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França

16 de janeiro de 2011

A Frente Nacional, maior partido francês de extrema direita, passa às mãos de Marine Le Pen, sucedora do pai, Jean-Marie, que se despede do cargo quase 40 anos após fundar o partido.

Marine Le Pen: modernização aparente do partidoFoto: AP

Aos 42 anos, Marine Le Pen representa atualmente a Frente Nacional no Parlamento Europeu, partido movido sobretudo por suas posturas avessas aos imigrantes. Enquetes recentes mostram que 22% dos franceses concordam com as ideias dessa facção de extrema direita e 17% do eleitorado do país votaria em Le Pen, caso ela venha a se candidatar à presidência da França em 2012.

Advogada, divorciada duas vezes e mãe de três filhos, Marine Le Pen tem evitado o estigma de fascista, racista e antissemita que seu partido carrega – todos esses adjetivos associados diretamente a seu pai, hoje com 82 anos. No entanto, a retórica da filha permanece ambígua: recentemente, ela comparou os muçulmanos que oram nas ruas, nas imediações de mesquitas lotadas, com a ocupação da França pelos nazistas.

A plataforma política da Frente Nacional inclui o retorno da pena de morte, a volta do serviço militar obrigatório no país, a justificativa da "legítima defesa" nos casos em que a polícia faz uso da força contra suspeitos, bem como o fim dos benefícios sociais para estrangeiros.

Sucessora do "bicho-papão"

Pai e filha: sucessão na extrema direita francesaFoto: AP

Le Pen, o pai, apelidado pela imprensa de "bicho-papão" da política francesa, deixou oficialmente o cargo à frente da Frente Nacional neste sábado (15/1), durante uma convenção do partido em Tours, no oeste do país. Ele fundou a facção em 1972 e desde então deixou muita gente na França estarrecida frente a seus comentários de teor racista e antissemita.

Em 1997, foi condenado por minimizar as dimensões do Holocausto da Segunda Guerra, ao afirmar que as câmeras de gás tinham sido "um detalhe da história". Em quatro outros episódios, voltou a ser condenado sob acusações de haver atacado terceiros em sua juventude e por seus discursos que incitavam o ódio.

Mas apesar de todos esses "deslizes", Le Pen chegou a angariar quase 17% dos votos nas eleições presidenciais francesas em 2002, passando à frente até mesmo do então primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, por menos de 200 mil votos. Por fim, acabou sendo derrotado pelo conservador Jacques Chirac.

Cara nova

Nonna Mayer, especialista em extrema direita do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), diz que Marine Le Pen faz parte de um esforço do partido em renovar sua imagem, a fim de atrair mais votos da população em geral. "Ela encarna uma nova geração política na Frente Nacional, que quer modernizar o partido para tirar dele a imagem de antiquado", analisa Mayer.

A estratégia de Marine Le Pen é a de apresentar as plataformas anti-imigratórias e anti-islâmicas do partido como mera defesa dos valores tradicionais franceses. Embora possa apresentar uma imagem mais atraente para os eleitores, críticos dizem que ela simplesmente criou uma nova versão da Frente Nacional, cuja essência é igual à do partido que seu pai encabeçava. "Comparada a ele, ela representa uma extrema direita menos xenófoba, mas isso não significa que, no fundo, ela seja diferente".

Guinada para a direita

Sarkozy: rumo à direita, para roubar votos da Frente NacionalFoto: AP

O presidente Nicolas Sarkozy surge, no momento, como o mentor de uma guinada da França para a direita, considerando suas posturas em relação à imigração e à segurança. Analistas veem o banimento da burca – o véu muçulmano que cobre também o rosto das mulheres – por parte de seu governo, bem como a deportação de ciganos para Romênia e Bulgária, como claros sinais de um esforço para angariar possíveis eleitores da Frente Nacional nas próximas eleições presidenciais.

Mas a França não está sozinha nessa ascensão da extrema direita no cenário político europeu. Partidos de perfil semelhante ao da Frente Nacional participam ou apoiam governos na Itália, Dinamarca e Holanda. Eles também ocupam cadeiras nos parlamentos na Áustria, Bulgária, Hungria, Letônia, Eslováquia e Suécia.

"Muitos europeus rotulam o crescimento dos contingentes de estrangeiros – especialmente muçulmanos – como incompatíveis com os valores ocidentais", observa Matthew Goodwin, do Instituto de Relações Internacionais Chatham House, sediado em Londres.

Embora isso possa ser compreendido como um fortalecimento dos partidos de extrema direita, Goodwin não vê na atual conjuntura uma mudança fundamental. "A extrema direita não irá tomar o poder em esfera nacional em nenhum país da Europa, mas eles continuarão fazendo parte do cenário político europeu", conclui.

Autor: Andrew Bowen (sv)

Revisão: Marcio Damasceno

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