Nos dez partidos que mais receberam até agora, homens brancos lideram média de repasses. Salvo poucas exceções, negros ficaram com os menores valores. Veja gráficos com distribuição por gênero e raça.
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A duas semanas da eleição, a distribuição do financiamento público de campanha entre os dez partidos mais beneficiados por esses recursos continua a priorizar homens e, principalmente, brancos.
A análise da DW baseia-se em dados das prestações de contas à Justiça Eleitoral compilados pela plataforma 72 Horas até a manhã de 16 de setembro, considerando apenas os dez partidos campeões de receitas públicas. Juntas, essas siglas detêm R$ 3,86 bilhões, ou 75% das verbas públicas que irrigaram a campanha até então. Elas são: União Brasil, PT, PP, MDB, PSD, PL, PSDB, Republicanos, PSB e PDT.
Os cálculos desconsideram os repasses às candidaturas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Em todos os partidos analisados, homens tiveram, em média, mais recursos à disposição do que mulheres – no PDT, mais do que o dobro. Mas a disparidade é muito maior entre brancos e negros (pretos e pardos).
Nenhuma das dez siglas tem cumprido a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de destinar uma fatia proporcional dos recursos públicos à quantidade de candidaturas negras. Já PSD, PT, PSB, PL e PDT ainda não atingiram a cota mínima de 30% das verbas para candidaturas femininas, fixada em lei.
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Homens brancos: até cinco vezes mais recursos que mulheres negras
Homens brancos são os mais bem financiados, levando a melhor sobre homens negros, mulheres brancas e mulheres negras em todas as siglas, sem exceção. Mulheres brancas vêm em segundo lugar, com exceção de União Brasil e PL.
Há um abismo separando homens brancos e mulheres negras. Estas são, em média, o segmento mais desfavorecido desta eleição até agora em quase todos os partidos, à exceção de União Brasil, PT, Republicanos e PSDB – tucanos brancos, sejam homens ou mulheres, têm, em média, cerca de três vezes mais recursos de campanha que seus pares negros. Já no PDT, os homens brancos tiveram quase cinco vezes mais que as mulheres negras.
No PL de Jair Bolsonaro, quatro em cada dez candidatos negros (39,6%) ainda não haviam declarado sequer um centavo em receitas do fundo público de campanha. Situação similar se repetia no PSDB (31,5%), no PP (29,3%) e no MDB (28,3%).
As verbas públicas são cruciais para as candidaturas, já que constituem a principal fonte de receita das campanhas, desde a proibição de doações empresariais, em 2016. Elas são compostas pelo Fundo Especial de Financiamento de Campanha e pelo Fundo Partidário, e respondem até agora por mais de 90% do orçamento disponível declarado pelos partidos à Justiça Eleitoral.
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.