Fifa abre congresso que vai eleger sucessor de Blatter
26 de fevereiro de 2016
Além de eleger novo presidente, federações nacionais deverão aprovar amplo pacote de reformas. Xeique do Bahrein e secretário-geral da Uefa são os favoritos na disputa pela liderança da entidade máxima do futebol.
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O secretário-geral interino da Fifa, Markus Kattner, abriu nesta sexta-feira (26/02) em Zurique o congresso extraordinário que vai eleger o novo presidente da federação e votar um amplo pacote de reformas.
O presidente interino, Issa Hayatou, afirmou que o congresso será chave na história da Fifa. "Os olhos de todo o mundo estão voltados para nós."
O congresso pode ser um primeiro passo para que a Fifa dê a volta por cima no escândalo de corrupção simbolizado na queda do presidente afastado, Joseph Blatter.
A disputa, que tem cinco candidatos, transformou-se num duelo entre Ásia e Europa, ou entre o xeique do Bahrein, Salman bin Ibrahim al-Khalifa, de 50 anos, e o secretário-geral da Uefa, o suíço-italiano Gianni Infantino, de 45 anos.
O príncipe da Jordânia, Ali bin al-Hussein, o diplomata francês Jérôme Champagne – ex-funcionário da Fifa – e o sul-africano Tokyo Sexwale correm por fora na disputa. Dos três, Hussein é o que mais pode surpreender, principalmente depois de receber o apoio dos Estados Unidos e da Austrália, nesta sexta.
O resultado é imprevisível, e especialistas afirmam que os novos líderes do futebol mundial não vão conseguir escapar de investigações internacionais de corrupção na entidade.
A escolha do novo presidente requer uma maioria de dois terços na primeira rodada de votação. Caso esse percentual não seja atingido, nas rodadas seguintes o critério passa a ser a maioria simples.
A Fifa é composta de 209 federações, cada uma com direito a um voto. Duas federações – Kuwait e Indonésia – estão suspensas e não participam do congresso. Para chegar aos dois terços serão necessários 138 votos, enquanto no caso de maioria simples, bastarão 104.
Se nenhum candidato obtiver a maioria simples, aquele que receber a menor votação será eliminado e não participa das rodadas seguintes. Esse mecanismo se repete até que fiquem apenas dois candidatos.
Antes da votação, cada candidato terá 15 minutos para apresentar seu programa diante do Congresso. O comitê eleitoral da Fifa é composto por membros dos comitês disciplinar e de apelação, além de membros da comissão de auditoria, que supervisiona todo o processo.
O congresso irá votar também reformas propostas por uma comissão da Fifa e pelo comitê executivo da instituição, que visam recuperar a credibilidade da federação.
As reformulações deverão estabelecer um limite de 12 anos nos mandatos dos presidentes e autoridades do alto escalão, e o valor de seus salários serão tornados públicos.
Além disso, os membros do comitê executivo deverão ser fiscalizados com mais rigidez. Muitos dos 39 acusados por promotores americanos de envolvimento em esquemas de suborno no valor de mais de 200 milhões de dólares faziam parte do alto escalão da Fifa.
AS/RC/dpa/afp
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.