Fischer: Powell é amigo e profissional correto
10 de dezembro de 2004Em sua última viagem pela Europa na condição de secretário de Estado norte-americano, Colin Powell (67) assegurou que a América do Norte "estende sua mão aos europeus e espera que estes façam o mesmo". Este gesto de aproximação ficará expresso na visita do presidente George W. Bush à Europa, a partir de 22 de fevereiro, praticamente um mês depois de reempossado no cargo.
Segundo Powell, a intenção de Bush é aparar as arestas entre os Estados Unidos e os críticos à guerra no Iraque.
A visita recebeu elogios do ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer. É altamente simbólico o fato de Bush não só visitar a aliança atlântica, mas também a União Européia (UE), acrescentou o chefe da diplomacia alemã. Para ele, os desafios da política de segurança do século 21 requerem novos consensos. "Há muito já ficou evidente que neste aspecto a UE e a Otan têm os mesmos interesses", disse Fischer.
Política da união de forças
"É preciso mobilizar as reservas de forças da Europa e da América para combater os perigos e desafios do nosso século", salientou Powell. Toda oportunidade deve ser aproveitada para elogiar uma mobilização democrática no nosso mundo. A política de isolamento de nações problemáticas, desenvolvida durante a Guerra Fria, já não é mais atual, destacou o secretário de Estado, para quem também é importante estender a parceria entre EUA e bloco europeu para fora da Europa.
O elemento mais importante do pensamento norte-americano se concentraria na Organização do Tratado do Atlântico Norte, embora a UE também seja importante. "Washington apóia a integração e aceita capacidades militares dentro do bloco, mas somente a Otan continuará sendo o instrumento de ação da parceria transatlântica", ressalta.
Críticas à falta de participação no Iraque
Nem tudo foram flores, no entanto, na viagem de despedida do chefe da diplomacia norte-americana pela Europa. Sua crítica à reduzida disposição de alguns membros da Otan em enviar soldados e principalmente instrutores ao Iraque foi recebida com indignação pelo ministro alemão da Defesa.
Direto de Abu Dabi, onde visita comandos alemães que treinam soldados iraquianos no deserto, Peter Struck lembrou que a Alemanha é o único país que já presta na prática a ajuda em forma de treinamento à qual havia se comprometido.
Além da Alemanha, também a Espanha, Bélgica, Grécia rejeitam o envio de soldados de seus países no âmbito de uma missão da Otan ao Iraque.
A aliança militar ocidental havia confirmado apoio aos Estados Unidos neste sentido, durante o encontro de cúpula na Turquia em junho. No caso de uma missão da Otan no Iraque, estes países pretendem tirar seus oficiais da liderança militar da organização.
Despedida entre amigos
Por estar no cargo há mais tempo que seus colegas de pasta da Otan, Fischer assumiu as (in)formalidades da despedida de seu amigo norte-americano em Bruxelas. Powell, que Fischer disse ter aprendido a enxergar como um "parceiro de confiança", é um defensor convicto das relações transatlânticas. "Powell é um amigo de nosso país e se portou como um secretário de Estado correto, leal e profissional tanto antes como durante e depois da guerra no Iraque", salientou o ministro.
Não faltou nem cerveja alemã. Como gesto de amizade, Fischer presenteou Powell com algumas garrafas de Flensburger, a tradicional cerveja do norte da Alemanha. Um gesto que já virou tradição, como explica o secretário de Estado:
"É uma pequena brincadeira que eu e Joschka praticamos há alguns anos. Certa vez, eu lhe disse que admirava aquela cerveja alemã com a tampa basculante que faz aquele barulho característico ao ser aberta. Prontamente ele me enviou uma caixa, o que me me deixou muito feliz."
Em sinal de respeito ao ministro alemão do Partido Verde, Powell disse ter guardado as garrafas vazias para devolvê-las diretamente a Fischer.