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Ficar ou sair do Iraque, eis o dilema

Estelina Farias29 de outubro de 2003

Ataque à Cruz Vermelha Internacional em Bagdá coloca ONGs de ajuda humanitária diante do dilema de ficar ou sair do Iraque. As alemãs decidem ficar, mas com estratégias para sair, pois não descartam novos atentados.

Terrorismo ameaça ajuda humanitária no IraqueFoto: AP

A Cruz Vermelha Internacional adiou sua decisão para sábado. O tom entre o pessoal da ajuda humanitária é pela permanência no Iraque enquanto der. "Os ajudantes devem ficar, pois quem quer combater fogo tem de estar perto das chamas", justifica Wolfgang Nierwetberg, da organização alemã HELP, que atua em Bagdá. Depois da segunda-feira (27) sangrenta, com 44 mortos, as ONGs não excluem, todavia, uma retirada completa de seus colaboradores estrangeiros. "Vamos aguardar os próximos dias e, se a situação não melhorar, teremos que retirar o nosso pessoal", disse o alemão.

A ONG humanitária Cap Anamur e a organização de defesa civil do Ministério do Interior, THW, também ainda não querem bater em retirada. Elas decidiram observar a situação e decidir juntamente com outras organizações.

Distância das tropas

- O dilema inicial entre manter a independência de ajudantes neutros e aceitar a proteção das forças de ocupação americana e britânica parece superado. As ONGs decidiram se manter distanciadas das tropas, sem se posicionar por qualquer das partes em conflito, até porque a sua proteção significaria uma aproximação e as deixariam mais expostas a atos terroristas.

Como organizações humanitárias e neutras, elas têm o dever de manter o seu pessoal acessível e independente do conflito, como esclareceu o representante da Cruz Vermelha na Alemanha, Pierre Gassmann, que conta com 700 colaboradores iraquianos e 30 estrangeiros no Iraque. Para Gassmann, a decisão sobre a sorte da organização no país é difícil, porque os ajudantes iraquianos correm mais riscos de sofrer atentados do que os estrangeiros.

Medidas de segurança

– Inicialmente, a aliança de ONGs Alemanha Ajuda, que congrega a HELP e a CARE, entre outras, apenas reforçou suas medidas de segurança no Iraque. A partir de segunda-feira, seu pessoal só pode se movimentar entre a residência e o escritório e, ainda assim, acompanhado e em automóveis neutros, sem nome de organização alguma. Os colaboradores estrangeiros foram proibidos de visitar os projetos. A tarefa agora é do pessoal local porque no caso de um ataque eles podem esconder-se mais rápido, segundo a porta-voz da Alemanha Ajuda, Janina Niemietz-Walter.

A despeito do apelo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para que as ONGs permaneçam no Iraque, a Alemanha Ajuda já tem estratégias para uma retirada, dependendo do desenrolar dos acontecimentos. "Quando o nosso pessoal in loco disser que não dá mais, vamos tirá-lo de lá", disse a porta-voz. Assim como a Cruz Vermelha, as ONGs alemãs também dispensaram proteção militar. Elas entendem que têm de continuar separando ajuda humanitária e ação militar.

Preço da morte

- Tal distanciamento pode ter sido a causa principal do atentado contra a ONU em Bagdá, em agosto, com 20 mortos, entre eles o encarregado especial das Nações Unidas, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Para simbolizar sua independência e distância das tropas de ocupação, de um lado, e sua aproximação dos iraquianos, de outro, ele mandou derrubar as barreiras de segurança levantadas pelos americanos. Isto permitiu a explosão de um caminhão-bomba exatamente debaixo do seu escritório.

Num ato contínuo, o Conselho de Segurança em Nova York aprovou uma resolução para melhorar a proteção do pessoal da ajuda humanitária, qualificando ataques terroristas contra ajudantes como crime de guerra e prevendo punição como tal. Mas isto não basta, segundo o ex-coordenador da ajuda humanitária da ONU no Iraque, Hans von Sponeck. As ONGs deveriam aceitar proteção das tropas de ocupação.

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