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Filhos de Khashoggi recebem "mesada" da Arábia Saudita

2 de abril de 2019

"Washington Post" revela que herdeiros do jornalista saudita assassinado na Turquia ganharam casas milionárias, além de 10 mil dólares mensais, como compensação pela morte do pai e para se manterem em silêncio.

Filho mais velho de Jamil Khashoggi cumprimenta príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, apontado como mandante do assassinato do jornalista
Riad divulgou fotos de um dos filhos de Khashoggi com Bin Salman, vistas como amostra do poder coercitivo da família realFoto: picture-alliance/dpa

O jornal americano The Washington Post noticiou nesta segunda-feira (01/04) que os filhos do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado no consulado da Arábia Saudita em Istambul em outubro, recebem milhares de dólares mensalmente do governo saudita, além de terem ganhado casas milionárias como compensação pela morte do pai.

O jornalista, que era colaborador do Post e um ferrenho crítico da monarquia saudita, foi morto e esquartejado na representação diplomática da Arábia Saudita em Istambul por uma equipe de 15 agentes vinda de Riad. Seu corpo jamais foi encontrado.

Segundo o jornal, os pagamentos a suas duas filhas e dois filhos "são parte de um esforço da Arábia Saudita de alcançar um acordo de longo prazo com os membros da família Khashoggi, com o objetivo, em parte, de assegurar que continuem a demonstrar comedimento em suas declarações públicas". Na reportagem, o Post cita autoridades do governo saudita que se mantiveram anônimas e pessoas próximas à família.        

As casas dadas aos Khashoggi, localizadas na cidade portuária de Jedá, tem valor estimado de até 4 milhões de dólares, segundo o jornal. O filho mais velho, Salah, que trabalha como banqueiro na mesma cidade, planeja continuar vivendo na Arábia Saudita enquanto seus irmãos que vivem nos Estados Unidos deverão vender as casas que receberam. 

Salah teria sido o responsável pelas conversações com o governo saudita envolvendo os pagamentos. Ele se recusou a comentar o assunto ao ser contactado pelo Washington Post. Seu desejo de permanecer com sua família em Jedá teria contribuído para que seus irmãos adotassem a cautela ao comentar sobre a morte do pai.

Em outubro, o governo saudita divulgou fotografias de Salah cumprimentando o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, com o objetivo de mostrar o monarca oferecendo suas condolências ao filho do jornalista. Entretanto, a imagem foi vista como uma amostra do poder coercitivo da família real sobre os Khashoggi.

Além das propriedades, os filhos de Khashoggi recebem pelo menos 10 mil dólares por mês e é possível que haja  pagamentos ainda maiores, que podem somar milhões de dólares cada, diz o jornal. Essas quantias seriam pagas após o término do julgamento dos acusados pela morte do jornalista nos próximos meses.

Uma das fontes anônimas citadas pelo Washington Post disse que os pagamentos foram aprovados no ano passado pelo rei Salman como parte de um reconhecimento de que "uma grande injustiça foi cometida" e para reparar um mal que havia sido feito.

Outra autoridade do governo que não foi identificada disse ao jornal que os pagamentos são coerentes com uma prática adotada há muitos anos no país de fornecer ajuda financeira às vítimas de crimes violentos ou até mesmo de desastres naturais e rejeitou que tivesse o objetivo de obrigar os Khashoggi a se manter em silêncio. "Esse tipo de apoio é parte de nossos costumes e cultura", afirmou essa pessoa, citada pelo Post.

Os filhos de Khashoggi vêm se abstendo de fazer críticas mais duras ao reino saudita, mesmo que a morte de seu pai tenha provocado uma onda de condenações e revolta. O príncipe herdeiro é acusado de orquestrar o assassinato do jornalista, mas o reino nega qualquer envolvimento. A Promotoria Pública do país indiciou 11 pessoas pela morte de Khashoggi.

RC/afp/ots  

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