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Beethovenfest 2010

11 de outubro de 2010

Grimaud, Järvi, King's Singers, Labèque, Marriner, Meneses, Mintz, Nagano... a lista de grandes nomes do Beethovenfest parece não ter fim. Com 86% dos ingressos vendidos, foi um sucesso de público. 2011 será ano Liszt.

Festival lotou várias vezes a BeethovenhalleFoto: Sonja Werner

O festival Beethovenfest de Bonn foi encerrado no sábado (09/10), na sala Beethovenhalle, com um aclamado concerto da orquestra Academy of St. Martin in the Fields sob o maestro Neville Marriner, seu titular há décadas. De um lado, portanto, a longa experiência; do outro, a renovação da música clássica, na figura da solista da noite, a violinista Veronika Eberle, de 20 anos de idade.

Slogan aberto

Pianistas Katia e Marielle LabèqueFoto: Brigitte Lacombe

Com 67 concertos, 45 dos quais com lotação esgotada, o Beethovenfest 2010 teve 86% de suas entradas vendidas. Além disso, os programas paralelos incluíram 83 eventos. O número total de espectadores foi de 70 mil, aproximadamente.

Como não poderia deixar de ser, o festival na cidade natal de Ludwig van Beethoven apresentou muita música de seu homenageado. Porém desta vez não houve, como nos anos anteriores, um ciclo completo das sinfonias, sonatas para piano ou de outros gêneros.

Em compensação, seu mote pouco concreto deu margem a numerosas interpretações: "A céu aberto – Utopias e liberdade na música" foi um convite ao público para abrir-se ao novo, por exemplo, a estreias mundiais ou a obras pouco conhecidas.

Possibilidades e realização

Muito viajada e solicitada, a meio-soprano austríaca Angelika Kirchschlager conhece o potencial que um festival tem, e confirma que este se concretizou em Bonn.

"Quando um festival consegue se estabelecer, pode ir incrivelmente longe com o público que criou. É possível também confrontá-lo com coisas musicais que ele jamais escutaria, no dia-a-dia normal de concertos de uma cidade. Mas o público vai junto, pois confia no valor daquilo que o festival oferece."

"Música inspirada pela matemática" não soa uma categoria muito convidativa. E, no entanto, a sala de concertos Beethovenhalle esteve lotada no dia 25 de setembro, com um programa dedicado a Iannis Xenakis, datando da década de 1960. Arquiteto e matemático, esse compositor grego criou verdadeiros estudos musicais sobre caos e ordem.

Protagonistas da noite foram o austríaco Martin Grubinger e outros seis percussionistas. A atmosfera era como num evento cult, o volume sonoro mais alto do que num concerto de rock, e grande parte do público era formada por jovens.

Percussionista Martin GrubingerFoto: picture-alliance / APA/NEUMAYR,MMV

Bem mais acessível foi o show do violinista britânico Daniel Hope, num galpão de metrô no subúrbio de Bonn e acompanhado por uma banda de rock. Sua intenção foi mostrar que os compositores barrocos muito tinham em comum com os atuais astros do rock. O projeto BA-ROCK resultou um tanto forçado, porém agradou a seu público.

Carreño e Heliópolis: utopias concretas

Orquestra Teresa CarreñoFoto: Nohely Oliveros

O conceito de "utopia musical" pode significar tudo e nada. Ele tornou-se palpável, contudo, na forma de duas orquestras jovens que se apresentaram no festival, ambas da América Latina, ambas produto de sistemas educacionais com amplas implicações sociais.

Tanto a Sinfónica Juvenil Teresa Carreño, da Venezuela, quanto a brasileira Sinfônica Heliópolis nasceram da – bem-sucedida – tentativa de integrar crianças de favelas na estrutura social de uma orquestra. Porém qualquer eventual sentimento de beneficência ou de compaixão caiu por terra diante das performances propriamente ditas.

Sinfônica Heliópolis: de Mozart a sambaFoto: Danetzki & Weidner

No dia 28 de setembro, os 180 jovens venezuelanos não só provaram ser um conjunto de nível internacional, como ofereceram uma empolgante, entusiástica e distintiva interpretação da tão batida Quinta sinfonia de Beethoven, a "do Destino".

Os programas da orquestra de São Paulo, em 4 e 6 de outubro, na Beethovenhalle, incluíram, além do "dono" do festival, música de Heitor Villa-Lobos, Tchaikovsky, Schubert e Mozart, assim como a estreia mundial de uma abertura de André Mehmari – além de alguns extras em ritmo de samba. Regidos por Roberto Tibiriçá e Peter Gülke, e em sua primeira turnê fora do Brasil, os 75 músicos não deixaram dúvidas: seu caminho está aberto para os palcos internacionais.

Passado e futuro

O alto nível do Beethovenfest também é documentado por importantes premiações a seus participantes. A orquestra Deutsche Kammerphilharmonie Bremen recebeu em 11 de setembro o Prêmio da Crítica Fonográfica Alemã. No dia seguinte, o regente norte-americano Kent Nagano foi laureado com o Prêmio Wilhelm Furtwängler, que desde 2008 é entregue durante o evento em Bonn.

Maestro Kent NaganoFoto: Nicolas Ruel

Contudo, para Nagano, o ranque do festival não é mensurável apenas pelo status estelar de seus artistas, como comentou em entrevista à Deutsche Welle:

"Os desdobramentos, sobretudo dos últimos quatro ou cinco anos, conferiram ao festival uma presença crescente. Artistas importantes sempre se apresentaram nele, até onde me lembro. Mas agora tem-se a impressão que ele olha tanto para a frente quanto para o passado. Aqui há novas iniciativas e jovens músicos que revolucionam com suas conquistas. Isso coloca seu futuro sob excelentes auspícios. Espero que ele cresça ainda mais!"

2011: Ano Liszt

A tradição do Festival Beethoven de Bonn se remete ao ano de 1845, quando o compositor húngaro Franz Liszt promoveu uma festividade musical de três dias, por ocasião do 75º aniversário do grande músico. O próximo Beethovenfest transcorrerá de 9 de setembro a 9 de outubro 2011, no bicentenário de nascimento de Liszt. E promete ser mais um festival espetacular!

Autoria: Rick Fulker / Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer

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