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Curtas

Soraia Vilela14 de fevereiro de 2009

Muita explicação em off, reflexões exaustivas e pouco humor. Os 13 curtas de cineastas em atividade na Alemanha tentam decifrar os problemas do país: do fantasma da vigilância às heranças do nazismo e do terrorismo.

'Deutschland 09': curtas de difícil digestão para quem desconhece a sociedade alemãFoto: Internationale Filmfestspiele Berlin

A idéia original de Deutschland 09 – 13 Kurzfilme zur Lage der Nation (Alemanha 09 – 13 Curtas sobre o estado da nação) era a de reunir diretores conceituados no país. Cada um deveria assumir um curta-metragem que radiografasse "o espírito" da Alemanha em 2009: mais de cinco décadas após o fim da Segunda Guerra e 20 anos depois da queda do Muro de Berlim.

Ficção, documentário, ensaio ou experimental: cada diretor pôde optar pelo formato que quis. O resultado são 140 minutos de filme sobre a Alemanha de hoje. A organização do festival de Berlim teve, contudo, a perspicácia de escolher dias especiais para a exibição desse "longa composto de curtas", tendo empurrado os mesmos para o fim do festival, ou seja, para que fosse mostrado a um público essencialmente local e não necessariamente estrangeiro.

Afinal, as referências à política ou ao cotidiano alemães são tamanhas, que muitos dos curtas podem se tornar, na melhor das hipóteses, incompreensíveis para um espectador que desconheça os detalhes da sociedade alemã. Isso para não dizer que os filmes sejam até mesmo insuportáveis para quem só conhece o país de fora.

Explicações exaustivas

Tom Tykwer, um dos idealizadores do projeto coletivoFoto: AP

Além da presença de um excesso de offs explicativos em grande parte dos filmes, o que mais salta aos olhos é a falta absoluta de humor em quase todos os curtas, com exceção de Joshua, dirigido por Dani Levi (suíço radicado em Berlim), que leva a platéia às gargalhadas. Todos os outros filmes são densos e permeados por uma reflexão excessiva, mesmo quando o formato é experimental e o uso de palavras, contido.

Os assuntos discutidos são variados, desde a vigilância aleatória levada a cabo pelo Estado em Gefährder (Ameaçador), de Hans Weingartner, até um acerto de contas fictício de uma berlinense de 16 anos com Susan Sontag e Ulrike Meinhof (líder da organização terrorista RAF).

A globalização que leva a uma homogeneização estéril do dia-a-dia é tema de Feierlich reist (Feierlich viaja), do próprio Tykwer, enquanto o abandono de regiões construídas às pressas no pós-guerra e uma arquitetura em decadência são tratados por Dominik Graf em Der Weg, den wir nicht zusammen gehen (O caminho que não seguimos juntos).

Nada para a posteridade

Dani Levy: um dos poucos a usar o humorFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

É possível que grande parte desses 13 curtas já tenham sido esquecidos por completo no próximo festival de cinema de Berlim, dentro de um ano. O propósito do projeto coletivo de se inspirar em Deutschland im Herbst (Alemanha no Outono), em que diretores como Rainer Werner Fassbinder e Volker Schlöndorff refletiam, em 1978, sobre a situação da Alemanha em meio ao terrorismo de esquerda, talvez seja um certo exagero. Pois não é muito provável que o espectador do ano de 2039, daqui a 30 anos, tenha interesse em rever esses 13 curtas sobre o estado da nação alemã.

Se algum deles "sobreviver", talvez seja menos Der Name Murat Kurnaz (O Nome Murat Kurnaz), de Fatih Akin, encenação da única entrevista concedida pelo ex-prisioneiro de Guantánamo (nascido em Bremen, de nacionalidade turca) a um jornal alemão, mas sim Ramses, de Romuald Karmakar.

No documentário, o dono de um bordel revela o comportamento sexual dos clientes de seu estabelecimento e fala da origem estrangeira das prostitutas que emprega. Além de lamentar a saudade de seu país de origem, o Irã. Ao contrário dos outros curtas, aqui o espectador se vê confrontado com um mínimo de autenticidade, entrevendo, nem que seja pela fresta da porta dos fundos, o real "estado da nação".

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