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Fim da linha para Delcídio, o "profeta do caos"

Jean-Philip Struck11 de maio de 2016

Senado cassa mandato do "homem-bomba" de Brasília, que denunciou Dilma, Lula, Cunha, Renan e Aécio na sua delação premiada e acabou dando novo impulso ao processo de impeachment da presidente.

Ex-senador Delcídio do Amaral
Foto: picture-alliance/dpa/P. Franca

Quase seis meses após a sua prisão, o senador Delcídio do Amaral chegou ao fim de sua carreira política nesta terça-feira (10/05), quando o plenário do Senado votou pela cassação do seu mandato, por 74 votos a favor e uma abstenção.

Ex-líder do governo na casa, Delcídio, de 61 anos, virou um "homem-bomba" quando passou a colaborar com a Justiça e denunciou 74 pessoas, entre elas a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em uma entrevista, ele se autodenominou um "profeta do caos" e deixou claro que queria se vingar do governo, a quem acusou de usá-lo e depois abandoná-lo.

Em março, a divulgação pela imprensa da sua colaboração com a Justiça acabou influenciando o processo de impeachment de Dilma, que estava parado desde dezembro, dando novo ânimo aos oposicionistas e às manifestações de rua contra a presidente. Foi a partir dessa delação que o primeiro pedido de investigação de Dilma foi feito.

Delcídio pode ter sido expulso do Senado, mas os efeitos das suas acusações ainda serão sentidos pelos próximos meses.

Do PSDB ao PT

Ao longo de décadas, a trajetória de Delcídio esteve ligada ao setor de energia. Ele foi funcionário da Shell no final dos anos 80 e depois passou a ocupar cargos governamentais em estatais, como Eletrosul, Vale e Petrobras. Em 1994, chegou a assumir interinamente o Ministério de Minas e Energia por cerca de três meses.

O passo a passo do impeachment

03:07

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Na Petrobras, foi diretor de Gás e Energia durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi lá que seu caminho cruzou com Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, outros dois delatores da Operação Lava Jato.

No final do governo Fernando Henrique, Delcídio se aproximou do PT. Antes, ele chegou a ser filiado ao PSDB entre 1998 e 2001. Em 2002, já no PT, pegou carona na vitória de Lula e se elegeu senador pelo Mato Grosso do Sul, seu estado natal.

Nessa época, candidatou-se duas vezes ao governo do Estado, mas perdeu em ambas. Em 2010, quando se reelegeu senador, empresas do lobista Júlio Camargo, apontando como um dos integrantes do esquema do Petrolão, estavam entre os seus doadores de campanha.

Delcídio recebeu projeção nacional pela primeira vez em 2005, durante a CPI dos Correios, que ele presidiu. A comissão investigou crimes relacionados ao mensalão. Em sua delação, o senador afirmou que os trabalhos foram influenciados por Lula, que queria a exclusão do seu nome e de um dos seus filhos do relatório final.

Em abril de 2015, o governo Dilma, já debilitado pelos conflitos políticos, escolheu Delcídio para ser líder no Senado. No período em que ocupou a posição, ele pouco conseguiu fazer para debelar a crise. Ao final contribuiu para incendiá-la ainda mais quando se tornou o primeiro senador em exercício a ser preso em flagrante.

"Errei, mas não sou corrupto"

Em 25 de novembro, a notícia da sua prisão caiu como uma bomba em Brasília. Delcídio foi acusado de oferecer ajuda para elaborar um plano de fuga para Cérvero, seu antigo colega de Petrobras, que estava na iminência de assinar um acordo de delação com os procuradores da Lava Jato. A oferta incluía ainda uma mesada pelo silêncio do ex-executivo da estatal. A conversa entre Delcídio e Cerveró, sobre a oferta, foi gravada pelo filho deste, Bernardo, um ator.

Ao tomar conhecimento do caso, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão do senador. A decisão foi confirmada pelo Senado pouco depois. A partir daí, Delcídio substituiu Cerveró no posto de "homem-bomba" do governo, e começaram as especulações se ele revelaria o que sabia.

A delação de Cerveró acabou sendo homologada e implicou o próprio Delcídio. Segundo Cerveró, o senador recebeu milhões em propinas relacionadas com a Petrobras e outras empresas ao longo da sua carreira.

Já a delação de Delcídio começou a se desenhar depois da sua prisão, quando o PT tratou de se distanciar do senador. Interlocutores relataram que o senador ficou furioso por ter sido abandonado pelo governo. Em entrevistas, Delcídio afirmou que fez a oferta a Cerveró a mando de Lula. O ex-presidente nega.

Em fevereiro, Delcídio foi solto após negociar um acordo. As implicações da delação começariam a ter efeito no mês seguinte, com a publicação do conteúdo dela pela imprensa. No documento, Delcídio afirmou que Dilma usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros, ao nomear o ministro Marcelo Navarro para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), e tentou sabotar a Lava Jato com a ajuda de José Eduardo Cardozo, que ocupava o Ministério da Justiça.

Além de Dilma e Lula, Delcídio também fez acusações contra o deputado Eduardo Cunha, os senadores Renan Calheiros e Aécio Neves e o vice-presidente Michel Temer. Todos negam as acusações.

Nas últimas semanas, ele passou a falar frequentemente com a imprensa. "Errei, mas não sou corrupto", disse numa entrevista. Num lance surreal, o próprio Delcídio, já em liberdade condicional, tomou parte nos protestos de rua de 13 de março, comparecendo ao ato contra o governo, na Avenida Paulista. Ele afirmou ter usado um capacete de motociclista para evitar ser reconhecido.

Três dias depois, o acordo com a Justiça foi homologado. No mesmo dia, ele pediu desfiliação do PT. O acordo prevê que ele terá que devolver 1,5 milhão de reais aos cofres públicos por seu envolvimento com o esquema de desvios na Petrobras e que ficará dois anos em prisão domiciliar.

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