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Preto no branco

26 de outubro de 2009

Há 40 anos o jornalista e escritor Günter Wallraff usa disfarces para escrever seus livros e produzir seus filmes. Em seu mais novo trabalho, ele mostra a discriminação sofrida por um refugiado africano na Alemanha.

Günter Wallraff como negroFoto: X Verleih

O jornalista alemão Günter Wallraff quer abrir um debate sobre o racismo na Alemanha através de seu filme Schwarz auf Weiss (Preto no branco). "Pode-se avaliar cada sociedade pela forma como ela reage aos estrangeiros", define ele.

No documentário, que estreou no final de outubro nos cinemas alemães, Wallraff percorreu toda a Alemanha disfarçado como Kwagi Ogonno, um refugiado somali naturalizado alemão. Equipado com uma minicâmera e um microfone, ele chama a atenção para o racismo no dia-a-dia.

Uma equipe de filmagem acompanhou o autor à distância. Em Colônia, ele fracassou na tentativa de alugar um apartamento. Em Cottbus, foi insultado por torcedores de futebol. Quando tentou instalar-se permanentemente em um camping, seu pedido foi rejeitado.

O autor durante a maquiagemFoto: X Verleih

De um grupo de excursionistas e em bares ele teve que ouvir frases como "África para macacos, Europa para os brancos", ou "Você é um crioulo". A aversão contra os negros, que ele enfrentou tanto no oeste quanto no leste do país, o deixou "muito impressionado", disse Wallraff à imprensa. Ele pretende exibir o documentário para os torcedores do Dynamo Dresden, considerados radicais de direita, e discutir com eles, disse Wallraff durante um debate num cinema em Berlim.

Reações divergentes

Nas últimas décadas, o escritor tem seguidas vezes se infiltrado, sob falsa identidade, em empresas ou camadas desprivilegiadas da sociedade. Entre os papéis que desempenhou estão um trabalhador temporário turco, um repórter do jornal sensacionalista Bild, mendigo, negociador de armas e trabalhador de call-center, submetido a jornadas de trabalho exaustivas. Em suas reportagens sob disfarce, ele relata as péssimas condições em que essas pessoas precisam viver e trabalhar na Alemanha. Günter Wallraff é considerado uma lenda.

As reações sobre seu novo projeto são divergentes. Um dos principais pontos das crítica é que Wallraff vai disfarçado a lugares ou regiões onde as reações de racismo ou discriminação são esperadas. "Seja em torcidas organizadas em Cottbus, em grupos de trilhas em Gummersbach ou simplesmente em qualquer rua, Wallraff busca o tempo todo as pessoas que não o querem, e documenta a aversão destas em imagens de solidão infinita", descreve o jornal taz.

O periódico conservador Die Welt vai além e o acusa de oportunismo: "Wallraf se veste e se maquia como um espantalho para se passar por um somali, o que já tem algo de mau gosto e pérfido. Ele faz uma imitação barata dessas pessoas, que ele só consegue ver como vítimas do racismo, e as usa para criar cenas bizarras."

"Jornalismo investigativo à antiga"

'Um Borat piorzinho'Foto: X Verleih

A revista Stern fala de "um Borat piorzinho", e critica o fato de, no atual filme, Wallraf não ter dado voz aos verdadeiros atingidos. "Ele deveria ter pedido para africanos e alemães afrodescendentes que vivem na Alemanha para fazer a viagem pelo país, ele deveria tê-los entrevistado, e depois mostrado as suas experiências, em vez de se apropriar dessa experiência como somali fantasiado."

Mesmo assim, sem dúvida com seu mais novo projeto, o autor chamou a atenção para o racismo no cotidiano e reavivou o debate na Alemanha. "Sem Günter Wallraff, o tema nunca voltaria aos canais de debate. Enquanto houver pessoas que duvidem que a discriminação racial ainda faz parte do dia-a-dia no país, alguém como Günter Wallraff ajuda a esclarecer" publicou a Stern.

Na opinião do Frankfurter Allgemeiner Zeitung, o trabalho de Wallraff "continua surpreendentemente atual" e elogia o retorno do jornalismo investigativo à moda antiga.

MN/ff/dpa
Revisão: Augusto Valente

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