Festival de Veneza é criticado por "masculinidade tóxica"
Joachim Kürten ca
30 de agosto de 2018
Dos irmãos Coen a Mike Leigh, grande número de diretores homens participa do mais antigo festival de cinema do mundo. Responsável embarca na polêmica e diz que escolhe pela qualidade e não pelo sexo do cineasta.
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Apesar de todo o burburinho em torno da igualdade de gênero na esteira do movimento #metoo, a australiana Jennifer Kent é a única cineasta selecionada para a competição oficial do Festival Internacional de Cinema de Veneza. É o segundo ano consecutivo em que apenas uma mulher é destaque na seleção oficial do Festival de Veneza.
O diretor do festival, Alberto Barbera, disse que prefere se demitir a ceder à pressão por uma cota para mulheres depois que os festivais de Cannes, Toronto e Locarno se comprometeram com a igualdade de gênero. Barbera afirmou que escolhe filmes "segundo a qualidade e não pelo sexo do diretor".
"Desculpe, mas não acreditamos mais nessa justificativa", disse a Rede Europeia das Mulheres do Audiovisual, em carta aberta no início deste mês. "Quando Alberto Barbera ameaça se demitir, ele está perpetuando a ideia de que selecionar filmes de mulheres cineastas implica diminuir o padrão."
A revista Hollywood Reporter escreveu que a seleção refletia "a cultura italiana da masculinidade tóxica".
Embora Cannes tenha decidido parar de exibir as produções da Netflix, o Festival de Veneza vai no sentido oposto, apresentando três longas da gigante do streaming na corrida pelo Leão de Ouro: o novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen (EUA), intitulado A balada de Buster Scruggs, bem como películas dos diretores Paul Greengrass (Reino Unido) e Alfonso Cuarón (México).
O inacabado O outro lado do vento, último longa de Orson Welles, também vai estrear no festival, que prossegue até 8 de setembro. A Netflix adquiriu os direitos do material há alguns anos e deverá lançar o filme completo em novembro deste ano. A decisão de transformar a Netflix numa grande participante do festival deve ser um tema de discussão este ano.
O jovem diretor vencedor do Oscar Damien Chazelle (La La Land) abriu o festival nesta quarta-feira (29/08) com O primeiro homem, estrelado por Ryan Gosling e que conta a história do primeiro homem na lua, Neil Armstrong.
Além dos nomes mencionados anteriormente, a competição oficial conta com uma promissora lista de cineastas premiados, incluindo os diretores franceses Jacques Audiard e Olivier Assayas, o italiano Luca Guadagnino, o grego Yorgos Lanthimos, o húngaro László Nemes, o britânico Mike Leigh e o americano Julian Schnabel.
Dois filmes mexicanos e um argentino representam a América Latina na competição oficial do Festival de Veneza. Acusada, do diretor argentino Gonzalo Tobal, Roma, do mexicano Alfonso Cuarón, e Nuestro Tiempo, do também mexicano Carlos Reygadas, competirão com outros 18 filmes pelo prêmio máximo em Veneza.
Ao todo, 21 filmes disputam o Leão de Ouro. O júri do festival é presidido pelo diretor mexicano Guillermo del Toro, e o ator austro-alemão Christoph Waltz está entre os jurados.
Uma contribuição alemã também está na corrida pelos cobiçados Leões de Ouro e Prata. Never Look Away, de Florian Henckel von Donnersmarck – que também escreveu e dirigiu o premiado A vida dos outros –, estreia no dia 4 de setembro. Seu novo filme é inspirado na infância e início de carreira do renomado pintor alemão Gerhard Richter.
De Lady Gaga a Emir Kusturica
Seções menores da programação também incluem grandes nomes. Nasce uma estrela, estreia de direção do ator Bradley Cooper, apresenta Lady Gaga no papel principal.
Novas obras do enfant terrible sérvio Emir Kusturica e do grande mestre chinês Zhang Yimou também serão apresentadas.
Grandes nomes do documentário também estão entre os destaques: Errol Morris vai estrear um filme sobre Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e figura controversa da mídia e da política, enquanto o mais recente trabalho de Frederick Wiseman lança um olhar sobre os EUA rural e seu papel na política do país.
O diretor alemão Alexander Kluge retorna ao Lido com seu primeiro longa-metragem em 32 anos, intitulado Happy Lamento. O cineasta ganhou o Leão de Ouro em 1968 por Artistas na cúpula do circo: perplexos.
Como um dos principais diretores do cinema alemão do pós-guerra, Kluge também poderia se encaixar na seção Venice Classics (Clássicos de Veneza), que mostra obras-primas da história do cinema.
Para o 75º aniversário do mais antigo festival de cinema do mundo, serão homenageadas obras-primas de Paul Wegener, Robert Siodmak, Alain Resnais e outros grandes nomes.
Dois vencedores do Leão de Ouro já ficaram conhecidos antes do início do festival. O prêmio pelo conjunto da obra (Lifetime Achievement Award) será entregue ao diretor canadense David Cronenberg e à atriz britânica Vanessa Redgrave.
A cerimônia de premiação será realizada no dia 8 de setembro.
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De clássicos como "King Kong" e "Oito e meio" ao sucesso recente de "Ave, César!", há quase um século o próprio processo de produzir filmes tem se provado tema fascinante para cineastas e público.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/UIP
"Cantando na chuva" (1952)
O famoso musical enfoca a Hollywood da década de 20, na transição do filme mudo para o sonoro, quando a súbita pressão para representar com a voz representou o ocaso para diversos astros e estrelas do cinema. As sequências cantadas e dançadas com Gene Kelly (foto), Debbie Reynolds e Donald O'Connor são um forte tributo ao gênero musical da época.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
"King Kong" – original e remakes
Com um macaco-monstro e efeitos especiais icônicos, a versão de 1933 de "King Kong" foi um marco da história do cinema. Seguiram-se várias refilmagens, destacando-se as de 1976, com Jessica Lange e Jeff Bridges, e 2005 (foto), dirigida por Peter Jackson. O misto de história de amor bestial e thriller acompanha uma equipe cinematográfica à Ilha da Caveira, onde se depara com o colossal gorila.
Foto: Presse
"Bancando o águia" (1924)
Essa comédia muda foi possivelmente a primeira produção a revelar aos espectadores os bastidores da indústria cinematográfica. Em sonho, o projecionista Buster assume o papel do detetive Sherlock Holmes, resolve um caso e conquista o amor da mocinha. De volta à realidade, ele imita seu herói cinematográfico. "Sherlock Jr." é considerada uma das obras mais importantes do americano Buster Keaton.
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"O artista" (2011)
Também em "O artista", dois atores se encontram na transição para o filme sonoro. Rodado em preto-e-branco, com entretítulos e diálogo esparso, ele é uma homenagem à era do cinema mudo e uma declaração de amor à sétima arte. A produção francesa recebeu cinco Oscars e três Globos de Ouro, entre vários outros prêmios.
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"Crepúsculo dos deuses" (1950)
Em seu drama, Billy Wilder conta a história do cineasta fracassado Joe Gillis (William Holden) e da ex-diva das telas Norma Desmond (Gloria Swanson). O resultado é um retrato impiedoso da assim chamada "fábrica dos sonhos" Hollywood. O diretor evitou o quanto pôde revelar a trama a seus produtores, para evitar que o fizessem abrandar o tom crítico de seu "Sunset Boulevard" (título original).
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"O desprezo" (1963)
Jean-Luc Godard também retratou a comercialização do cinema nessa produção ítalo-francesa. Brigitte Bardot representa a esposa do roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), cuja relação sucumbe à ganância e desconfiança, nas engrenagens da indústria cinematográfica hollywoodiana.
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"Ed Wood" (1994)
Em preto-e-branco, Tim Burton retratou aqui um outro cineasta americano. Ambicioso e profundo admirador do gênio Orson Welles, porém desprovido de talento e verba, Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp, dir. embaixo) produziu nos anos 50 uma série de filmes B com elementos de ficção científica e horror. Martin Landau recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel do ex-Drácula Bela Lugosi.
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"O estado das coisas" (1982)
Um diretor igualmente enfrenta dificuldades financeiras neste filme do alemão Wim Wenders. Filmando em locação em Portugal, Friedrich Munro (Patrick Bauchau) decide ir pessoalmente para Los Angeles, quando as verbas e o material fotográfico esperados não chegam. Wenders inseriu diversas alusões a outros filmes e cineastas, como Friedrich Murnau, Fritz Lang e Roger Corman.
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"Deu a louca nos astros" (2000)
Escrita e dirigida por David Mamet, a comédia "State and Main" acompanha um caótica produção cinematográfica. Chegando a Vermont para filmar "O velho moinho", a equipe constata que cidade não tem mais um moinho. Aí a atriz principal súbito exige um cachê muito mais alto, o roteirista sofre bloqueio criativo, o protagonista passa a flertar com uma adolescente local (Julia Stiles, na foto).
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"8 1/2" (1963)
Clássico do cinema de autor, "Oito e meio", de Federico Fellini, gira em torno do cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), em meio a uma crise existencial acompanhada de bloqueio criativo. Claudia Cardinale (foto) representa a inalcançável Mulher Ideal. Portador dois Oscars, o filme é considerado uma obra prima do cinema autorrreferencial.
Foto: picture-alliance/dpa
"Boogie Nights: Prazer sem limites" (1997)
A ascensão e queda do astro pornô Dirk Diggler (Mark Wahlberg, esq.), discípulo e "galinha dos ovos de ouro" do diretor Jack Horner (Burt Reynolds), é pretexto para o também roteirista Thomas Paul Anderson traçar uma crônica do cinema pornográfico americano no fim da década de 70, às vésperas do ocaso de uma época áurea.
Foto: picture alliance / United Archives
"Ave, César!" (2016)
A comédia de Ethan e Joel Coen celebra a Hollywood dos anos 50, período em que a indústria cinematográfica sente a ameaça da competição pela televisão. Ao desaparecer misteriosamente do set de filmagens de um épico romano, o ator em decadência Baird Whitlock (George Clooney) representa um problema para Eddie Mannix, um produtor disposto a empregar drásticos para sanar os problemas do estúdio.