julho.
"Acho que o Gentse Festeen é o maior festival numa cidade da Europa. Ano passado vieram cerca de dois milhões de pessoas.", comenta Philip de Liser, um dos organizadores do 10 Days Off.
De Liser sublinha a atual importância de Berlim para a cena da música eletrônica na Europa. Berlinenses ou DJs internacionais baseados na capital alemã são um pilar do festival deste ano. Para ele, no momento, Berlim substitui Londres como meca do gênero eletrônico.
Love Parade, Popkomm e C/O Pop
Por sua vez, Berlim se deixa invadir, em pleno verão, pela Love Parade. Calcula-se que a megafesta ao ar livre voltará a reunir um milhão nas ruas da ex-cidade dividida, para um 15 de julho de hedonismo e dance music de arrebentar os ouvidos.
Já na virada para o outono, de 20 a 22 de setembro, a capital da Alemanha abrigará a Popkomm. Em 2005, a feira de música apresentou 1200 artistas em 20 clubes.
A essa altura, a cidade de Colônia – antigo lar da Popkomm e um outro celeiro da música eletrônica, situado no noroeste do país – já deverá ter pegado fogo: de 23 a 27 de agosto é a vez de seu c/o pop.
Recordes e natureza na Inglaterra
No Reino Unido, o festival de Glastonbury, de 22 a 24 de junho, continua sendo o maior evento musical do verão, aberto tanto às guitarras quanto aos sons eletrônicos.
O Homelands Festival – este ano rebatizado HiFi – dedicou dois dias à dance music, no fim de semana de 27 e 28 de maio. Mais uma vez, ele atraiu enormes multidões vindas de Londres, que está a apenas um pulo de Winchester, Hampshire, onde o evento ocorre.
Mais ao norte, o festival T in the Park, nos dias 8 e 9 de julho, é a resposta escocesa a Glastonbury. Já o Big Chill (4-6 de agosto) é situado num lago, dentro de um parque de cervos do oeste inglês. Sua reputação vem crescendo e a expectativa é de 29 mil espectadores este ano. Ele tem como forte combinar natureza e programação musical de alto nível.
"É o máximo em festa chill, para gente grande, e atrai um público pelo menos tão lindo quanto o parque à beira do lago", promete o organizador Sam Pow.