Fifa suspende Blatter, Platini e Valcke por 90 dias
8 de outubro de 2015
Presidente, possível sucessor e secretário-geral da federação são banidos provisoriamente de todas as atividades de futebol. Mandatário da entidade máxima do esporte é alvo de investigação criminal na Suíça.
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O presidente da Fifa, Joseph Blatter, seu possível sucessor e presidente da Uefa, Michel Platini, e o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foram provisoriamente banidos por 90 dias da entidade máxima do futebol mundial, em decisão emitida pelo comitê de ética da Fifa nesta quinta-feira (08/10).
Além disso, o comitê suspendeu também o ex-vice-presidente da Fifa e sul-coreano Chung Mong-joon por seis anos e o multou em 100 mil francos suíços (cerca de 400 mil reais). "Os motivos para essas decisões são as investigações que estão sendo realizadas pela câmara de investigação do comitê de ética", disse o próprio órgão regulador da Fifa, em comunicado.
A declaração afirma também que a duração dos banimentos pode ser prorrogada por um período adicional não superior a 45 dias – o que cobriria o congresso extraordinário da Fifa que elegerá o sucessor de Blatter, em 26 de fevereiro. Platini e Chung são dois dos três candidatos até então oficializados. O outro é o príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein, que foi derrotado na votação em maio.
As suspensões têm efeito imediato e cobrem "todas as atividades de futebol em nível nacional e internacional". Isso inclui o sorteio dos grupos da Eurocopa de 2016, em 12 de dezembro, em Paris.
No mês passado, promotores suíços abriram uma investigação criminal contra Blatter sobre um contrato de direitos televisivos caribenhos para a Copa do Mundo. O contrato foi assinado pelo mandatário e os direitos, vendidos ao ex-vice-presidente da Fifa Jack Warner em 2005. Além disso, também se verificou um pagamento de 2 milhões de francos suíços a Platini em 2011, cujo status atribuído pelo procurador-geral suíço flutua entre testemunha e acusado.
A medida do comitê de ética mancha ainda mais a carreira de 40 anos de Blatter na Fifa – incluindo 17 anos como presidente – e abala as esperanças de Platini de substituir Blatter como mandatário do futebol mundial em eleições agendadas para fevereiro de 2016.
Camaronês e espanhol assumem Fifa e Uefa interinamente
Issa Hayatou, o mais antigo vice-presidente no comitê executivo da Fifa, assume como presidente interino da entidade. Chefe de longa data da Confederação Africana de Futebol (CAF), o camaronês foi repreendido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em 2011, por supostamente também ter envolvimento com corrupção acerca de direitos em Copas do Mundo.
Hayatou, que sofre de uma grave doença renal que requer sessões regulares de diálise, está atualmente em Yaoundé e deve viajar imediatamente para Zurique. Já o líder interino da Uefa será o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (Rfef), Ángel María Villar, que está sob risco de também ser sancionado pelo comitê de ética da Fifa em relação à investigação sobre as licitações das Copas de 2018 e 2022.
PV/dpa/rtr/ap
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.