Filme "Yesterday" reinventa magia das canções dos Beatles
Jochen Kürten av
26 de junho de 2019
E se ninguém conseguisse se lembrar dos sucessos dos Beatles, a não ser um músico de rua? Cineasta Danny Boyle tomou essa ideia como seu ponto de partida. Tanto um estreante quanto um astro pop inglês compõem o elenco.
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A ideia básica de Yesterday é original: o filme começa com um apagão global, durante 12 segundos tudo fica sem eletricidade. Nesse momento, o nem tão bem-sucedido guitarrista Jack Malik se choca de bicicleta contra um ônibus, perde dois incisivos e tem que ir para o hospital.
Quando volta a si, o mundo se transformou, pelo menos num detalhe fantástico. Na cama do hospital, Jack cantarola uma melodia dos Beatles que lhe passa pela cabeça. Sua agente e amiga de longa data Ellie (Lily James) fica só olhando-o, perplexa. Mas esse é só o começo.
Depois que o músico amador recebe alta, seus amigos organizam uma festinha de boas-vindas. A certa altura, ele pega o violão, canta e toca o hit dos Beatles Yesterday. Todos ficam admiradíssimos: de onde é que ele tirou essa canção tão incrível? O texto, a melodia, o arranjo, tão simples quanto genial?
Agora é a vez de Jack ficar perplexo: qualquer criança conhece Yesterday, aquela dos Beatles! Aí fica claro: nessa realidade alternativa, ninguém jamais ouviu falar nem dessa canção, nem do conjunto britânico. Nada de Let it be, She loves you ou do icônico LP Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Todos os álbuns dos Beatles sumiram das prateleiras, não existem gravações, nem uma única foto dos quatro músicos.
Essa é a premissa do filme, inverossímil, mas simpática. O diretor inglês Danny Boyle envia seu protagonista (representado por Himesh Patel, até então conhecido apenas por uma telenovela da BBC) numa fantástica viagem de sucesso musical. Aquele que até então só tocara seu instrumento em ruas de pedestres e bares mal-frequentados agora é dono de um tesouro musical incalculável.
E, na verdade, ele ao mesmo tempo se envergonha, pois nunca quis se vangloriar com os méritos alheios. Mas, como ninguém quer acreditar que já existiu uma banda pop chamada "The Beatles", o destino toma seu curso: Jack Malik é aclamado como superstar, genial compositor-cantor que atrai milhares às salas de shows.
Ele recebe reconhecimento e apoio de outro músico muito famoso. Ed Sheeran, que representa a si mesmo no filme Yesterday, tem que admitir que existe sobre a Terra um jovem ainda mais genial, nascido com o dom de fabricar um sucesso atrás do outro.
Danny Boyle alcançou status de diretor cult com o filme sobre música e drogas Trainspotting: Sem limites (1996). Seu Quem quer ser um milionário? (2008) abocanhou oito Oscars; e em 2015 ele prestou com Steve Jobs um tributo surpreendentemente crítico ao criador da Apple. Na verdade, ele estava agendado para dirigir o 25º James Bond, mas se desentendeu com os produtores, supostamente por diferenças artísticas.
Assim, com base num roteiro de Richard Curtis, Boyle voltou-se para mais uma "pequena" produção sobre música e milagres, sobre méritos britânicos, músicos de província e sonhos. As filmagens de Yesterday já haviam terminado quando chegou o cancelamento do projeto Bond mas, de algum modo, o filme combina mesmo melhor com o mundo desse cineasta de Manchester.
A ideia de mais uma vez reinventar os Beatles para a tela grande tem seu charme. O principal trunfo da realização cinematográfica é Himesh Patel, ator inglês de ascendência indiana e africana. Outro é Ed Sheeran, compositor, cantor e produtor que convence como ator, apresentando-se simpático e discreto, num papel que permite até um olhar autoirônico sobre a própria carreira.
E a música, claro, contribui para o sucesso da comédia romântica. Mesmo não sendo os quatro legendários cabeludos a cantar e tocar a mais de uma dúzia de canções inesquecíveis, e sim o simpático Patel, a maior parte dos espectadores de hoje não conseguirá escapar da magia beatlemaníaca.
Após a estreia mundial no Tribeca Festival de Nova York e sessões isoladas em festivais americanos menores, Yesterday chega às salas de exibição brasileiras em 29 de agosto, após ser lançado em 28 de junho nos Estados Unidos e 11 de julho na Alemanha, entre numerosos outros países.
De clássicos como "King Kong" e "Oito e meio" ao sucesso recente de "Ave, César!", há quase um século o próprio processo de produzir filmes tem se provado tema fascinante para cineastas e público.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/UIP
"Cantando na chuva" (1952)
O famoso musical enfoca a Hollywood da década de 20, na transição do filme mudo para o sonoro, quando a súbita pressão para representar com a voz representou o ocaso para diversos astros e estrelas do cinema. As sequências cantadas e dançadas com Gene Kelly (foto), Debbie Reynolds e Donald O'Connor são um forte tributo ao gênero musical da época.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
"King Kong" – original e remakes
Com um macaco-monstro e efeitos especiais icônicos, a versão de 1933 de "King Kong" foi um marco da história do cinema. Seguiram-se várias refilmagens, destacando-se as de 1976, com Jessica Lange e Jeff Bridges, e 2005 (foto), dirigida por Peter Jackson. O misto de história de amor bestial e thriller acompanha uma equipe cinematográfica à Ilha da Caveira, onde se depara com o colossal gorila.
Foto: Presse
"Bancando o águia" (1924)
Essa comédia muda foi possivelmente a primeira produção a revelar aos espectadores os bastidores da indústria cinematográfica. Em sonho, o projecionista Buster assume o papel do detetive Sherlock Holmes, resolve um caso e conquista o amor da mocinha. De volta à realidade, ele imita seu herói cinematográfico. "Sherlock Jr." é considerada uma das obras mais importantes do americano Buster Keaton.
Foto: AP
"O artista" (2011)
Também em "O artista", dois atores se encontram na transição para o filme sonoro. Rodado em preto-e-branco, com entretítulos e diálogo esparso, ele é uma homenagem à era do cinema mudo e uma declaração de amor à sétima arte. A produção francesa recebeu cinco Oscars e três Globos de Ouro, entre vários outros prêmios.
Foto: picture-alliance/dpa
"Crepúsculo dos deuses" (1950)
Em seu drama, Billy Wilder conta a história do cineasta fracassado Joe Gillis (William Holden) e da ex-diva das telas Norma Desmond (Gloria Swanson). O resultado é um retrato impiedoso da assim chamada "fábrica dos sonhos" Hollywood. O diretor evitou o quanto pôde revelar a trama a seus produtores, para evitar que o fizessem abrandar o tom crítico de seu "Sunset Boulevard" (título original).
Foto: AP
"O desprezo" (1963)
Jean-Luc Godard também retratou a comercialização do cinema nessa produção ítalo-francesa. Brigitte Bardot representa a esposa do roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), cuja relação sucumbe à ganância e desconfiança, nas engrenagens da indústria cinematográfica hollywoodiana.
Foto: picture-alliance/United Archives
"Ed Wood" (1994)
Em preto-e-branco, Tim Burton retratou aqui um outro cineasta americano. Ambicioso e profundo admirador do gênio Orson Welles, porém desprovido de talento e verba, Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp, dir. embaixo) produziu nos anos 50 uma série de filmes B com elementos de ficção científica e horror. Martin Landau recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel do ex-Drácula Bela Lugosi.
Foto: picture-alliance/United Archives
"O estado das coisas" (1982)
Um diretor igualmente enfrenta dificuldades financeiras neste filme do alemão Wim Wenders. Filmando em locação em Portugal, Friedrich Munro (Patrick Bauchau) decide ir pessoalmente para Los Angeles, quando as verbas e o material fotográfico esperados não chegam. Wenders inseriu diversas alusões a outros filmes e cineastas, como Friedrich Murnau, Fritz Lang e Roger Corman.
Foto: picture alliance / United Archives
"Deu a louca nos astros" (2000)
Escrita e dirigida por David Mamet, a comédia "State and Main" acompanha um caótica produção cinematográfica. Chegando a Vermont para filmar "O velho moinho", a equipe constata que cidade não tem mais um moinho. Aí a atriz principal súbito exige um cachê muito mais alto, o roteirista sofre bloqueio criativo, o protagonista passa a flertar com uma adolescente local (Julia Stiles, na foto).
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"8 1/2" (1963)
Clássico do cinema de autor, "Oito e meio", de Federico Fellini, gira em torno do cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), em meio a uma crise existencial acompanhada de bloqueio criativo. Claudia Cardinale (foto) representa a inalcançável Mulher Ideal. Portador dois Oscars, o filme é considerado uma obra prima do cinema autorrreferencial.
Foto: picture-alliance/dpa
"Boogie Nights: Prazer sem limites" (1997)
A ascensão e queda do astro pornô Dirk Diggler (Mark Wahlberg, esq.), discípulo e "galinha dos ovos de ouro" do diretor Jack Horner (Burt Reynolds), é pretexto para o também roteirista Thomas Paul Anderson traçar uma crônica do cinema pornográfico americano no fim da década de 70, às vésperas do ocaso de uma época áurea.
Foto: picture alliance / United Archives
"Ave, César!" (2016)
A comédia de Ethan e Joel Coen celebra a Hollywood dos anos 50, período em que a indústria cinematográfica sente a ameaça da competição pela televisão. Ao desaparecer misteriosamente do set de filmagens de um épico romano, o ator em decadência Baird Whitlock (George Clooney) representa um problema para Eddie Mannix, um produtor disposto a empregar drásticos para sanar os problemas do estúdio.