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Política monetária

21 de junho de 2010

Uma semana antes do encontro do G20, no Canadá, a China anuncia que irá aumentar a flexibilidade do câmbio da moeda do país, que se mantinha acoplada ao dólar. Medida é vista como necessária por especialistas.

Valorização do yuan: Pequim quer se precaver de pressões durante encontro do G20Foto: AP

Mal o Banco Central Chinês anunciou, no último sábado (19/06), que o yuan não permaneceria mais atrelado somente ao câmbio do dólar, Qin Gang, o porta-voz do governo, deu uma entrevista à imprensa minimizando a euforia desencadeada pela notícia nos EUA.

O câmbio da moeda chinesa esteve atrelado ao dólar desde o início da crise econômica e financeira internacional, em 2008. Com a medida, Pequim incentiva as exportações do país, uma vez que as mercadorias chinesas se tornam atraentes para o mercado internacional.

"Achamos inadequado que, na cúpula do G20, fale-se sobre o câmbio do yuan. Vamos continuar reformando nossa política cambial, mas através de passos próprios, independentes e controláveis. Somos contra a politização deste assunto. Faremos frente a todos aqueles que quiserem exercer pressão nesse sentido", afirmou Qin Gang.

"Montando para o mundo"

Sob a perspectiva chinesa, o Ocidente, especialmente os EUA, exercem no momento esse tipo de pressão. Políticos norte-americanos responsabilizam a China pelo alto déficit comercial e pela perda de empregos no próprio país. As acusações são de que as mercadorias chinesas são excessivamente baratas, devido ao baixo câmbio do yuan, mantido pelo governo de Pequim.

Esse argumento, contudo, não é apenas indefensável para os economistas chineses, como também para David Zweig, especialista norte-americano que vive em Hong Kong. "Nos anos da crise financeira, a China foi a região na qual as exportações norte-americanas mais cresceram. Quando as empresas estão em busca de regiões em crescimento, elas vão para a China. Lá, as mercadorias são montadas e enviadas, de navio, para o consumidor final nos EUA. Esse é o modelo através do qual funcionam de 60 a 70% das exportações chinesas. De forma que vemos um problema de estatística. Chamamos a China de 'bancada de trabalho do mundo', mas, de fato, deveríamos dizer 'unidade de montagem do mundo'", analisa Zweig.

Retorno à normalidade

Ye Tan, colunista em Xangai especializada em economia, está convencida de que a flexibilização do yuan em relação ao dólar viria mais cedo ou mais tarde, como resultado de uma medida de retorno à normalidade no mercado financeiro. Entre 2005 e 2008, o yuan valorizou 21% em relação ao dólar, seguindo a orientação dos câmbios do euro e do yen japonês. Frente ao euro, o yuan já valorizou este ano em torno de 15%.

Câmbio da moeda chinesa vai ser gradualmente desatrelado do dólarFoto: (Foto: ap)

"Num país tão fixado na indústria de produção, a maioria dos executivos com os quais converso só querem uma coisa: um câmbio estável. Caso contrário, eles seriam obrigados a se comportar como os especuladores. Quando o câmbio do yuan sobe, aumentam os problemas das empresas. Elas tentam então escapar das exportações e produzir mais para o mercado interno", explica Ye Tan.

Equilíbrio entre economias interna e externa

Esse mecanismo condiz com a política econômica do governo, mas, mesmo assim, não deve haver mudanças econômicas radicais, acredita Ben Simpfendorfer, especialista em economia chinesa do Royal Bank of Scotland.

"Os chineses reconhecem que um câmbio moderadamente forte é muito importante para eles: para o equilíbrio entre as economias externa e interna. Mas os chineses só começaram há pouco a criar esse equilíbrio. Vai demorar uma década até que eles consigam escapar das exportações e da construção civil. O consumo privado não é forte o suficiente para fechar essa lacuna", opina Simpfendorfer.

Efeitos diversos

Analistas econômicos sustentam que a flexibilização do yuan terá efeitos diversos na economia chinesa. Enquanto as exportações podem sofrer com a valorização da moeda, importadores e companhias aéreas (que pagam o combustível em dólar) tiram proveito da situação. Nesta segunda-feira, os efeitos já se fizeram sentir nas bolsas de Xangai e Hong Kong.

Companhias aéreas chinesas: vantagens com a valorização do yuanFoto: picture-alliance/ dpa

Empresas estrangeiras atuantes na China também poderão enfrentar melhor a concorrência. Para os exportadores alemães de máquinas e equipamentos, por exemplo, a valorização do yuan pode ser útil, diz Ralph Wiechers, economista-chefe da Associação dos Fabricantes Alemães de Máquinas e Equipamentos (VDMA). Os produtos alemães ficarão mais baratos na China e, lá, diz ele, "o que conta é o preço".

De acordo com Wiechers, a flexibilização do yuan é um passo que já deveria ter sido dado, "porque os chineses, através do câmbio, podem influenciar positivamente sua exportação". Para os exportadores alemães de máquinas e equipamentos, a China tornou-se nos últimos anos o país mais relevante para exportar.

Mesmo no ano de crise que 2009 foi para o setor, empresas alemãs de médio e mesmo algumas de grande porte puderam ampliar as exportações para o mercado chinês.

O analista Heino Ruland, da Ruland-Research, acredita que "uma valorização do yuan poderá fortalecer a posição das empresas alemãs na concorrência do mercado chinês, também em função da recente desvalorização do euro".

Estratégia de Pequim

Em um ponto os economistas de todo o mundo estão de acordo: uma valorização súbita e forte do yuan é absolutamente improvável. Além disso, de acordo com uma pesquisa do Instituto Americano Peterson de Economia, o yuan, hoje, está 24% abaixo do seu valor real, sendo que no final do ano passado este número havia chegado a 40%.

Analistas acreditam, contudo, que a valorização da moeda chinesa possa ser mais uma estratégia de Pequim para escapar das críticas internacionais durante a próxima cúpula do G20, no Canadá. Parece claro que "o Banco Central Chinês anunciou mais reformas para se precaver contra uma possível guerra comercial com os EUA", sugere Lutz Karpowitz, especialista em divisas do Commerzbank.

"A mentalidade da China é bem clara: tem que haver estabilidade na economia mundial para que sejam dados novos passos. O mundo – especialmente os EUA, mas também a Europa – está instável. Essa é a preocupação dos chineses", analisa Horst Loechel, da China European Business School.

SV/dw/rtr/dpa/apn

Revisão: Roselaine Wandscheer

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