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Filme "Olga" decepciona crítica alemã

Felipe Tadeu 7 de setembro de 2006

Em sua primeira semana em cartaz na Alemanha, longa-metragem de Jayme Monjardim sobre revolucionária alemã colhe críticas negativas na imprensa.

Camila Morgado é Olga BenarioFoto: presse/Constantin

A aguardada versão cinematográfica do best-seller Olga, escrito pelo jornalista Fernando Morais, não convenceu a crítica especializada alemã, que viu na superprodução brasileira o desperdício de uma grande história. Da fotografia, considerada "opulenta", à trilha sonora apelativa, muitos viram na película dirigida por Jayme Monjardim os excessos típicos de uma telenovela.

A expectativa em torno do filme era grande. Primeiro, pelo fato de a personagem principal se tratar de uma alemã tão fascinante quanto desconhecida na Alemanha (Olga Benario é mais famosa na parte Leste do país).

A presença no elenco de Fernanda Montenegro, atriz premiada em 1998 no Festival de Berlim com o Urso de Prata pelo seu desempenho no consagrado Central do Brasil, de Walter Salles Jr., também parecia dar garantias quanto à boa qualidade do filme, mas para a crítica o resultado final deixou a desejar.

A manifestação da juventude comunista em Munique, em 1923, é encenada em 'Olga'Foto: presse/Constantin

Estréia de luxo

Não será por falta de marketing que Olga irá fracassar na bilheteria. O filme teve no dia 21 de agosto requintada première no Cinemaxx, de Berlim, com direito a toda pompa, 400 convidados vips e espaço de destaque em duas edições do jornal mais popular do país, o Bild.

Apresentado como um "filme contra o esquecimento", que trata do inesgotável tema do passado nazista, Olga poderia ter na Alemanha condições de repetir o êxito de público que alcançou no Brasil, onde foi visto por mais de três milhões de espectadores.

O bem-sucedido produtor de cinema suíço Arthur Cohn adquiriu os direitos do filme nos países de língua alemã, o que possibilita à película de Jayme Monjardim bastante exposição na mídia de países como a Áustria, Suíça e na própria Alemanha. Se isso no entanto vai resultar em lucros astronômicos para o filme, só as próximas semanas é que poderão mostrar.

Grandiloqüência descabida

O jornalista Thomas Kunze, do jornal Hamburger Abendblatt, criticou a película brasileira por seus excessos imperdoáveis. "Lamentavelmente o filme fica aquém de sua dimensão trágica. Ele foi produzido de maneira simplista, com episódios ordenados da forma mais previsível, que fazem de Olga um mero filme de costumes."

'Cortes frenéticos'Foto: presse/Constantin

Sascha Koebner, da revista de cinema Filmdienst, ressaltou o enfoque naiv na construção de cenas como a do embate nas ruas de Berlim, entre a tropa hitlerista e militantes comunistas: "Do lado direito, os manifestantes; do outro, os soldados nazistas. Os comunistas caminhando forçosamente caóticos e a tropa marchando disciplinadamente. Os cortes são frenéticos, até que tudo descamba em pancadaria".

Para Koebner, a iluminação do filme também é equivocada: "O clima cinzento constante no filme confunde o espectador, que fica sem saber onde os protagonistas estão". A história se passa na Alemanha, no Brasil e na Rússia.

O Tageszeitung, de Berlim, bateu na mesma tecla. "Cinema-telenovela, onde nada soa autêntico, tudo é patético, chegando ao ponto da morte da nobre mártir num campo de concentração alemão. Propaganda kitsch."

Co-produção descartada

O filme Olga poderia ter sido uma co-produção Brasil-Alemanha, mas a idéia não foi muito adiante. A produtora brasileira Rita Buzzar estava em contato com a empresa alemã Magnatel, para que fossem sondados possíveis investidores alemães para arcar com parte dos custos do filme.

A inglesa Phoebe Clark, da Magnatel, afirmou que "os alemães não abririam mão de ter uma atriz alemã no papel de Olga. O que é natural, pois ela era alemã, e se os investidores tivessem que entrar mesmo com tanto dinheiro, eles também gostariam de participar de todas as decisões, da escolha do roteiro até a formação do elenco".

Frank Scharf, sócio de Phoebe na Magnatel, acredita que o filme de Jayme Monjardim não é a versão definitiva da história de Olga. Para ele, não tardará muito para que apareça alguém mais arisco e filme a vida de Olga com atores de renome internacional.

Olga Benario (Camila Morgado) e Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) em cena do filmeFoto: presse/Constantin

Outro ponto que impediu a co-produção foi o fato de os investidores alemães não quererem um diretor que tivesse feito carreira em telenovelas, como é o caso de Jayme Monjardim, que dirigiu nos anos 80 a inovadora Pantanal, da Rede Manchete, além de Ana Raio e Trovão, entre outras. Além do mais, os alemães consultados pela Magnatel também não teriam gostado do roteiro.

O documentário alemão

O que também deve ter contribuído para que a crítica cinematográfica alemã não apreciasse o filme de Monjardim foi o fato de já ter sido produzido em 2004 na Alemanha um documentário sobre Olga Benario, dirigido pelo cineasta turco Galip Iyitanir. O filme arrancou elogios dos jornalistas e da parcela principal, o público espectador.

A professora Renate Hess descreve o filme de Iyitanir como simplesmente "impressionante". Tanto que, depois de ter lido o consagrado livro de Fernando Morais e de ter assistido ao documentário, ela não pretende ver a versão de Monjardim. "O que eu acho mais interessante nisso tudo é que Olga ainda continua desconhecida pela grande maioria dos alemães, enquanto no Brasil ela já é mito".

Finda a primeira semana de exibição de Olga nos cinemas da Alemanha, o filme ainda não entrou na lista dos de maior bilheteria.

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