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Festival apresenta instalações e filmes de Hélio Oiticica

15 de fevereiro de 2013

"Quasi-cinema" e duas instalações da série "Cosmococa" fazem parte da seção Forum Expanded. Discussões e a exibição de material raro de Oiticica complementam a exibição do documentário sobre o artista na Berlinale 2013.

Foto: Berlinale 2013

Fórum Internacional do Novo Cinema é o nome completo da seção Forum da Berlinale. Com uma seleção repleta de filmes experimentais, essa é a mostra que mais desafia o espectador, com produções que privilegiam um olhar diferenciado e analítico sobre temas como política e sociedade, mas também faz uma reflexão sobre o próprio cinema.

Em 2006 foi criada a Forum Expanded, para literalmente expandir a Forum. A seção dentro da mostra apresenta filmes, vídeos, instalações e performances com uma enorme variedade de temas em locações inesperadas, que levam além a discussão sobre arte e linguagem cinematográfica.

Acompanhando a exibição do documentário Hélio Oiticica, de Cesar Oiticica Filho, a Forum Expanded trouxe para Berlim material raro em Super-8 feito pelo artista, juntamente com um debate sobre sua obra audiovisual e duas instalações da série Cosmococa, que ele concebeu com o cineasta Neville d'Almeida, um dos mais importantes colaboradores de Oiticica. "Queríamos fazer algo que nunca tinha sido feito juntando filme e arte", disse o cineasta em Berlim.

Para César Oiticica Filho, seu documentário é uma maneira de manter vivas as ideias de seu tio. "Meu filme não tem a palavra 'fim', ele propõe o além-cinema, como se a obra transbordasse da tela e ganhasse vida, assim, quem quiser, pode continuar o Delirium Ambulatório e nunca mais parar, ir ver a Cosmococa, os filmes do Hélio, o debate", explicou.

"Quasi-Cinema"

Hélio Oiticica filma Neville d'Almeida em Nova York, onde os dois criaram o conceito da série "Cosmococa"Foto: Berlinale 2013

Hélio Oiticica tinha uma relação vanguardista com o cinema e as experiências cinematográficas. Ele utilizou o termo Quasi-cinema para se referir a seus experimentos com filme e projeções, que se desenvolveram nas instalações Cosmococa.

Para o artista, o cinema tinha que ser algo fluido, natural e sem se prender a formalismos e armadilhas de edição. Por sua facilidade, custo e mobilidade, a utilização do Super-8 era parte fundamental, porém não restrita do Quasi-cinema. Alguns desses filmes e experimentos em Super-8 foram exibidos durante um painel de discussão sobre a obra de Oiticica que contava com Neville d'Almeida, Oiticica filho e especialistas, alemães e brasileiros.

Um dos filmes mostrados foi Alô Hélio, uma espécie carta de d'Almeida para Oiticica, exilado em Nova York, dizendo que amava o amigo e estava com saudade. "O filme foi feito há 40 anos. Acho incrível que, hoje, todo mundo pode fazer um filme com o seu celular e, imediatamente, mandar para os amigos. Na época, usando Super-8, era um pouco mais complicado, mas antecipamos algo que hoje é comum", afirmou d'Almeida.

O material não editado de Super-8 mostra imagens inéditas do encontro dos dois na cidade em 1973, onde criaram o conceito da Cosmococa, além de filmes caseiros onde o artista expõe sua intimidade sexual. Durante a discussão, ainda foram exibidos o não terminado Brasil Jorge e Agripina é Roma – Manhattan, considerado o único curta realizado por Oiticica.

Carnaval na piscina e cocaína no museu

"CC6 Coke Head's Soup" é uma colaboração com o fotógrafo Andreas ValentinFoto: Berlinale 2013

A fria noite da terça-feira de carnaval não poderia ter sido mais animada em Berlim, com a apresentação de Block-Experiments in Cosmococa – program in progress: CC4 Nocagions no Liquidrom, um spa urbano com uma das piscinas com o visual mais instigante de Berlim. A obra é baseada no trabalho do músico John Cage.

A série Cosmococa foi criada em Nova York, em 1973, por Oiticica e d'Almeida e consiste em nove instalações multimídia, onde slides são projetados em ambientes específicos, acompanhados por trilha sonora.

As fotografias projetadas foram feitas em sequência, utilizando apenas um rolo de filme de 35mm, que se encaixa no conceito do Quasi-cinema. As imagens mostram capas de discos e livros sobrepostas com desenhos feitos com linhas de cocaína, o que dá nome à série.

As instalações querem transcender o uso de múltiplas mídias e criar ambientes onde os participantes – nunca considerados meros espectadores –, exploram seus próprios movimentos e percepção do tempo e espaço, também abrindo espaço para a interação, não só com a obra, mas entre os participantes.

Entre 1973 e 1974, Oiticica expandiu o conceito de Cosmococa com uma série de colaborações. Uma das poucas instalações desse período que foi concluída foi CC6 Coke Head's Soup, colaboração com o amigo e fotógrafo Andreas Valentin. A obra, que está em cartaz no Hamburger Bahnhof, é uma homenagem deliberada ao álbum Goat Head Soup (1973), dos Rolling Stones.

"Acho a Berlinale o festival de cinema mais importante do mundo, justamente por chegar a essas vertentes que, creio, serão o próximo passo do cinema. Num futuro bem próximo, tudo será imagem flutuante", concluiu Oiticica Filho, que deve continuar com a série Cosmococa em 2013, ao lado de Neville d'Almeida.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França

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