Fibras naturais usadas para fabricar carros
3 de julho de 2005Segundo Wulf-Peter Schmidt, da divisão de reciclagem da Ford em Colônia, há fibras naturais extraídas da madeira que podem ser utilizadas, por exemplo, para a confecção do revestimento do bagageiro de um automóvel. "Mas temos ainda alguns materiais menos clássicos, como fibras obtidas do kenaf (planta da família das malvas)", complementa Schmidt.
Também nos modelos da Mercedes são usados produtos naturais: linho, sisal e cânhamo no revestimento interno de portas, fibras de coco e borracha nos bancos. Em cada Classe A fabricado pela Mercedes há 27 peças produzidas com fibras naturais, com peso total de 11,9 quilos.
"Há pouco passamos a usar também fibras de abacá oriundas das Filipinas", afirma a assessora de imprensa Karin Thiemann. "Com isso, pela primeira vez é usada uma fibra natural na parte externa do automóvel: para o revestimento da saliência do espaço destinado ao estepe, embaixo do carro."
Combinados com elementos artificiais
As fibras naturais utilizadas na indústria automobilística não são usadas no seu estado original, mas combinadas com componentes sintéticos, como o polipropileno, para a produção de materiais mistos mais resistentes. "As fibras garantem firmeza ao material", afirma Schmidt.
Os produtos naturais devem observar rígidos controles de segurança, afirma Hans Schwager, responsável pelo desenvolvimento de materiais sintéticos da BMW. "Mudanças de clima, altas temperaturas – tudo o que também é exigido dos outros materiais."
Em alguns casos, o controle é ainda mais rígido do que o dos produtos sintéticos, afirma Thiemann. "É necessário levar em conta as oscilações naturais do produto." No caso da fibra de vidro, por exemplo, a decomposição pelo tempo não tem importância, mas no caso das fibras naturais deve ser considerada a resistência à umidade.
Novos empregos, menos gastos com energia
Os aspectos econômicos e ecológicos estão estreitamente ligados. O cultivo das plantas das quais são extraídas as fibras gera empregos nas Filipinas, afirma Thiemann. Para as montadoras de automóveis, o uso de fibras naturais significa carros menos pesados e custos menores na transformação dos materiais. "Gastamos até 60% menos energia", diz Thiemann. Os resíduos gerados durante o processo podem ser transformados em adubo ou reaproveitados pela própria montadora.
O dióxido de carbono é, segundo Schmidt, um outro aspecto importante: "O dióxido de carbono é retirado da atmosfera pelas plantas posteriormente usadas como matéria-prima, sendo portanto quase incorporado aos automóveis. É praticamente um ciclo".
Desmatamento e questões sociais
Os ambientalistas são a princípio favoráveis ao uso de matérias-primas renováveis na construção de automóveis. Mas Dietmar Oeliger, especialista em trânsito da união de ambientalistas Nabu, ressalva: "Nós consideramos importante que os materiais utilizados possam ser pelo menos reaproveitados para geração de energia, ou seja, queimados, durante o processo de reciclagem dos automóveis".
Mas o principal aspecto é a maneira como a matéria-prima é obtida. É importante que não sejam desmatadas áreas de florestas tropicais. Os fabricantes também afirmam dar valor a questões sociais: eles dizem não aceitar fornecedores que utilizam trabalho infantil.
Idéia antiga
A idéia de fazer uso de matérias-primas renováveis existe há décadas, mas está bem mais desenvolvida hoje, diz Schwager. De acordo com Schmidt, o uso desses materiais possui raízes históricas na Ford e remonta aos tempos de Henry Ford I. Já em 1915 o pioneiro americano utilizou matéria-prima renovável na fabricação de automóveis: cola à base de trigo.