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Fifa

1 de dezembro de 2010

Afastamento de dois membros do comitê executivo acusados de vender o voto e denúncias na imprensa europeia contra dirigentes da Fifa – entre eles Ricardo Teixeira – ofuscam a escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.

Joseph Blatter, presidente da Fifa, na sede em ZuriqueFoto: AP

"Para o senhor está claro que temos de tratar dessas coisas de maneira discreta?", perguntou o nigeriano Amos Adamu durante o segundo encontro no Cairo. Repórteres do diário inglês Sunday Times estavam disfarçados de executivos norte-americanos, supostamente dispostos a pagarem subornos para ajudar os EUA a sediar o Mundial de 2022.

Já no primeiro encontro em Londres, Adamu mencionara a construção de quatro campos de futebol na Nigéria. O dinheiro para isso, em torno de 580 mil euros, deveria ser depositado na conta da empresa de um parente na Europa.

Os repórteres perguntaram se o depósito contribuiria para que o nigeriano optasse pelos Estados Unidos. "É evidente que isso terá influência, pois, se vocês investirem neste projeto, significa que querem o voto", respondeu Adamu.

Seis funcionários da FIFA suspensos

O nigeriano de 57 anos é desde 2006 membro do comitê executivo da Fifa. O grêmio constituído pelo presidente Joseph Blatter, por oito vice-presidentes e mais 15 membros, é responsável, entre outras coisas, por decidir quais países sediarão as Copas do Mundo. É uma decisão que envolve muito dinheiro. O Mundial de 2006, na Alemanha, gerou lucros de 256 milhões de euros, segundo informações da própria Fifa.

Assim, é fácil de entender que os países-candidatos façam uso de todas as possibilidades que têm para influenciar a decisão a seu favor. Daí à corrupção é só um pulo. Além do nigeriano Adamu, o também membro do comitê executivo da Fifa Reynald Temarii mostrou-se vulnerável a subornos financeiros diante dos repórteres britânicos.

O taitiano que representante a Oceania supostamente pediu uma soma de 1,7 milhão de euros pelo seu voto para a criação de uma academia de futebol na Nova Zelândia. Quando o escândalo veio à tona, a Fifa suspenseu, além de Adamu (por três anos) e Temarii (por um ano), quatro outros funcionários de seu comitê executivo.

Assim, nesta quinta-feira (02/12), apenas 22 membros do grêmio irão decidir em Zurique quais países deverão sediar o Mundial nos anos de 2018 e 2022.

Todas as dúvidas eliminadas?

Adamu e Temarii: afastados sob suspeita de subornoFoto: picture-alliance/Pressefoto ULMER/DW-Montage

Para o presidente da Fifa, Joseph Blatter, o problema está resolvido com as punições. "Quando se vê os seis casos de pessoas suspensas, comparadas aos 300 milhões de envolvidos com o futebol no mundo, então isso não significa que todo o esporte seja corrupto", diz o suíço de 74 anos. "Todas as dúvidas estão eliminadas", completa.

Para o jornalista esportivo Thomas Kistner, do diário alemão Süddeutsche Zeitung e autor de um livro sobre os bastidores escusos da Fifa, "isso é uma completa insensatez. Há provas suficientes e juridicamente válidas sobre a corrupção no comando da Fifa".

Não é a primeira vez que o comitê executivo e seus membros são alvo de críticas. Já na época da eleição de Blatter para a presidência do órgão, em 1998, surgiram denúncias de corrupção. Segundo as acusações da época, o suíço havia enviado 20 cartas, cada uma com 50 mil dólares, a funcionários africanos. Uma vez descoberto, Blatter afirmou que se tratava de pagamentos previamente combinados a "associações em dificuldades".

Sede da Fifa em ZuriqueFoto: picture-alliance/Augenklick/Roth

Durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, Ismail Bhamjee, membro do comitê executivo proveniente de Botsuana, foi suspenso por ter vendido entradas para jogos da Copa por preços exorbitantes.

Em 2008, a Justiça suíça ocupou-se do assunto corrupção no esporte. Os investigadores documentaram que a agência de marketing ISL/ISMM, que havia falido em 2001, havia pago "comissões" no total de pelo menos 100 milhões de euros a funcionários de organizações esportivas, com o objetivo de fechar contratos de televisionamento e patrocínio.

Entre os receptores do dinheiro estariam também membros da Fifa. O processo foi encerrado com o pagamento de quatro milhões de euros e os acusados permaneceram no anonimato.

Mas, esta semana, a BBC e jornais europeus, entre eles o Süddeutsche Zeitung, noticiaram que três membros do comitê executivo, o camaronês Issa Hayato, o paraguaio Nicolas Leoz e o brasileiro Ricardo Teixeira, estariam envolvidos nesse escândalo de corrupção.

Denúncias contra Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira: sociedade suspeita com a CBFFoto: picture-alliance/dpa

Teixeira já havia antes gerado manchetes no Brasil devido à Copa do Mundo de 2014. Segundo uma reportagem do diário Lance!, ele poderia ficar com todos os possíveis lucros do Comitê Organizador Local do Mundial graças a uma sociedade entre ele e a CBF, da qual é presidente.

No entanto, caso haja – ao contrário das expectativas – prejuízos, Teixeira arcaria com apenas 0,01% das perdas, o equivalente à sua cota no sociedade. E a CBF com os demais 99,99%. Teixeira é membro do comitê executivo da Fifa desde 1994, quando o órgão ainda era liderada por seu sogro, João Havelange.

O futebol alemão é representado na Fifa por Franz Beckenbauer, membro do comitê executivo. No entanto, o ex-jogador, hoje com 65 anos, anunciou recentemente que não pretende se candidatar à reeleição por "querer dedicar mais tempo à sua família". Mas é possível que ele esteja simplesmente saturado das notícias de corrupção dentro da Fifa.

Com a saída de Beckenbauer e de outros que se despedirão da Fifa em 2011, afirma Kistner, vão-se as últimas pessoas mais ou menos isentas de acusações. "Aí teremos praticamente só mesmo esses obscuros homens de negócios", afirma o jornalista.

Acertos internos

Diante de tantos escândalos e irregularidades, acertos internos divulgados poucos dias antes da decisão sobre as sedes dos Mundiais de 2018 e 2022 soam até inofensivos. O vice-presidente Mohammed Bin Hammam, do Catar, nem omitiu que combinou com seu colega espanhol Angel Maria votarem um na candidatura do outro. Espanha e Portugal candidatam-se a sediar a Copa de 2018, enquanto o Catar está na disputa para ser sede do Mundial de 2022. "Se há um acordo nesse sentido, não vejo a coisa como um problema", disse Bin Hamman.

Autor: Stefan Nestler (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

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