Brasil e Alemanha de volta à competição em Cannes 2016
Jochen Kürten / Augusto Valente11 de maio de 2016
Diversidade no júri, seleção oficial e mostras paralelas marcam a 69ª edição do festival internacional de cinema. Após anos de vacas magras, Brasil concorre com "Aquarius", e Alemanha, com "Toni Erdmann".
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Os olhos do mundo cinematográfico estarão mais uma vez concentrados numa cidadezinha do sul da França na noite desta quarta-feira (11/05), quando se inicia o 69º Festival Internacional de Cannes. Por 12 dias, toda o setor se acotovela ao longo litoral do Mediterrâneo: de starlets a grandes astros, de poderosos produtores a sensíveis personalidades artísticas.
A seleção oficial traz grandes expectativas, reunindo figuras do porte de Pedro Almodóvar (Julieta), Xavier Dolan (Juste la fin du monde), Jim Jarmush (Paterson), Ken Loach (Moi, Daniel Blake), Park Chan-Wook (Agassi) e Sean Penn (The last face).
Jogando em casa, nada menos do que quatro produções francesas concorrem à Palma de Ouro, assim como duas romenas (Bacalaureat e Sieranevada) e uma iraniana (Forushande, do vencedor do Oscar Asghar Farhadi).
Brasil e Alemanha de volta à competição
Depois de uma pausa de oito anos, o Brasil volta a marcar presença na mostra competitiva. Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, é estrelado por Sônia Braga, que interpreta uma viúva que vive cercada de discos e livros e tem o tom de viajar no tempo. Um papel que a atriz veterana revela ter encarado com entusiasmo: "Quis logo viver esta mulher: as palavras do roteiro pareciam que já tinham andado na minha boca."
O cinema alemão também enfrentou longos anos de vacas magras até ser incluído na atual seleção oficial. A jovem diretora Maren Ade mostra Toni Erdmann, um drama de reencontro entre pai e filha, tendo como protagonistas Sandra Hüller e Peter Simonischek. Ao anunciar a escolha, o diretor do festival, Thierry Frémaux, se disse feliz por poder saudar uma nova geração da Alemanha, depois da "equipe de sonhos em torno de Herzog, Schlöndorff e Wenders".
Além disso, há três coproduções com participação alemã na mostra competitiva deste ano: Ma loute, de Bruno Dumont, e Personal shopper, de Olivier Assayas, ambos franceses, e Elle, do holandês Paul Verhoeven.
Sob o rótulo New German Films, 23 novas produções se apresentam ao mercado global do cinema em Cannes. E o German Pavilion, na disputada Promenade de la Croisette, será ponto de encontro para a cena cinematográfica nacional e internacional.
Alto coeficiente estelar
Presidido pelo cineasta australiano George Miller (Mad Max), o júri de Cannes deste ano é bastante internacional, incluindo as atrizes e atores Kirsten Dunst, Mads Mikkelsen, Vanessa Paradis e Donald Sutherland, e os diretores László Nemes e Arnaud Desplechin. A entrega dos prêmios será em 22 de maio.
Faz parte do ritual de Cannes os diretores concorrentes serem convidados para divulgar suas obras, em geral acompanhados por um séquito de colaboradores, onde o lugar de honra cabe aos astros do elenco. Em 2016, Charlize Theron, Isabelle Huppert, Russel Crowe, Javier Bardém, Kristen Stewart e Vincent Cassel brilham entre os mais paparicados pela imprensa.
Outro atrativo são as sessões hors-concours de novas produções de cineastas consagrados. Ninguém menos do que Steven Spielberg apresenta, com O Bom Gigante Amigo, dirigido ao público infanto-juvenil e baseado no livro homônimo de Roald Dahl. E a atriz Jodie Foster vem com seu quarto trabalho de direção, o thriller Jogo do dinheiro, estrelado por George Clooney e Julia Roberts.
Um olho na política mundial
No entanto, Cannes é mais do que VIPs, competições e exibição de Palmas. Nas mostras – paralelas, mas nem por isso menos famosas – Un Certain Regard e La Quinzaine des Réalisateurs, não é o peso da fama que conta, mas sim jovens talentos e descobertas.
Selecionado entre mais de 5 mil inscrições, um outro brasileiro disputa a Palma no Cannes Court Métrage. A moça que dançou com o diabo é inspirado na lenda urbana sobre uma jovem religiosa que dança com um forasteiro na noite da Sexta-Feira da Paixão. O curta custou apenas 500 reais, arrecadados através de rifas. Seu diretor, João Paulo Miranda, já participara em 2015 do festival francês, na seção Semaine de la Critique.
Apesar de não ter um perfil eminentemente político como a Berlinale, Cannes tampouco fica completamente à margem dos temas mais atuais e explosivos. Oscar de melhor documentário em 2015 com Citizenfour, sobre o whistleblower Edward Snowden, a diretora americana Laura Poitras apresenta seu mais recente trabalho, Risk, sobre Julian Assange, na seção Directors.
O sírio Maan Mouslli estreia o documentário de curta-metragem Shakespeare in Zaatari, sobre crianças no maior campo de refugiados da Jordânia. Hoje com 29 anos, o próprio cineasta chegou à Alemanha em 2013 como refugiado e reside em Osnabrück. A seção Short Film Corner conta também com duas contribuições do Brasil: o documentário Deixa a chuva cair, de Juscelino Ribeiro, e o curta-metragem Luz clara, de Alexandre Melo.
Cortejando a tradição
No entanto o festival que abre sua 69º edição com Café Society, a mais nova película de Woody Allen, não se esquece de pagar tributo às grandes personalidades da sétima arte. Em Cannes Classics, o diretor Bertrand Tavernier, que acaba de completar 75 anos, mostra sua homenagem ao cinema nacional, Voyage à travers le cinéma français, em estreia mundial.
Nos anos 70, William Friedkin escreveu história em Hollywood com fenômenos de público e crítica como Operação França e O exorcista. Em 2013, o cineasta nascido em 1935 foi homenageado pelo conjunto de sua obra no Festival de Veneza. Em Cannes ele partilha sua vasta experiência numa Cinema Masterclass, evento que já enfocou Martin Scorsese, Nanni Moretti, Wong Kar-wai e Quentin Tarantino, entre outros.
Nomes honoráveis como Milos Forman, Jean-Luc Godard, Kenji Mizoguchi e Andrei Tarkovsky estão entre os destaques de Restored Prints, que também integra a Cannes Classics. A série é dedicada a versões digitalmente restauradas de obras primas da tradição cinematográfica mundial.
66° Festival de Cinema de Berlim
"O direito à felicidade" é o lema da Berlinale em 2016. Com a promessa de lançar olhar sobre sentimentos humanos, evento inclui temática da crise de refugiados, remake de "O Diário de Anne Frank" e filmes brasileiros.
Foto: picture-alliance/dpa/M.Kappeler
Boas escolhas
O sucesso de um grande festival depende dos organizadores e das escolhas dos filmes. Dieter Kosslick, diretor da Berlinale desde 2001, sabe tanto espalhar bom humor quanto apresentar filmes que mostram o lado obscuro da vida. A temática dos refugiados ganha destaque no 66° Festival de Cinema de Berlim, realizado entre 11 e 21 de fevereiro na capital alemã.
Foto: Getty Images/AFP/O. Andersen
Sobre refugiados
O lema da 66ª Berlinale, "o direito à felicidade", pode ter muitas interpretações. Mas, naturalmente, o Festival aborda o principal tema da atualidade: a crise de refugiados. O documentário italiano "Fuocoammare" foca na ilha mediterrânea de Lampedusa para abordar o direito à felicidade, tanto dos moradores quanto dos refugiados que ali desembarcam. O filme concorre na competição oficial.
Foto: Berlinale
A felicidade das estrelas
Grandes festivais como a Berlinale são sempre medidos pelo número de estrelas internacionais em seus tapetes vermelhos. Neste ano, entre outros, está sendo esperada a atriz francesa Isabelle Huppert. No filme "L'avenir", que também concorre na competição oficial, ela faz o papel de uma professora à procura da própria felicidade.
Foto: L' avenir/Mia Hansen-Løve
Presenças hollywoodianas
Quando as estrelas de Hollywood chegam à Berlinale, não devem faltar gritos de fãs. E isso já no filme de abertura do festival: "Ave, César!". Dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, ele os bastidores da indústria do cinema. Scarlett Johansson, George Clooney e Josh Brolin (foto) dão um brilho hollywoodiano à película.
Foto: Universal Pictures
Olhar afro-americano
O novo filme do diretor americano Spike Lee é aguardado com ansiedade. Recentemente, ele esteve à frente do movimento de boicote ao Oscar, devido à nomeação somente de atrizes e atores brancos para concorrer ao prêmio. Sua nova obra, "Chi-Raq", aborda a cena do hip hop e do rap em Chicago.
Foto: Parrish Lewis
Irã, país do cinema
O Festival de Cinema de Berlim sempre foi marcado pelo interesse em produções de países para além da Europa e de Hollywood. Filmes iranianos são presença regular na Berlinale. Em 2016, participa da competição oficial "Ejhdeha Vared Mishavad!" ("A chegada de um dragão!"), do diretor Mani Haghighi. O filme lança um olhar sobre o Irã dos anos 1960.
Foto: Abbas Kosari
Presidência de Meryl Streep
Nos próximos dias, a renomada atriz hollywoodiana deverá ser presença constante nos tapetes vermelhos: Meryl Streep preside o júri da Berlinale em 2016. Ela e outros seis jurados vão decidir sobre os Ursos de Ouro e Prata. Streep sempre foi bem-vinda na Berlinale. Na foto, ela acena para a multidão em 2012.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Panorama brasileiro
Além da competição oficial da Berlinale, a seção Panorama traz filmes independentes e cinema de autor. Neste ano, o Brasil está representado logo com três filmes na inovadora mostra: "Mãe só há uma" (foto), de Anna Muylaert, diretora do premiado "Que horas ela volta?"; "Antes o tempo não acabava", dos cineastas Sérgio Andrade e Fábio Baldo e o documentário "Curumim", de Marcos Prado.
Foto: Berlinale
Novo Cinema
O Brasil também tem filmes selecionados para a mostra Forum, dedicada a filmes de vanguarda e experimentais. Nesta seção, o país é representado por "Muito Romântico", de Melissa Dullius e Gustavo Jahn; "Ruína" (foto), de Gabraz Sanna, e ainda pela exposição "A Mina dos Vagalumes", de Raphäel Grisey.
Foto: Gabraz Sanna
Curtas-metragens
O cinema brasileiro também tem chances de ganhar prêmios na Berlinale Shorts, categoria de curtas-metragem do festival. O documentário "Das águas que passam", de Diego Zon, foi selecionado para a competição. O filme retrata o pescador Zé de Sabino. A produção foi gravada na foz do rio Doce em março de 2015, antes da tragédia ambiental que devastou a região.
Foto: Berlinale
Retrospectiva
A Berlinale também é famosa por suas retrospectivas cuidadosamente elaboradas da história do cinema. Neste ano, o tema é "Alemanha 1966 – perspectivas cinematográficas no leste e no oeste", ou seja, os cinemas das antigas Alemanha Ocidental e Oriental. Um dos filmes exibidos é "Der sanfte Lauf", com Bruno Ganz como protagonista (foto).
Foto: Deutsche Kinemathek/Haro Senft
Reprises com música
Outra boa tradição da Berlinale é a reprise anual de um clássico do cinema mudo. Esses filmes dos primeiros tempos da sétima arte são cuidadosamente restaurados, digitalizados e apresentados durante o Festival de Cinema de Berlim, acompanhados de uma grande orquestra numa atmosfera festiva. Neste ano, será mostrada a película do diretor Fritz Lang "A morte cansada" (1921).
Foto: Friedrich-Wilhelm-Murnau-Stiftung
Um americano em Berlim
O Festival oferece a produtores e distribuidores uma boa plataforma para a première de seus novos filmes. Portanto, fora das seções oficiais, também em 2016 podem ser vistos alguns destaques antes de suas apresentações nos cinemas, como o novo documentário de Michael Moore "Onde invadir agora?" (2015).
Foto: Dog Eat Dog Films
Diário de Anne Frank
O tão aguardado remake do "Diário de Anne Frank" vai celebrar a sua estreia mundial durante o Festival de Berlim, antes de chegar aos cinemas no início de março. O filme foi dirigido por Hans Steinbichler e conta com a participação dos atores Martina Gedeck e Ulrich Noethen. A jovem Lea van Acken impressiona no papel de Anne Frank.
Neste ano, somente uma produção meramente alemã concorre ao Urso de Ouro, o principal prêmio do Festival de Berlim. "24 Wochen" ("24 semanas"), filme de Anne Zohra Berrached, retrata a vida de uma jovem grávida que a criança tem síndrome de Down. Um filme sobre um golpe do destino e sobre como lidar com ele. No elenco, estão Julia Jentsch e Bjarne Mädel.
Foto: Friede Clausz
Berlinale: festival alemão
Apesar de só ter um representante nacional concorrendo ao Urso de Ouro, o 66° Festival de Cinema de Berlim aposta pesado no cinema doméstico. Serão exibidos 151 filmes da Alemanha ou com financiamento do país. Na seção Perspectiva do Cinema Alemão, pode ser visto, por exemplo, "Agonie", do diretor David Clay Diaz.