1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

FHC tenta levar unidade a discurso do PSDB

Jean-Philip Struck20 de agosto de 2015

Principais nomes do partido mostram descompasso desde o início da crise. Ao defender abertamente renúncia de Dilma, ex-presidente busca suplantar divisões internas e, segundo especialistas, mandar sinal ao PMDB.

Foto: imago/GlobalImagens

Considerado até então um moderado, Fernando Henrique Cardoso endureceu a sua posição em relação à crise no governo e sugeriu no início da semana que uma saída seria a renúncia de Dilma Rousseff – “um gesto de grandeza”, segundo ele. Foi a primeira vez em que FHC usou esse tom contra a presidente. Em ocasiões anteriores, ele segurou o ímpeto de tucanos mais radicais e chegou a afirmar que Dilma é uma pessoa honrada.

A declaração de FHC foi publicada em sua conta no Facebook um dia após a terceira jornada de manifestações contra o governo Dilma. Pela primeira vez, os protestos contaram com apoio explicito de figuras do PSDB, como os senadores José Serra e Aécio Neves. Ao comentar as declarações do partido, o secretário-geral do PSDB, o deputado federal Silvio Torres, afirmou que o texto “deve orientar" a legenda.

Especialistas afirmam que essa súbita mudança de tom de FHC reflete uma tentativa de suplantar as divisões internas do PSDB e sinalizar ao PMDB que o partido pode ser um parceiro caso Dilma venha a cair.

Segundo o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo, o pedido pela renúncia também resolve o problema de se posicionar no momento em que a abertura de um processo de impeachment ainda apresenta problemas práticos, como determinar uma ligação direta de Dilma com os escândalos.

“Enquanto não se resolve essa questão, o pedido de renúncia serve para subir a intensidade do tom contra a presidente e a coloca cada vez mais no fio da navalha. Nesse momento, esse discurso permite unificar o PSDB”, avalia.

Já o professor Carlos Pereira, da FGV/EBAPE, afirma que a opção pela renúncia é uma reação à recente movimentação do Planalto para buscar uma acomodação com o PMDB via o presidente do Senado, Renan Calheiros.

“FHC quer sinalizar que o PSDB pode trabalhar com o PMDB no caso de uma saída de Dilma e da permanência do vice Michel Temer como presidente. Trata-se de consertar o desgaste provocado por Aécio quando ele favoreceu um caminho que passava tanto pela queda de Dilma e quanto de Temer, via anulação das eleições”, afirma.

Publicamente, Aécio e Serra demonstraram visões diferentes sobre a crise no governoFoto: imago/Fotoarena

Divisões

O analista francês Gaspard Estrada, ligado ao Instituto de Ciências Políticas de Paris, concorda que o texto de FHC pretende trazer unidade, mas também avalia que os tucanos ainda vão sofrer com as divisões.

“A participação de diferentes tucanos nos protestos evidenciou mais os objetivos particulares de cada um deles do que o surgimento de uma nova força capaz de tirar Dilma do poder. Aécio e Serra, por exemplo, compareceram por motivos bem diferentes. As palavras duras de FHC soam como uma tentativa de mostrar unidade onde ela não existe”, afirma Estrada.

Um exemplo recente dessa falta de afinação no tom foram as declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sobre a renúncia. Ao ser indagado sobre o assunto na terça-feira (18/08), Alckmin desconversou e disse que a “renúncia é algo pessoal, não cabe comentário”.

Desde o início da crise, os principais nomes do PSDB mostraram um descompasso em relação ao que fazer com Dilma. Aécio Neves apoiou uma solução pela saída da presidente e do vice Michel Temer que resulte em novas eleições – onde ele poderia concorrer.

Serra, por sua vez, preferiu uma eventual saída de Dilma que possibilite uma aproximação com Temer. Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, só deseja concorrer à Presidência em 2018 e permaneceu cauteloso em relação a qualquer mudança abrupta.

O texto de FHC chama a atenção pela mudança de tom, mas ainda assim poupa Dilma em vários aspectos. O ex-presidente joga a culpa pelos problemas em Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor de Dilma, e até minimiza um pouco o pedido de renúncia ao afirmar em seguida que Dilma deveria então pelo menos reconhecer seus erros e procurar uma solução para a crise.

Para Carlos Pereira, isso não passa de uma estratégia. “Seria muito forte FHC falar em impeachment de Dilma sendo um ex-presidente, desse jeito ele soa mais republicano. E ele também silencia os tucanos que ainda estão hesitando em tomar posição contra Dilma.”

A nova posição de FHC encontra respaldo nas manifestações. Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha mostrou que 85% das pessoas que foram ao protesto da Avenida Paulista, em São Paulo, no último domingo afirmaram que a presidente deve renunciar. Por outro lado, só 49% acreditam mesmo que Dilma vai realmente deixar o cargo.

Segundo o cientista político belga Frédéric Louault, da Universidade Livre de Bruxelas, a mudança de FHC faz sentido nesse momento, mas o resultado não está em suas mãos. “As cartas para a queda ou estabilização do governo estão com o PMDB, e não com o PSDB”, avalia.

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque