Focos de queimadas no Cerrado superam Amazônia em setembro
12 de setembro de 2019
Em menos de dez dias, foram registrados mais de 7 mil focos de incêndio no bioma do Pantanal, contra 6 mil na Amazônia, afirma o Inpe. Estados declaram emergência, enquanto estiagem prolongada agrava situação.
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No início de setembro, o bioma do Cerrado, que inclui o Pantanal, registrou quantidade maior de focos de incêndio do que a Amazônia, segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelados nesta quarta-feira (11/09).
Entre 1º de setembro e a última segunda-feira, houve 7.304 focos de incêndio no Cerrado, contra 6,2 mil na Amazônia, informou o Inpe. Os dados foram captados pelo satélite de referência Aqua, utilizado pelo instituto.
A tendência de aumento do fogo no bioma do Pantanal começou na última semana de agosto, ocasionando um fenômeno inverso ao que vinha ocorrendo no mês passado e desde o início do ano.
Nos 30 dias anteriores à data de 9 de setembro, foram 30.245 focos na Amazônia e 17.438 no Cerrado. Em todo o ano de 2019 até agora, foram registrados 53.023 focos de queimadas na Amazônia contra 34.839 no Cerrado.
Segundo o Programa Queimadas, o Cerrado registrou 44% mais focos de incêndios de 1º de janeiro a 10 de setembro (35.547) do que o observado no mesmo período em 2018 (24.625). No ano passado, não houve aumento nos focos de incêndio no bioma.
Especialistas afirmam que as causas dos incêndios seriam provavelmente humanas, já que a região atravessa um período de secas, sendo improvável a incidência de raios que poderiam iniciar a queima da vegetação. A propagação das chamas seria facilitada por uma onda de calor. Um dos locais atingidos é o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.
A cadeia criminosa que ameaça a Floresta Amazônica
07:18
O aumento dos focos de queimadas levou os governos do Mato Grosso e do Mato Gross do Sul a decretar situação de emergência. Essa condição permite pedir auxílio ao governo federal, além de ações como a compra de materiais sem licitação e a suspensão de contratos administrativos sem pagar rescisão.
No Mato Grosso, a medida assinada pelo governador Mauro Mendes menciona 8.030 focos de calor em agosto, o que, segundo o Inpe, equivale a um aumento de 230% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O decreto alertou ainda para a baixa umidade relativa do ar – entre 7% e 20% – e contra possíveis danos à saúde da população.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou um alerta de "grande perigo" para o Mato Grosso e destacou riscos para mais de 20 cidades do estado. É possível que nos próximos cinco dias a temperatura fique ao menos 5 ºC acima da média.
Já no Mato Grosso do Sul, o fogo destruiu cerca de um milhão de hectares em pouco mais de um mês, afetando principalmente a região do Pantanal, onde a estiagem já dura 45 dias. Em algumas localidades, as temperaturas podem ultrapassar os 40 ºC.
Em todo o Brasil, o município de Corumbá (MS) é o que apresenta o maior número de focos de incêndio (634) em setembro, com 254 pontos registrados apenas nesta quarta-feira, segundo o Inpe. Também neste mês, o estado teve o maior número de focos de incêndio desde 2008 (1.579). O recorde para setembro é de 5.380, registrados em 2007.
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.