Festival de Cinema de Berlim deu destaque a filmes realistas em 2013
17 de fevereiro de 2013Mesmo com temperaturas abaixo de zero, durante a Berlinale, diretores de cinema, atores e atrizes, jornalistas, profissionais da área e o público invadem a região da praça Potsdamer Platz e a cidade é só cinema. Uma maratona de trabalho, negócios, diversão e muitos filmes.
Dramas pessoais e os desdobramentos da crise econômica foram temas fortes do festival deste ano. Filmes da Grécia, Espanha e Portugal destacaram os efeitos das dificuldades financeiras por que passam esses países.
A realidade pontuou a seleção, que mostrou diferentes facetas da imigração e de minorias na Europa, como a etnia roma em An Episode in the Life of an Iron Picker, de Danis Tanovic.
Fora de competição, o presidente do júri, Wong Kar Wai, abriu o festival com o seu mais ambicioso filme. The Grandmaster é de uma beleza indiscutível, mas ao tentar aprimorar o que já fez em filmes como Amor à flor da pele, o diretor acaba se autorreferenciando. De qualquer forma, as primorosas cenas de luta levam a sensibilidade do diretor a um público mais amplo.
Triunfo feminino
O vencedor do Urso de Ouro era um dos favoritos da competição. Child´s Pose, do romeno Calin Peter Netzer, é um filme forte e envolvente, que mostra não só as loucuras da relação entre mãe e filho, mas também um país que tenta se modernizar com valores de um passado cheio de sombras e corrupção. O grande destaque do filme é a eletrizante atuação de Luminiţa Gheorghiu.
O prêmio de melhor atriz foi para a chilena Paulínia Garcia. Gloria é uma pérola do cinema chileno, atualmente um dos mais promissores da América Latina. O filme encontra um balanço ideal entre a observação e a ação, ao mostrar de maneira dura, porém divertida, que apesar dos erros e das desilusões, sempre há motivos para seguir em frente.
Vale lembrar também a excelente atuação de Catherine Deneuve no irreverente e tocante filme On My Way, bem como a de Juliette Binoche no poético Camille Claudel 1915. Outro filme que merece menção foi In the Name of, da polonesa Małgoska Szumovska, que tratou de um tema delicado de maneira clara e direta, sem moralismo ou falsas associações. Assim como os outros filmes do Leste Europeu, o drama mostra uma sociedade que tem que lidar com o passado para achar seu lugar na Europa do presente. In the Name of ganhou o Prêmio Teddy, dedicado a filmes com temática gay.
Panorama: James Franco
Se neste ano não houve nenhuma celebridade que chamou a atenção da mídia como Angelina Jolie, em 2012, ou Madonna, em 2008, James Franco foi onipresente, com três filmes na seção Panorama. O ator tem uma carreira consolidada em blockbusters, mas também se aventura em filmes alternativos e projetos mais experimentais.
Maladies busca explorar a percepção de personagens excêntricos, para mostrar a crise de James (Franco). O filme acaba se tornando um delírio confuso e pretensioso. Assim, como o autoindulgente Interior. Leather Bar, que Franco dirigiu ao lado de Travis Mathews.
O ator ainda aparece em Lovelace. A história da primeira estrela do pornô é um bom filme, com um roteiro inteligente e uma surpreendente atuação de Amanda Seyfred. Outro destaque americano foi I Used to Be Darker, que fez parte da seção Forum. O filme é um drama sutil, que usa a música para falar sobre as escolhas da juventude, que refletem na vida madura.
Dois latino-americanos estreantes apresentaram filmes com bons argumentos. O cubano Carlos Machado Quintela mostra o cotidiano de quatro adolescentes em Havana em La Piscina. A argentina Barbara Sarasola-Day constrói um instigante drama em torno de um triangulo amoroso em Deshora. Dois nomes para ficar atento no futuro.
Brasil sensorial
A participação brasileira foi tímida neste ano. Você nunca disse eu te amo, de Bruno Barreto, não empolgou, apesar da boa atuação das atrizes. Já o público da Berlinale gostou da história de amor entre a poetisa norte-americana Elisabeth Bishop e a paisagista Lota de Macedo Soares.
O ponto alto para os brasileiros foi a extensa homenagem a Hélio Oiticica, com destaque para o documentário dirigido pelo sobrinho do artista Cesar Oiticica Filho. A apresentação da instalação Cosmococa numa das piscinas mais incríveis de Berlim foi uma bagunça divertida, que fez os brasileiros se sentir em casa.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque