Cinema
18 de outubro de 2006Não é exatamente o tipo de filme que se encontre em cartaz nos cinemas familiares. Há títulos como Sexual Sushi e Trannyfags, Bulldogs in the Whitehouse e Naked Over the Fence. Mas esta semana a maioria está sendo exibida nas salas mais mainstream de Berlim, dentro de um festival cujo tema explícito é o erotismo.
"A pornografia em si não é um problema, apenas fazem dela um problema," declarou o diretor e produtor Jürgen Brüning, organizador do 1º Festival de Filme Pornô de Berlim, à agência alemã de notícias DPA. "Queremos que o evento ajude a libertar a pornografia da imagem de imundície."
O festival que se inicia nesta quarta-feira (18/10) não é exatamente "família": haverá muito sexo nas telonas. Mas Brüning e outros participantes estão interessados nas várias maneiras como o sexo é exibido na tela. Desde as versões hard-core, concentradas em determinadas partes do corpo dos atores, até filmes que têm uma linha narrativa completa, com a diferença que, quando a interação física começa a esquentar, a câmara não se afasta.
"A questão básica proposta pelo festival é: "O que é pornografia?". Segundo o porta-voz Michael Höfner, a definição varia de pessoa para pessoa. "O jovem urbano tem uma visão da pornografia completamente diferente da de um bispo católico ou de um muçulmano praticante. Cerca de 50% das películas em exibição são simplesmente discussões sobre sexualidade."
Abordagens temáticas
Embora durante os quatro dias de festival pouco haverá que possa atrair o interesse de um bispo católico, a gama das películas é ampla, cobrindo praticamente todo o espectro de interesses sexuais.
American Stag documenta o desenvolvimento da indústria do cinema adulto nos Estados Unidos; uma série chamada Dutch Pearls destaca a controversa produção holandesa da década de 70, incluindo um trabalho de Paul Verhoeven, hoje famoso diretor de Hollywood [Robocop, Instinto Selvagem]. Uma coleção de filmes japoneses irá impressionar muitos ocidentais, por explorar os limites extremos da sexualidade.
O curador Brüning buscou balancear a programação entre filmes para o público heterossexual e gay, bem como os que estão em algum lugar entre as duas tendências. Ele também queria dar espaço a trabalhos que despertem o interesse tanto de homens quanto de mulheres, já que os dois sexos costumam ter visões diferentes sobre o que é erótico.
Pornô mainstream
"A maioria da pornografia dirigida ao público masculino heterossexual não apresenta as mulheres de forma muito positiva" afirmou Laura Meritt, autora, comerciante e autoproclamada ativista sexual. "Queremos mostrar que existem diferentes maneiras de falar sobre sexo na tela, pois há um monte de porcaria por aí."
O interesse despertado pelo evento surpreendeu seus organizadores, comentou Höfner. O que começou como uma mostra de quatro dias, organizada por voluntários e sem verba, foi expandido para o mês inteiro, à medida que seminários, workshops e filmes foram sendo programados para vários locais de Berlim.
Personalidades da indústria pornográfica alternativa, como a atriz americana Annie Sprinkle, de São Francisco, ou o diretor punk canadense Bruce LaBruce, vieram participar de sessões, workshops e performances.
De acordo com Höfner, não houve reclamações sobre o festival, do gênero "trazer pornografia ao cinema da esquina é ir longe demais". "Até porque a pornografia conquistou seu espaço nas produções mainstream" disse, citando Shortbus, o novo filme de John Cameron Mitchel, e o franco-britânico Intimacy, ganhador do Urso de Ouro de Berlim em 2001. "Hoje em dia, pornô é chique" afirmou.