Em "Onde está você, João Gilberto?", diretor franco-suíço Georges Gachot reproduz os passos do jornalista Marc Fischer, que queria, além de finalmente se encontrar com o músico brasileiro, ouvi-lo tocar "Ho-ba-la-lá".
Anúncio
Um artista excêntrico que revolucionou a música brasileira e há décadas vive recluso; um jornalista alemão obcecado por esse cantor e que tem um fim trágico; e um diretor de cinema franco-suíço fascinado pela história desses dois: são estes os personagens principais do documentário Onde está você, João Gilberto?
Nele, o cineasta Georges Gachot refaz os passos da procura do jornalista Marc Fischer por João Gilberto no Brasil. O filme é baseado no livro Ho-ba-la-lá: Á procura de João Gilberto, lançado em 2011.
Quer acompanhar a DW Brasil no Youtube?Clique aqui
Na obra, Fischer documentou sua jornada compulsiva para encontrar o criador da bossa nova. O jornalista, porém, não pôde vivenciar o sucesso do livro, traduzido também para o português. Uma semana antes do lançamento na Alemanha, em abril de 2011, ele se matou em Berlim.
"Onde está você, João Gilberto?"
01:39
"O livro me apresentou uma nova forma de fazer um filme sobre João Gilberto, diferente de um perfil. Era uma história muito boa para um roteiro. Depois de lê-lo, pensei em me encontrar com o autor, mas logo descobri que ele morrera", conta Gachot.
O diretor procurou, então, os pais do jornalista em Hamburgo e, além da autorização para produzir o documentário, recebeu também todo o material reunido por Fischer durante sua pesquisa para o livro.
"O Marc gostava muito de João Gilberto. Nós dois somos habitados pelo mesmo desejo de encontrar um grande artista como o João Gilberto", acrescenta Gachot, que é conhecido por dirigir documentários sobre artistas da música, como Maria Bethânia (Música é perfume), Nana Caymmi (Rio Sonata) e Martinho da Vila (O samba).
Em sua busca, Fischer alimentava um desejo, para além de tentar desvendar os mistérios que envolvem a reclusão do compositor e descobrir a essência do ritmo que criou junto com outros artistas: ele queria sobretudo vivenciar João Gilberto tocando Ho-ba-la-lá, a primeira canção do brasileiro que ele ouviu, durante uma viagem ao Japão.
Uma aura enigmática e obscura aproxima as histórias pessoais de Fischer e João Gilberto. Apaixonado por música, o jornalista sofria de depressão e, sem dar sinais da tragédia que estava por vir, se matou com apenas 40 anos, poucos meses depois de sua jornada à procura do artista pelo Brasil.
Já João Gilberto vive recluso, praticamente sem ter contato com amigos e filhos, e enfrenta uma batalha judicial e uma possível ruína financeira, originada após o cancelamento de uma turnê planejada por sua esposa. Em novembro de 2017, sua filha Bebel conseguiu uma interdição temporária do músico na Justiça. O processo corre em segredo. Em abril deste ano, dívidas levaram o cantor a ter que deixar o apartamento onde morava, no Leblon.
Durante quatro anos, Gachot trabalhou no projeto do documentário e nunca perdeu a esperança de encontrar João Gilberto. "Não para fazer uma entrevista, pois aí seria outro filme, mas para ele tocar Ho-ba-la-lá", conta.
No filme, Gachot entrevista músicos que foram próximos ou tiveram algum contato com o cantor, como Miúcha, ex-mulher de João Gilberto e mãe de Bebel Gilberto, João Donato, Roberto Menescal e Marcos Valle. Ele também se encontra com antigos amigos do compositor em Diamantina e conversa com personagens do atual cotidiano de João Gilberto.
A reprodução de Gachot da busca obsessiva por João Gilberto, relatada por Fischer, é também uma homenagem ao jornalista. "Dedico o filme ao Marc, mas também a todas as pessoas que querem encontrar o João Gilberto ou tentar entender por que ele inventou a bossa nova", comenta o diretor.
O documentário de Gachot será lançado nos cinemas brasileiros em 23 de agosto.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp
Poucos compositores foram tantas vezes modelo para artistas plásticos quanto Beethoven. Desde retratos de contemporâneos seus até a pop art de Warhol, as inúmeras visões do músico testemunham uma popularidade universal.
Foto: picture alliance/H. Lohmeyer/Joker
Cabeleira carismática
Olhar sério, expressão ligeiramente severa, juba de leão: poucos compositores ostentam uma imagem tão popular como a do alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). <br>No entanto, foram sobretudo os retratos do fim de vida que fixaram essa imagem de artista revolucionário, combativo e difícil. <br><br>
Foto: AP
Conquistando Viena
Nesta miniatura de 1803, da autoria de Christian Hornemann, o jovem músico dá uma impressão enérgica, sublinhada pela ponta de um sorriso. Na época, Beethoven acabara de angariar o apoio de alguns dos mais influentes mecenas da nobreza vienense.
Visita ao príncipe
Até ambos se desentenderem, um dos primeiros benfeitores do compositor foi o príncipe Carl von Lichnowsky. Datado de 1900, o quadro "Beethoven toca na casa de Lichnowsky", de Julius Schmid, parece já antecipar a desavença entre o nobre e o voluntarioso artista.
Foto: picture-alliance/akg-images
Orgulho e autoconfiança
Em 1812, na cidade de Teplice, Boêmia (hoje República Tcheca), Beethoven se encontrou com Johann Wolfgang von Goethe. É lá que ocorreu o lendário e escandaloso "passeio": enquanto o autor se curvava respeitosamente diante de um príncipe, o compositor passou direto, de cabeça erguida. Pelo menos foi assim que Carl Rohling imaginou a revolucionária cena, seis décadas após a morte do músico.
Foto: Wikipedia public domain
Música e revolução
Beethoven não trilhou apenas caminhos musicais inéditos, mas também se deixou inflamar pelas ideias da Revolução Francesa. Nesta pintura de 1804, Willibrord Joseph Mähler o retratou portando uma lira diante do Templo de Apolo. Seu gesto peremptório parece indicar o desejo de inovação.
Foto: picture-alliance/ dpa
Marca registrada
Não há dúvida: Ludwig van Beethoven foi um dos artistas mais populares de seu tempo. Prova disso são os relativamente numerosos retratos que chegaram até nós. Um dos mais conhecidos é este de 1820, em que Joseph Karl Stieler o apresenta com a partitura da "Missa Solene" na mão.
Foto: CC
Variante pop
Comparado a seus colegas pintores, Stieler retratou Beethoven de forma mais idealizada, não tanto realista. Mais tarde, o quadro a óleo serviria de modelo para gravuras, onde os contornos eram naturalmente enfatizados. E certamente não foi por acaso que o norte-americano Andy Warhol escolheu justamente esse retrato para suas manipulações no estilo da pop art.
Foto: AP/The Andy Warhol Museum
Motivo de street art
Também em Bonn, cidade natal do artista, há uma série de variações do quadro de Stieler. Seja como escultura em pedra, diante da Beethovenhalle, seja como afresco, ou – bem próximo à casa onde nasceu e que hoje é um museu – como grafite no muro de uma residência.
Foto: DW
Cada nota, uma luta
Só após a morte de Beethoven, em 1827, a posteridade ficou sabendo que a criação musical não era para ele uma tarefa simples. Relatos de contemporâneos que o vivenciaram no ato de compor influenciaram a imagem do maestro enredado na luta implacável e incondicional pela obra perfeita. Como neste quadro de Carl Schlösser, feito por volta de 1890.
Foto: picture-alliance / akg-images
Gênio e loucura
As geniais obras beethovenianas deixavam perplexos seus contemporâneos. Para as gerações subsequentes de compositores, por outro lado, elas se impuseram como modelo e parâmetro difícil de superar. Talvez por isso pareça quase demoníaca esta visão de Hermann Torggler, criada em 1902 a partir da máscara mortuária do compositor.
Foto: ullstein bild - Lombard
Ícone pop
Pouquíssimos compositores eruditos são tão conhecidos hoje no mundo inteiro como Ludwig van Beethoven – e não só graças à indefectível bagatela para piano "Para Elise"! A biografia do músico foi dramatizada várias vezes para o cinema, e até mesmo transformada em desenho animado (foto) e história em quadrinhos.