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Festival Move Berlim

15 de abril de 2011

Festival de dança contemporânea brasileira chega à sua quinta edição fugindo dos clichês sobre a identidade nacional e mostrando um país cheio de energia e politicamente engajado.

'Outdoor Corpo Machine' aposta em imagens midiáticas do corpo masculino
'Outdoor Corpo Machine' aposta em imagens midiáticas do corpo masculinoFoto: Nilmar Lage

Ousadia é a palavra que melhor descreve a quinta edição do Move Berlim, festival de dança contemporânea brasileira que ocorre a cada dois anos na capital alemã. Além de consolidar o intercâmbio cultural entre os dois países, a edição de 2011 do evento teve um caráter político, tanto em sua curadoria como em suas escolhas estéticas.

A boa notícia é que os grupos de dança presentes mostraram que o festival estava certo em suas escolhas. Os espetáculos, que podem ser vistos até este domingo (17/04), são ousados, jovens e cheios de energia, conseguindo ser extremamente brasileiros, regionais e, ao mesmo tempo, cosmopolitas.

De todos os cantos do Brasil

Buscar novas vozes e grupos fora do eixo Rio-São Paulo foi um dos objetivos da curadoria para essa edição do festival. Segundo os curadores Wagner Carvalho e Björn Dirk Schlüter, no nordeste brasileiro eles tiveram a oportunidade de entrar em contato com cenas de dança jovens e vigorosas, nas quais a autoconfiança exerce um papel fundamental na reflexão sobre si mesmo e sobre a cultura popular.

O melhor exemplo disso foi a escolha do espetáculo piauiense "Matadouro" para abrir o festival. Construído em cima da última parte do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha, o espetáculo relaciona o corpo com um campo de batalha, onde não há distinção entre o humano e o animal em cada um de nós.

Em 'A Cura', restrições físicas dos artistas criam uma linguagem própriaFoto: Brunno Martins

O que se vê na peça de Marcelo Evelin e o Núcleo do Dirceu é um desafio de força entre a plateia e os dançarinos (ou seriam bichos enjaulados?), perdidos entre o racional e o irracional. A força de se mostrar humano, diferente, especial e não intencionalmente belo e ainda fazer parte de um todo é uma questão que o espetáculo aborda, remetendo à identidade do povo brasileiro.

A companhia Gira Dança, de Natal, também aborda a questão da consciência política e artística, colocando no palco bailarinos com e sem deficiência física. O que impressiona no espetáculo "A Cura" é como as restrições físicas dos artistas criam uma linguagem própria, que se mostra interessante em sua sinceridade e limitações.

Para o coreógrafo Ângelo Madureira, há uma reflexão mais forte sobre o ato de a dançar e o papel da dança e do artista entre os novos grupos no Brasil. O coreógrafo pernambucano radicado em São Paulo apresenta o espetáculo "Baseado em fatos reais", um dos mais aplaudidos do festival. Trabalhando com mais de 1.800 imagens de apresentações anteriores, Ângelo constrói, ao lado de sua companheira Catarina Vieira, uma bela e lírica reflexão sobre o passado, o corpo e a percepção.

'Baseado em fato reais' é um dos espetáculos mais aplaudidos desta ediçãoFoto: Ines Correa

Forte inclinação política

Dois trabalhos solos discutem temas da autopercepção e do mercado de consumo com pontos de vista diferentes. A alagoana Charlene Sadd mostra em "Rótulo, as impressões do corpo" a relação entre a consciência social e o mercado, questionando o papel da mulher como um produto na sociedade brasileira.

Já no espetáculo "Outdoor Corpo Machine", o carioca André Masseno expressa através do próprio corpo imagens midiáticas do estereótipo masculino. O resultado é um questionamento estético que fica entre a celebração e o estranhamento. Unindo elementos de dança contemporânea, live art e teatro, o artista brinca com os estereótipos do mundo gay de uma maneira irônica e triste.

O espetáculo também ilustra o polêmico pôster do festival. A imagem do bailarino com a cara enfiada num tênis foi outra escolha provocativa do festival, atraindo o interesse da comunidade gay e causando revolta entre as mulheres turcas mais tradicionais do bairro de Kreuzberg, onde se realiza o festival.

Além dos espetáculos, o Move Berlim apresentou um grande painel de discussões e workshops com grande inclinação política e estética. Temas como identidade, religião, arte e cultura afrobrasileira, questões regionais, de gênero e sexualidade foram discutidas e debatidas ao longo dos dez dias do festival. Cada vez mais, o Move Berlim mostra ser um evento essencial para entender a diversidade e o desenvolvimento de um povo que constrói longe dos clichês a sua verdadeira identidade.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler

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