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Alemanha-Brasil-África

22 de setembro de 2009

A quarta edição do Dockanema, Festival de Documentários de Moçambique, incluiu mostra especial de filmes do diretor brasileiro Eduardo Coutinho e exposição de fotos sobre o trabalho do cineasta alemão Werner Herzog.

'Cabra Marcado para Morrer', de Eduardo Coutinho (1964/1984)Foto: Eduardo Coutinho

Durante nove dias, Maputo sediou uma mostra de cinema, um fórum de debates, oficinas de formação e eventos paralelos dentro do Festival do Filme Documentário Dockanema. Com forte presença de profissionais brasileiros, o evento foi realizado em parceria com o ICMA (Instituto Cultural Moçambique-Alemanha).

"O gênero documentário aborda assuntos que contribuem para uma maneira distinta e comprometida de pensar a nossa sociedade. O Dockanema é um convite a 'pararmos' o mundo por um instante para pensarmos", diz Pedro Pimenta, o idealizador do festival criado em 2006 com o objetivo de fomentar a cultura visual em Moçambique.

Pela primeira vez, o Dockanema teve quatro ciclos em destaque: o cinema feminino africano, o cinema dos países africanos de língua portuguesa e as obras do angolano Ruy Duarte de Carvalho e do brasileiro Eduardo Coutinho.

"Mentiras verdadeiras"

O ciclo dedicado a Coutinho mostrou sua trajetória desde os anos 1960 até seus trabalhos mais recentes. Durante uma semana, foram exibidos em Maputo o antológico Cabra Marcado para Morrer, além de Edifício Master e Moscou, entre outros filmes do diretor.

A produtora e realizadora brasileira Beth Formaggini, curadora da mostra e colaboradora de longa data do diretor, falou em entrevista à Deutsche Welle sobre os limites entre o real e a ficção nos filmes de Coutinho.

"Essa é uma pergunta que permeia sua obra. No documentário, as pessoas se transformam em personagens, que se mostram para a câmera da maneira que gostariam de ser vistas. O chamado 'efeito câmera' acentua essa performance. O cinema de Coutinho explicita essa mediação e a negociação entre o autor e o protagonista frente à camera", diz ela.

"A dor exposta do artista"

Além de apresentar o trabalho de Coutinho, Formaggini exibiu no Dockanema Apartamento 608, filme de sua autoria centrado na crise pela qual Coutinho passou durante as filmagens de Edifício Master. Na função de produtora do documentário, Formaggini percebeu que aquele momento de crise existencial do diretor deveria também ser documentado. "Era o artista em crise diante de sua obra", lembra a realizadora.

Aproveitando a confiança e a proximidade do diretor, ela acompanhou Coutinho nos momentos de maior dúvida frente a seu projeto. O filme emocionou também o público, ao mostrar não só o desespero, mas também a alegria do diretor ao perceber que seu filme começava finalmente a tomar forma e a existir através dos seus personagens.

Herzog: "cinema físico"

Klaus Kinski em 'Fitzcarraldo', do alemão Werner HerzogFoto: Werner Herzog Film

Em parceria com o Instituto Goethe/ICMA (Instituto Cultural Moçambique-Alemanha), o festival promoveu ainda a exposição intitulada O cinema tem de ser físico sobre a obra do cineasta alemão Werner Herzog, com fotos de Beat Presser, que trabalhou com o diretor alemão como fotógrafo de still a partir de Fiztcarraldo.

A mostra, que destaca a produção dos filmes de Herzog na África e América do Sul, centrou-se na relação do diretor com a natureza e com seus atores, especialmente Klaus Kinski, além de expor trabalhos pouco conhecidos do cineasta como The Lost Western, um filme que Herzog fez com 16 anos, e também o clássico Werner Herzog eats his shoe, de 1980, dirigido por Les Blank.

Laboratório de imagens

A história do documentário em Moçambique é extensa, porém pouco conhecida. O Instituto Nacional do Cinema (INC), fundado em 1975, após a independência do país, exerceu um papel fundamental para o cinema local. Lá trabalharam diretores moçambicanos e estrangeiros, convidados a criar uma nova linguagem cinematográfica.

Favorecendo documentários à ficção, o INC se tornou um laboratório para revolucionários e idealistas. Entre os diretores que atuaram de diversas formas no instituto, também dando cursos de formação, estão Jean-Luc Godard, Jean Rouch e o brasileiro Ruy Guerra.

Entre 1975 e 1983, uma nova geração de graduados do INC realizou 70 documentários. Com a guerra civil e as dificuldades econômicas, o cinema moçambicano praticamente cessou sua produção. Um incêncio em 1991 foi o golpe final que selou o fim das atividades do instituto.

Identidade cultural

Hoje, o Dockanema atua na área de formação de realizadores, tendo promovido em sua versão de 2009, que se encerrou no último domingo (20/09), a Oficina Nomalab – um projeto realizado a partir de diversas parcerias internacionais e voltado para a formação, a longo prazo, de documentaristas no país. Além disso, o arquivo do INC, que corria o risco de se perder completamente, está em processo de restauração.

Pedro Pimenta vê no Dockanema um reinício para o cinema moçambicano. O festival surgiu para impulsionar a produção e exibição de documentários locais, contribuindo para a preservação da identidade cultural e para o resgate de referências passadas, a fim de que estas cheguem às gerações futuras. E também para o intercâmbio cinematográfico com outros países, entre estes o Brasil e a Alemanha.

Autora: Adriana Jacobsen

Revisão: Soraia Vilela

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