Marco Polo del Nero é afastado de forma perpétua de quaisquer funções ligadas ao futebol. Cartola é acusado de participar de esquema de propinas em troca de direitos de transmissão e comercialização de torneios.
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A Fifa anunciou nesta sexta-feira (27/04) que o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Marco Polo del Nero está banido de forma definitiva de todas as atividades relacionadas ao futebol.
O Comitê de Ética da Fifa decidiu suspender o cartola de forma perpétua de quaisquer funções no futebol. Além da suspensão, o ex-presidente da CBF foi multado em 1 milhão de francos suíços (3,51 milhões de reais). O banimento tem caráter nacional e internacional.
"A câmara adjudicatória concordou com as recomendações da câmara de investigação e considerou o senhor Del Nero culpado de ter violado os artigos 21 (suborno e corrupção), 20 (oferecer ou aceitar presentes ou outros benefícios), 19 (conflito de interesse), 15 (lealdade) e 13 (regras gerais de conduta) do Código de Ética da Fifa", diz a nota oficial divulgada pela entidade.
A investigação contra Del Nero foi aberta em 23 de novembro de 2015 e se referia a um esquema de propinas em troca de contratos e concessões para empresas pelos direitos de transmissão e comercialização de vários torneios de futebol, entre eles a extinta Copa Conmebol, a Copa Libertadores e a Copa do Brasil.
A Fifa afirmou que o cartola brasileiro foi notificado pela entidade, nesta sexta-feira, e que o banimento entra em vigor imediatamente após a notificação.
Marco Polo del Nero, de 77 anos, é formado em direito e começou sua carreia de dirigente esportivo no Palmeiras, como diretor de comissão de sindicância do clube. Na década de 1980, conseguiu um assento no Tribunal de Justiça Desportiva e, posteriormente, ascendeu à vice-presidência da Federação Paulista de futebol (FPF), sob a gestão de Eduardo José Farah. Del Nero assumiu a presidência da FPF em 2003 e foi reeleito em 2010. Em abril de 2015, sucedeu José Maria Marin na presidência da CBF.
Em 2009, ele foi suspenso por 90 dias pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pelo episódio Wagner Tardelli, que iria apitar a partida entre Goiás e São Paulo, válido pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2008. Na véspera do jogo, a CBF afastou Tardelli depois que Del Nero levantou a suspeita de uma suposta tentativa de suborno por parte do São Paulo com ingresso do show da Madonna. O STJD declarou Del Nero culpado de acusação infundada.
Em 2015, Del Nero foi indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA dentro de uma investigação sobre corrupção no futebol internacional ligada a contratos de transmissão de competições. Del Nero não foi extraditado do Brasil para enfrentar as acusações de extorsão, fraude eletrônica e conspirações de lavagem de dinheiro.
Seus antecessores na CBF, Ricardo Teixeira e Marin também foram indiciados por acusações semelhantes. Teixeira, que já foi genro do ex-presidente da Fifa João Havelange, também não foi extraditado. Marin, por sua vez, aguarda receber sua sentença após ser considerado culpado pelo tribunal federal do Brooklyn em dezembro.
Em dezembro, a Fifa suspendeu Del Nero por 90 dias – punição que foi prorrogada por outros 45 dias. A decisão também obrigou o cartola a deixar a presidência da CBF. Mesmo assim, articulou as eleições para seu sucessor na entidade, que acabou sendo vencida por seu candidato Rogério Caboclo.
PV/afp/ap/rtr/dpa/ots
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O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.