Entidade afirma que ninguém de seu alto escalão político está envolvido na transferência de 10 milhões de dólares ao ex-vice-presidente Jack Warner. Dinheiro teria sido enviado para uso em projeto social.
Anúncio
Em comunicado divulgado nesta terça-feira (02/06), a Fifa reconheceu ter realizado o pagamento de 10 milhões de dólares, mas negou que o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, tenha sido a pessoa a autorizar, em 2008, a transferência do dinheiro ao então presidente da Concacaf, Jack Warner.
"Nem o secretário-geral, Jérôme Valcke, nem qualquer outro membro da alta gerência da Fifa estiveram envolvidos na iniciação, aprovação e implementação do pagamento", afirma o comunicado.
A Fifa diz que o pagamento foi aprovado pelo então presidente do Comitê de Finanças, o argentino Julio Grondona, um membro de longa data do Comitê Executivo da Fifa e que morreu no ano passado.
O comunicado explica que os 10 milhões de dólares foram retidos do orçamento operacional do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.
Segundo a entidade, o COL pediu à Fifa que repassasse o dinheiro para um projeto de apoio "à diáspora africana em países caribenhos como parte do legado da Copa do Mundo".
O New York Times também informou que Valcke negou as acusações num comunicado enviado por e-mail à redação do jornal.
O pagamento de 10 milhões de dólares é a base de uma investigação conduzida pelo Departamento de Justiça dos EUA, que levou à prisão de diversos cartolas do futebol mundial, em Zurique, na semana passada, e ao indiciamento de um total de 14 pessoas sob a acusação de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro. Jack Warner se entregou às autoridades em Trinidad e Tobago, mas foi liberado sob fiança.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, que foi reeleito para um quinto mandato na sexta-feira, negou ser o não identificado "alto funcionário" nomeado na acusação americana como o responsável pelo pagamento de 10 milhões de dólares.
PV/afp/ap/rtr
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.