Filme sobre Grace Kelly abre Festival de Cannes
13 de maio de 2014
Algumas cadeiras ficaram desocupadas na cerimônia de abertura do Festival de Cinema de Cannes, na noite desta quarta-feira (14/05). Em protesto contra a estreia mundial de Grace: A princesa de Mônaco, a nobreza monegasca cancelou a sua participação na 67ª edição do glamoroso evento, que se realiza até o próximo dia 25 de maio.
Dirigido pelo cineasta Olivier Dahan, Grace: A princesa de Mônaco já estava escolhido há tempos comos filme de abertura. O diretor trouxe para a tela alguns anos decisivos da vida da atriz hollywoodiana Grace Kelly, que se tornou princesa de Mônaco.
No filme biográfico e com elenco estrelado, Nicole Kidman tem o papel principal. Grace Kelly e o príncipe Rainier 3° conheceram-se durante o Festival de Cannes em 1955. Ao longo da Côte d'Azur, de Mônaco para Cannes são apenas alguns quilômetros. Mas o filme não agradou à casa principesca. Já durante os preparativos do filme, membros da família haviam se intrometido no roteiro.
Princesa depressiva
Para eles, o que o diretor trouxe para as telas foi crítico demais. Dahan se concentrou nos anos da mudança de Grace Kelly de Hollywood para Mônaco. A jovem estrela do cinema, que já havia chegado ao ápice de sua carreira aos 25 anos de idade, partiu para a Europa ao lado de Rainier.
A jovem princesa corria o risco de ser esmagada pelo peso das novas responsabilidades e pelas expectativas do principado. Além disso, o seu marido exigiu que ela abandonasse a carreira cinematográfica – apesar de ninguém menos que Alfred Hitchcock querer filmar novamente com a atriz. No entanto, ela acabou cedendo aos desejos do marido – e tornou-se depressiva.
Uma segunda linha narrativa descreve as turbulências diplomáticas entre o principado e a França. No passado, Charles De Gaulle, presidente francês entre 1959 e 1969, queria dar um fim ao status de paraíso fiscal de Mônaco. O pequeno principado ficou isolado política e economicamente e acabou cedendo à pressão de Paris.
Tudo isso parece ter sido demais para a casa principesca. No filme, há uma distorção da história familiar para fins comerciais, segundo o governo em Monte Carlo, que afirma que Grace: A princesa de Mônaco é "historicamente impreciso", "desnecessariamente glamorizante" e em grande parte pura ficção. Por esse motivo, a família principesca afirmou que boicotará o filme de abertura de Cannes.
Grandes nomes, poucos novatos
Mas Cannes deverá superar a ausência da família monegasca. Grace: A princesa de Mônaco poderá ser visto nos cinemas um dia após a sua estreia mundial em Cannes. Como a maioria dos filmes de abertura de um grande festival, ele está fora de competição, e a confusão inicial logo deverá ser esquecida.
O burburinho ficará por conta da corrida pela Palma de Ouro, que ainda é o prêmio mais importante de um festival de cinema em todo o mundo. Neste ano, diversos grandes nomes marcarão presença mais uma vez em Cannes – apesar das muitas críticas que antecederam ao festival, afirmando que o evento apostaria demais em artistas e produções estabelecidas e negligenciaria os novos talentos.
Novamente, a maioria dos filmes em competição vem da França. Aos 83 anos de idade, o velho mestre Jean-Luc Godard está competindo com o filme em 3D Adieu au Langage ("Adeus à linguagem", em tradução livre), enquanto o diretor Betrand Bonello trouxe para as telas uma biografia do costureiro Yves Saint-Laurent. Além disso, após o sucesso mundial de O artista, a mostra competitiva também conta com o novo filme de Michel Hazanavicius: um remake de The Search, de 1948 e que no Brasil ganhou o título de Perdidos na Tormenta.
Da Bélgica vêm dois ex-vencedores da Palma de Ouro, os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne com Deux Jours, une nuit ("Dois dias, uma noite"). O Reino Unido enviou os velhos mestres do cinema crítico-social Ken Loach, com o filme Jimmy's Hall, e Mike Leigh, com Mr. Turner. Outros nomes europeus conhecidos estão na competição oficial e a nova obra do diretor turco Nuri Bilge Ceylan – Winter Sleep ("Sono de inverno") – está sendo aguardada com ansiedade.
Cinema da África
Neste ano, a presença hollywoodiana é modesta. Os cineastas Bennett Miller (Foxcatcher) e Tommy Lee Jones (The Homesman), conhecido antes como ator, não estão entre os grandes diretores do cinema. Mas do Canadá vêm três dos mais interessantes cineastas do cinema mundial: David Cronenberg (Maps to the Stars), Atom Egoyan (The Captive) e o jovem prodígio Xavier Dolan (Mommy).
Filmes da Rússia, Argentina e Japão completam a lista de 18 produções da seleção oficial do festival. Uma surpresa bastante agradável foi o fato de um filme africano (Timbuktu, de Abderrahmane Sissako, da Mauritânia) ter conseguido chegar à prestigiada competição oficial.
Nem o Brasil nem a Alemanha estão presentes na seleção oficial do Festival de Cannes deste ano. Em Un certain regard (Um certo olhar), a principal mostra paralela do festival, o diretor alemão Wim Wenders está presente com um documentário sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado (O sal da Terra).
Para marcar os 30 anos de Paris, Texas, filme com o qual Wender ganhou a Palma de Ouro em 1984, o diretor alemão vai exibir numa sessão de gala uma versão restaurada de sua obra-prima.