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Filme resgata histórias por trás das fotografias de Sebastião Salgado

Fernando Caulyt17 de abril de 2014

Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, fala sobre a parceria com Wim Wenders e a experiência de realizar um filme sobre um dos maiores fotógrafos do Brasil. "Pude compreender melhor as experiências que ele teve."

Juliano Salgado, Sebastião Salgado e Wim Wenders: filme concorre em mostra paralela de CannesFoto: Thierry Pouffary/Decia Films

O Brasil vai estar representado na 67ª edição do Festival de Cannes com um filme sobre a vida e a obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, de 70 anos. Participante da mostra Un Certain Regard, a produção The salt of the earth é dirigida pelo filho do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado, e pelo cineasta alemão Wim Wenders.

Em entrevista à DW, Juliano explica como surgiu a ideia de realizar o filme sobre seu pai, como foi trabalhar com Wim Wenders e a influência dos projetos Exodus e Genesis na vida de Sebastião Salgado. O filme, ainda sem título oficial em português, não tem previsão de ser lançado no Brasil.

De acordo com Juliano, a proposta do filme foi resgatar os 40 anos de trabalho fotográfico de Sebastião Salgado, que conseguiu explorar com um olhar único tragédias humanas e, também, as pessoas, a natureza e o mundo animal.

"E, como as fotografias registram um instante, e não a vida dessas pessoas que passaram pelo caminho de Sebastião, havia então um espaço para fazer um filme no qual ele poderia contar coisas que poucos sabem e relatar situações que poucos vivenciaram", disse.

DW Como surgiu a ideia de realizar um documentário sobre a vida de Sebastião Salgado?

Juliano Ribeiro Salgado – Havia uma distância entre mim e meu pai. Cada um estava seguindo o seu caminho, até o dia em que o Sebastião insistiu muito que eu o acompanhasse numa de suas viagens, pois, além de ter a oportunidade de passar mais tempo com ele, eu poderia registrar cenas de como ele trabalhava, o que era uma coisa que ninguém até então havia feito. E, por conta disso, com o convite, passei alguns dias com o meu pai na Amazônia, quando ele foi visitar o povo indígena Zo'é. E, de repente, tivemos a oportunidade, durante a viagem, de ter um diálogo muito legal, de pai para filho. E isso meio que abriu a porta para outras viagens.

E como o cineasta Wim Wenders apareceu na história?

Ao mesmo tempo que o diálogo entre mim e meu pai estava se intensificando, a ideia de realizar um filme sobre a vida do Sebastião foi se instalando. Nesse mesmo período, Wim Wenders, que admira muito o trabalho do Sebastião, apareceu no nosso universo e demonstrou interesse em também realizar um filme sobre meu pai.

E o passo decisivo foi que, por sermos pai e filho, existem coisas sobre as quais você não consegue falar com seu pai. E eu precisava encontrar alguém que tivesse uma visão neutra, de fora, uma pessoa de cinema, com a qualidade de poder entender imagens. O Wim era o candidato ideal, e ele queria participar do filme.

Qual foi a abordagem que vocês utilizaram?

Durante os 40 anos do trabalho do Sebastião, devido ao trabalho de repórter fotográfico, ele explorou lugares de tensões e situações difíceis, como guerra e fome. Com o seu jeito único de trabalhar, ele sempre teve muita empatia com as pessoas que ele encontrava. E, como as fotografias registram um instante, e não a história de vida dessas pessoas que passaram pelo caminho de Sebastião, havia então um espaço para fazer um filme no qual ele poderia contar coisas que poucos sabem e relatar situações que poucos vivenciaram.

Wenders, Lélia Wanick e Sebastião Salgado: casal fundou em abril de 1998 o Instituto TerraFoto: Donata Wenders/Decia Films

Esse foi então o enfoque que eu e Wim resolvemos dar: acompanhar a carreira do Sebastião para entender como ele tinha se transformado no fotógrafo que é hoje, como o olhar dele permitiu que ele virasse o artista que é. Até o momento em que sua trajetória o levou para Ruanda, país onde presenciou dramas terríveis durante o genocídio.

Nessas viagens para a Ruanda, meu pai presenciou situações muito pesadas, tanto que num dado momento ele não conseguiu mais fazer fotografias e teve que se transformar. E, junto com a minha mãe [Lélia Wanick Salgado], com quem ele sempre planejou as reportagens que iria fazer, decidiu fundar o Instituto Terra e reflorestar uma grande área com mais de 2,5 milhões de árvores plantadas [em Aimorés-MG].

Wim e eu achamos essa história muito bonita e resolvemos contá-la. Wim realizou várias entrevistas com Sebastião para ouvir as histórias que ele vivenciou como fotógrafo, enquanto eu filmei Sebastião durante várias viagens dele. Também havia imagens antigas de momentos da história de nossa família. E o resultado foi que passamos um ano e meio juntos na sala de edição para conseguir transformar todos esses registros da história de Sebastião num filme.

Como foi trabalhar com o cineasta Wim Wenders?

Foi um aprendizado maravilhoso. É um dos diretores mais criativos e sensíveis. Ele, muito gentilmente, aceitou entrar nessa história entre pai e filho, e nos deu um presente lindo ao aceitar participar do filme. Pessoalmente, foi uma experiência enriquecedora trabalhar com ele.

Sebastião Salgado sempre viajou muito e você não tinha tanto contato com ele. Durante e depois do projeto, o que você conseguiu aprender sobre seu pai?

Eu descobri muita coisa sobre ele e a gente se aproximou muito. Ele passou por experiências muito complicadas, e todo esse universo, que é muito importante para a história de vida dele, eu não conhecia. Hoje vejo a história de Sebastião de maneira mais completa, não apenas como meu pai, mas também pude observá-lo de fora, como um personagem de um filme, o que me permitiu compreender melhor as experiências que ele teve.

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