"Foi ato de terrorismo", diz prefeito de Charlottesville
13 de agosto de 2017
Político democrata condena violência após marcha supremacista branca, que terminou com um morto e vários feridos em sua cidade, e afirma que retórica de Trump inflama movimentos extremistas de direita.
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O prefeito de Charlottesville, o democrata Mike Signer, assegurou neste domingo (13/08) que o atropelamento que, na véspera, deixou uma pessoa morta e mais de 20 feridos foi um "ato de terrorismo" e instou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a pôr um fim na situação.
"Foi um ato de terrorismo em que se usou um veículo como arma", dise Signer no programa Meet the Press da emissora NBC. "Corresponde a Trump dizer que já basta." Segundo ele, o presidente impulsionou grupos racistas com seus agressivos discursos. "Vejam a campanha eleitoral que fez."
Trump foi alvo de críticas depois que, no sábado, condenou "o ódio e o fanatismo" e qualificou de "terrível" o incidente, mas não citou expressamente os supremacistas brancos que tinham convocado a marcha, entre os que se encontrava David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan.
A cidade universitária de cerca de 50 mil habitantes na Virgínia, a apenas 200 quilômetros de Washington, acordou neste domingo consternada pela caótica jornada após os violentos choques provocados pela marcha de supremacistas brancos.
No sábado, um motorista investiu contra um grupo de manifestantes pacifistas depois que a marcha supremacista fora cancelada pelas autoridades. Como consequência, uma mulher de 32 anos morreu e outras 20 pessoas sofreram ferimentos de distintas gravidades.
Além disso, dois agentes da polícia estatal da Virgínia morreram na queda do helicóptero em que estavam ajudando nos trabalhos de vigilância para proteger a segurança na cidade.
Neste domingo, um porta-voz da Casa Branca tentou aplacar as críticas ao dizer que, quando condenou a violência, Trump também se referia a "supremacistas brancos, KKK, neonazistas e todos os grupos extremistas".
"O presidente disse de maneira muito forte em sua declaração no sábado que ele condena todas as formas de violência, intolerância e ódio ", disse o porta-voz da Casa Branca. "Ele pediu união nacional e que todos os americanos estejam unidos."
Filha e conselheira do presidente, Ivanka Trump escreveu no Twitter: "Não pode haver em nossa sociedade lugar para racismo, supremacia branca e neonazistas."
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
Foto: picture-alliance/akg-images
"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
Foto: Getty Images/S. Platt
"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
Foto: Haymarket Books
"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
Foto: picture alliance / Christian Charisius/dpa
"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
Foto: DW/M. Pedziwol
"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.