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Festival da democracia lembra fim da guerra

Geraldo Hoffmann7 de maio de 2005

Comemoração dos 60 anos do fim da II Guerra Mundial na Europa inclui cultos religiosos, concertos, solenidades políticas e paradas militares. Viagem de Bush aos países bálticos gera irritações em Moscou.

Festa popular pela liberdade no Portão de BrandemburgoFoto: AP

A Alemanha abriu neste sábado (07/05), com um "festival da democracia" ao redor do Portão de Brandemburgo, as comemorações dos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. No final desta e início da próxima semana, a vitória sobre o nazismo é lembrada em vários países europeus, com concertos, cultos ecumênicos, solenidades políticas e paradas militares.

Em Berlim, partidos políticos democráticos, Igrejas, sindicatos e movimentos sociais uniram-se sob o slogan "Dia da Democracia – 8 de maio de 1945 – 8 de maio de 2005" para se opor ao fortalecimento da extrema direita no país. Com exposições, estandes informativos e concertos nas proximidades do Portão de Brandemburgo, eles tentam impedir o acesso de neonazistas ao monumento aos judeus europeus mortos na guerra, que será inaugurado na terça-feira (10/05).

Na sexta-feira (06/05), o Tribunal Federal Constitucional proibiu o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), de extrema direita, de realizar uma passeata que passaria perto do monumento e terminaria em frente ao Portão de Brandemburgo. O NPD promete sair às ruas com três mil adeptos para pedir "o fim do culto à culpa" após "60 anos de mentira". Há o temor de que ocorram confrontos violentos entre neonazistas e extremistas de esquerda.

Capitulação

Quadro lembra assinatura da capitulação alemã em Reims, em 7 de maio de 1945Foto: AP

No dia 7 de maio de 1945, militares alemães assinaram a capitulação incondicional diante dos aliados, em Reims, na França, onde o fato foi lembrado neste sábado (07/05) pela ministra da Defesa Michèle Alliot Marie e veteranos franceses.

Como a rendição só divulgada oficialmente no dia 8 de maio, esta é a data em que os alemães comemoram fim da guerra. Ao meio-dia deste domingo (08/05), os principais líderes políticos do país participam de um culto ecumênico na catedral católica de Santo Hedwig. Em seguida, depositam coroas de flores em memória das vítimas da guerra e da tirania, na Neue Wache, no centro de Berlim.

Presidente alemão Horst KöhlerFoto: AP

O presidente alemão Horst Köhler profere o principal discurso do dia no Parlamento alemão, com transmissão ao vivo para telões instalados no Portão de Brandemburgo. No final da tarde, a Filarmônica de Berlim vai tocar o "War Réquiem", composto por Benjamin Britten, que teve sua estréia em 1962, na reinauguração da Catedral de Conventry, destruída pelos alemães na Batalha da Grã-Bretanha.

Comemorações na Europa

No domingo, o presidente francês Jacques Chirac prestigia a tradicional parada militar na avenida Champs-Elysees, enquanto o príncipe Charles e sua nova esposa Camilla presidem a cerimônia principal em Londres, seguida de um desfile de veteranos e um concerto de música pop, à noite, no Trafalgar Square.

O presidente norte-americano George W. Bush, em viagem à Europa, participa de uma cerimônia neste domingo num cemitério militar em Margraten, próximo a Maastricht (Holanda), em que deve traçar um paralelo entre a luta contra o totalitarismo há 60 anos e o combate ao terrorismo hoje. Mais de mil pessoas protestaram na noite deste sábado em Amsterdã (capital holandesa) contra a visita do presidente americano ao país. Em função da visita de Bush próximo à fronteira alemã, parte do espaço aéreo da Renânia do Norte-Vestfália foi interditado para vôos particulares.

Na segunda-feira (09/05), o chanceler federal alemão Gerhard Schröder participa ao lado Bush e outros estadistas das cerimônias oficiais da Rússia pelos 60 anos do fim da guerra em Moscou.

Irritações em Moscou

Bush (2º da direita), com os presidentes dos países bálticos – da esquerda para a direita: Arnold Ruutel (Estônia), Valdas Adamkus (Lituânia) e Vaira Vike-Freiberga (Letônia)Foto: AP

O roteiro de Bush pela Europa (Letônia, Holanda, Rússia e Geórgia) está sendo marcado por divergências de opinião com o presidente russo Vladimir Putin. Após encontro com os presidentes da Estônia, Arnold Ruutel, e da Letônia, Vaira Vike-Freiberga, e o primeiro-ministro lituano, Algirdas Brazaukas, neste sábado, em Riga, Bush disse que "o fim da Segunda Guerra Mundial trouxe ocupação e repressão comunista aos Estados bálticos". Ele condenou a ocupação soviética que sucedeu a vitória sobre Hitler e elogiou a onda de democratização no Leste Europeu após a derrocada da União Soviética, caracterizando-a como "vitória do bem sobre o mal".

Putin defendeu as tropas soviéticas da acusação de ocupação dos países bálticos. "Nosso povo não só defendeu seu próprio território e, sim, libertou onze Estados europeus", disse à agência de notícias Interfax. "O mundo nunca viu tanto heroísmo", acrescentou.

Em entrevista à rede de televisão norte-americana CBS, Putin sugeriu aos EUA que superem déficits democráticos no próprio país – como a eleição indireta para presidente – antes de criticarem o mesmo em outras nações. A visita de Bush aos países bálticos irrita Putin, principalmente depois que os presidentes da Estônia e Lituânia rejeitaram o convite para participar da cerimônia pelo fim da guerra em Moscou. Durante a guerra fria, a Letônia, Estônia e Lituânia pertenciam à URSS, mas tornaram-se novamente independentes em 1991 e hoje integram a Otan e a União Européia (UE).

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