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Filho de Boris Becker vai processar deputado racista

7 de janeiro de 2018

Depois que a exigência de um termo de cessação ficou sem resposta, Noah Becker pretende levar a tribunal o populista de direita que o insultou no Twitter. Ex-campeão de tênis defende o filho em artigo para jornal.

Boris Becker (dir.) e filho Noah em foto de 2013
Boris Becker (dir.) e filho Noah em foto de 2013Foto: Getty Images/A.Rentz

O filho do ex-campeão de tênis alemão Boris Becker pretende processar o deputado Jens Maier, do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), por insultá-lo, num tuíte, de "kleiner Halbneger" (aproximadamente "meio neguinho").

A mãe de Noah Becker, Barbara, é filha de um afro-americano e uma alemã. Numa entrevista recente, o rapaz de 23 anos dizia considerar Berlim uma "cidade branca", em comparação a Londres ou Paris, e que ele mesmo já fora atacado devido a sua pele morena.

Em reação, o ex-juiz e ultradireitista Maier postou no Twitter: "Parece que simplesmente deram pouca atenção ao meio neguinho, de outra forma não dá para explicar o comportamento dele."

Embora o comentário tenha sido apagado, Noah apresentou queixa contra Maier, exigindo que assinasse um termo de compromisso de cessação de conduta. Como "o Sr.Maier não reagiu a nossa notificação nem se desculpou junto a nosso mandante", seu advogado anunciou neste domingo (07/01) que "em breve vai acionar também os tribunais civis".

Racismo como capital político

Em artigo para o semanário Welt am Sonntag, o lendário tenista Boris Becker respondeu publicamente, pela primeira vez, a Jens Maier, o qual, após ser criticado até mesmo por seus correligionários, alegou não ter escrito pessoalmente o tuíte injurioso.

Para Becker, esse tipo de desculpa é típico dos membros da legenda anti-imigração: "Agora ele diz que não postou o tuíte, que foi um funcionário. É como eles fazem sempre na AfD, esse o golpe deles: jogar alguma coisa no mundo e aí se distanciar dela."

Noah Becker já foi atacado em Berlim devido à cor de sua peleFoto: picture alliance/app-photo/R. Mueller

Maier teria ofendido intencionalmente seu filho para próprio benefício político, afirmou o tenista, pois alguém como o político ultradireitista "não faz uma coisa dessas por burrice nem por medo", mas sim "sabe exatamente o que faz, e por que": seus eleitores "sorvem" palavras desse tipo, e ele os satisfaz perfeitamente.

Becker exigiu, no artigo publicado neste domingo, combate intensificado à discriminação racial. "Não se pode mais simplesmente aceitar o racismo. Ninguém é punido, ninguém tem que pagar, e no fim, infelizmente, afogamos o assunto no silêncio. É preciso acabar com isso!"

"Exijo consequências"

Boris Becker elogiou a resposta de seu filho à ofensa racista: "Noah formulou a coisa de maneira genial. Ele disse que quem não conhece o mundo, quem nunca viu pessoas de outra cor e que pensam diferente, tem medo quando, de repente, elas aparecem na Alemanha."

Segundo o ex-campeão, em sua reação o rapaz se mostra mais adiantado do que ele: "Noah ainda quer enfrentar o ódio com mais amor. Tenho que confessar: ele está um passo mais longe do que eu. No momento eu exijo que se tirem consequências."

Não é a primeira vez que Jens Maier chama a atenção por suas atitudes racistas. Numa conferência em Dresden, em 2017, o ex-juiz criticou a suposta "cultura da culpa" nacional, devido às suas ações da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, e advertiu contra a "criação de raças mistas" através da imigração.

Maier descreveu, ainda, o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), de extrema direita, como o "único" que sempre se engajou pelo país. Esses comentários levaram o Tribunal Regional de Dresden, que Maier presidiu durante quase 20 anos, a acusá-lo de "prejudicar a reputação do Judiciário em geral" e daquela corte em particular.

AV/afp,dpa

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