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Veneza 75 anos

29 de agosto de 2007

O "coração dos festivais de filmes" revelou Bergman, Fellini e Kurosawa. E resistiu aos fascistas, aos protestos de 68, a Hollywood e à concorrência de Roma. Mas o tempo do "cinema de autor" parece que não volta mais.

Leões de ouro a postosFoto: AP

"Para o Oscar, o que conta é o dinheiro; em Veneza, os cineastas e atores", elogiou certa vez o ator norte-americano Sean Penn. E, no entanto, mesmo no Festival de Veneza já vai longe a grande era do cinema de autor e dos diretores independentes. Dos 22 concorrentes ao Leão de Ouro, nada menos do que nove provêm dos Estados Unidos, solidificando uma tendência dos últimos anos.

Em 6 de agosto último, o mais antigo festival de cinema do mundo completou 75 anos. Suspenso entre 1968 e 1979, é a sua 64ª edição que se inicia nesta quarta-feira (29/08). Até 8 de setembro a cidade sobre as águas estará sob o signo do cinema.

No organismo dos festivais de cinema do mundo, Cannes é considerado a barriga: é lá que se fazem os negócios. Berlim é a cabeça, onde se apresentam as novas tendências.

Por sua vez, Veneza tem todo direito a ser visto como o coração, a alma do cinema de autor e da sétima arte propriamente dita. Isso se deve, em parte, à atmosfera da cidade. Mas também ao fato de ter sido lá que nasceu a idéia de se promover uma mostra de arte cinematográfica.

Vitrine para as Potências do Eixo

A magia da 'Pérola do Adriático'Foto: AP

O primeiro festival de filmes do mundo teve sua abertura há exatamente 75 anos, com Dr Jekyll e Mr. Hyde, de Rouben Mamoulian. A exibição se deu ao ar livre, no terraço do recém-construído Hotel Excelsior, na ilha balneária Lido.

Os festivais cinematográficos, e em especial o pioneiro do gênero, são, portanto, uma invenção dos hoteleiros. Isso se faz notar até hoje nos preços especiais das hospedagens durante a temporada do festival.

Porém o então chefe da Bienal de Veneza – a mostra de arte moderna nos giardini da cidade –, Conde Volpi, não era apenas um industrial abastado, mas também amigo de Benito Mussolini.

Logo os fascistas da Itália dominaram o festival, que por fim se tornou um evento fechado para as Potências do Eixo, Alemanha, Itália e Japão. Entre os premiados brilhava a "cineasta do Führer" Leni Riefenstahl, e, certa vez, até mesmo o filho do Duce, Vittorio Mussolini.

Fellini, Bergman e cia.

A reabertura do festival em 1947, no pátio interno do Palácio Ducal, conta até hoje como a mais gloriosa edição do evento. É nesse ano que também se criou o prêmio "Leone d'Oro", representando o leão alado, símbolo da cidade. Desde então, ele é uma das distinções mais cobiçadas do mundo do cinema, ao lado do Oscar e da Palma de Ouro de Cannes.

Iniciava-se a época áurea para o Festival Internacional de Cinema. Lá o mundo descobriria o japonês Akira Kurosawa e o sueco Ingmar Bergman. Os mestres italianos Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Federico Fellini também festejaram seus grandes sucessos em Veneza.

Os anos do cinema alemão

Em 1968 chegou finalmente a vez do Novo Cinema Alemão. Alexander Kluge foi premiado por Os artistas sob a cúpula do circo. Porém nesse mesmo ano o festival sucumbiu sob os protestos dos jovens cineastas, como também aconteceu em Berlim e Cannes.

Só que para Veneza a crise significou 11 anos de pausa. Em 1979, o recomeço, agora num mundo onde o número dos festivais de cinema chegava a 600. E mais uma vez a "Pérola do Adriático" descobriu o filme alemão.

Em 1981, Margarete von Trotta recebeu o prêmio máximo por seu Os anos de chumbo, no ano seguinte foi a vez de Wim Wenders, com sua crítica a Hollywood O estado das coisas. Este foi, contudo, o último Leão de Ouro para um filme alemão até hoje. Em 2007 o país nem mesmo participa da mostra competitiva.

Concorrência da capital

O Festival Internacional de Veneza teve 25 diretores em suas 64 edições e conseguiu se impor na luta cada vez mais acirrada por um lugar ao sol no panorama dos grandes eventos da indústria cinematográfica.

Somente em 2006 ele teve motivos para sentir-se seriamente ameaçado, com a criação de um imponente festival em Roma, realizado dois meses mais tarde. Porém até mesmo essa crise parece estar superada, após uma boa dose de polêmica jornalística. Os dois gigantes da cena italiana tentam conviver lado a lado, concentrando-se em pontos de interesse diferentes.

Indestrutível

Bernardo Bertolucci (e) durante as filmagens de 'O último tango em Paris'Foto: AP

Assim, a mostra internacional da sétima arte parece ser tão indestrutível como a própria (improvável) cidade à beira da Laguna. Prova disso, é a intenção de construir um novo Palazzo del Cinema, contando até mesmo com a promessa de apoio financeiro por parte do governo esquerdista de Roma.

Além do júri encabeçado pelo chinês Zhang Yimou (Herói), a festa promete brilhar este ano com uma longa lista de celebridades: desde os diretores Bernardo Bertolucci (a ser premiado pelo conjunto de sua obra), Brian de Palma, Peter Greenaway e Paul Haggis, até os atores Susan Sarandon, Cate Blanchett, Charlize Theron, Brad Pitt, George Clooney e Richard Gere.

O favorito para o Leão de Ouro de Melhor Filme em 2007? Com certeza, uma película de Hollywood. (js/av)

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