1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Literatura viva

15 de setembro de 2009

A Alemanha tem hoje mais projetos de literatura que unem autores e público do que nunca. Cada cidade tem seu festival literário. Para os visitantes, o prazer é descobrir o segredo atrás da obra de cada autor.

Haus der Berliner Festspiele, um dos palcos do evento internacionalFoto: DW
Ulrich Schreiber, diretor do festivalFoto: DW

Na noite de segunda-feira (14/09), no parque Lustgarten, Ulrich Schreiber ouviu poesia árabe na companhia de mais de 500 pessoas. "Foi talvez o maior sarau de literatura árabe da Europa", comenta, declaradamente eufórico, o coordenador do Festival Internacional de Literatura de Berlim. Assim como ele, muitos frequentadores do evento se deleitam com a experiência da literatura "ao vivo".

Longe vai o tempo em que para o prazer literário bastava comprar um livro. A Alemanha se tornou o país dos festivais de literatura. Só nesta nona edição do de Berlim, estão previstos 300 eventos. Schreiber espera neste ano mais de 35 mil visitantes, um recorde. Simultaneamente, outro grupo de escritores ocupa o palco do Festival Habourfront de Hamburgo.

De volta à tradição oral

Qualquer cidade que se preze transforma livros e autores num acontecimento. Os visitantes não se importam de sentar durante horas em cadeiras desconfortáveis, na noite morna de verão, para escutar uma voz no alto-falante. Mesmo quando o público não entende nada – já que os autores costumam ler em seu próprio idioma –,é uma experiência extraordinária ouvir os textos no "superoriginal", por assim dizer: na voz daquele que os inventou.

Regina Dyck dirige um dos mais antigos festivais de literatura da Alemanha, o Poetry on the Road, de Bremen. "O contato com o autor dá uma sensualidade à experiência literária, algo de que um livro, sozinho, não é capaz", esclarece. "Talvez seja também uma reminiscência aos tempos anteriores ao livro impresso, quando as histórias eram transportadas apenas pela voz do autor." Uma regressão à época de Homero ou de Walther von der Vogelweide?

Suados, extrovertidos, cinzentos

Christina FörnerFoto: DW

A especialista em literatura Christina Förner também considera o contato com os autores fundamental para o sucesso do festival. "O autor geralmente desaparece atrás de suas obras, ele é o grande segredo que o espectador de uma leitura pensa descobrir." Os escritores se sentam no palco, por vezes tímidos, por outras extrovertidos, suando, gaguejando, ou cinzentos e sem graça, e se colocam nas mãos do público. "Muitas vezes fica mesmo bem claro que a prática da literatura não é uma espécie de ato de criação divina, mas sim trabalho duríssimo", diz a berlinense.

É isso que as pessoas querem ver. Algumas vezes as leituras se tornam um espetáculo. O escritor Rainald Goetz celebrou esse potencial ao extremo, ao se apresentar no Concurso Ingeborg Bachmann de Klagenfurt, em 1983. Durante sua leitura, puxou uma gilete no palco e se cortou na testa. Muito populares também são as leituras de Harry Rowohlt, que ele mesmo descreve "bebedeiras-espetáculo".

Gastronomia e diversão para as crianças

Cenas do festival em BerlimFoto: DW

A busca do contato com os autores tem longa tradição. Antigamente, era feita através de saraus literários reservados a círculos selecionados. Desde então, vêm se tornando uma experiência de massa – também impulsionada pelas editoras, que encorajam os autores às leituras.

Os festivais de literatura se transformam então em instrumento de marketing. "Uma maneira eficiente de veicular literatura", diz Schreiber. Atualmente, essa veiculação é oferecida também na forma de programa completo, indo desde a gastronomia até a animação para as crianças.

Mas nem todos os autores têm talento para a coisa – embora muitos se alegrem em poder discutir com os leitores o fruto de seu longo e muitas vezes doloroso trabalho, ressalta Christina Förner. Ela teme que os festivais de literatura acabem desviando a atenção do essencial. "Afinal, os livros não ficam melhores após a leitura em público", diz ela, "mas infelizmente já não basta mais saber escrever bem, é preciso divulgar o resultado de maneira efetiva".

Autor: Heiner Kiesel / Erika Andrade Brandão
Revisão: Augusto Valente

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque