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Força política da Igreja Católica renasce em Cuba

Astrid Prange (pv)18 de setembro de 2015

De inimigo a aliado: antes da visita do papa Francisco, Vaticano é celebrado como mediador na reaproximação entre Havana e Washington. Mas a Santa Sé também deve se atentar às mudanças, não apenas o governo cubano.

Foto: picture-alliance/dpa/I. Risco

Mesmo antes de o papa Francisco pisar em solo cubano neste sábado (18/09), o saldo de sua viagem é impressionante: devido a sua visita, o governo de Cuba pretende liberar 3.522 prisioneiros. Isso é mais do que somando as duas visitas de pontífices anteriores – Bento 16, em 2012, e João Paulo 2º, em 1998.

Mas não é o suficiente. Após a retomada das relações diplomáticas entre os antigos arqui-inimigos Cuba e Estados Unidos, há agora sinais concretos de uma espécie de "reconhecimento à mediação papal". De acordo com a agência de notícias do Vaticano (Fides), autoridades cubanas concederam pela primeira vez desde 1959 a aprovação para a construção de uma igreja em Havana.

A aproximação católica, no entanto, não impede a perseguição de dissidentes. Em 10 de setembro, cerca de cem ativistas foram presos em Santiago de Cuba, no extremo leste do país. Eles queriam depositar uma carta ao papa Francisco no santuário de peregrinação de El Cobre. Três dias depois, foi decretada a prisão de aproximadamente 40 membros do grupo de defesa dos direitos humanos Damas de Branco.

Perdão em massa e repressão política – as contradições pertencem ao dia a dia da ilha comunista. A Igreja Católica e seus membros foram perseguidos por décadas. O medo segue tão enraizado, que muitos fiéis ainda evitam discussões públicas.

Nossa Senhora da Caridade do Cobre: a padroeira é adorada também como a Afrodite do panteão afro-cubanoFoto: picture-alliance/dpa

Êxodo de fiéis

"Em 1961, o governo declarou a Igreja Católica inimiga número um de Estado", relembra Cecília Silva*, uma trabalhadora comunitária de Havana. "Somente através da mistura de santos católicos com divindades afro-cubanas, os locais eclesiásticos de peregrinação se mantiveram vivos."

Depois da Revolução de 1959, aproximadamente 300 mil católicos e 30 mil protestantes deixaram a ilha. Dois anos depois, restavam apenas 250 sacerdotes e membros de ordens religiosas. Todas as escolas e hospitais católicos foram estatizados. Cristãos eram tidos como contrarrevolucionários.

Mas os cubanos não abdicaram de sua fé. Eles batizavam seus filhos secretamente, rezavam para os santos religiosamente compatíveis. A figura do Santo Lázaro, por exemplo, corresponde à divindade africana da medicina, Obaluaiyê. E a Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, é adorada também como a Afrodite do panteão afro-cubano.

Após a queda do Muro de Berlim, Fidel Castro mudou a Constituição cubana, em 1992, e iniciou a transformação de Cuba de um Estado ateu para um Estado laico. Desde então, católicos podem se tornar membros do Partido Comunista, e comunistas podem se declarar católicos.

Em 2012, durante a visita do papa Bento 16, o irmão de Fidel e novo líder cubano, Raúl Castro, reinstituiu a Sexta-feira Santa como feriado nacional. A aproximação gradual entre antiquados revolucionários comunistas e líderes da Igreja Católica culminou na jogada diplomática do papa Francisco, que, enfim, quebrou o gelo entre Washington e Havana.

Apesar da proibição, cubanos católicos não abdicaram de sua fé, chegando a batizar seus filhos secretamenteFoto: AP

Concorrência para os católicos

A aproximação com os Estados Unidos, porém, também resultará num apoio mais intensificado da comunidade eclesiástica americana aos correligionários na ilha. Protestantes e pentecostais são, atualmente, uma minoria. No "mercado religioso" de Cuba, isso significa uma concorrência à dominante Igreja Católica.

"A calma acabou. Em Cuba pode ocorrer um latino-americanização religiosa", prevê o diretor da Missão Evangélica na Alemanha e chefe do departamento latino-americano da organização, Christoph Anders. Assim como no resto da região, afirma, Cuba também pode sofrer uma expansão evangélica com igrejas pentecostais.

Será que João Paulo 2º previu essas consequências quando pronunciou as célebres palavras em sua chegada a Cuba, em 21 de janeiro de 1998, que se tornaram a frase símbolo da mudança? "Que Cuba se abra para mundo, e o mundo se abra para Cuba."

Com o aumento da liberdade religiosa, muitos cubanos carregam agora também a esperança de mais abertura política e liberdade de expressão. A revista digital Convivencia, fundada em 2008 pelo intelectual católico Dagoberto Valdés Hernández, vê a Igreja como pioneira nas mudanças na ilha.

"A real liberdade religiosa não se limita a realizar cultos religiosos", escreve a Convivencia em editorial. "A Igreja precisa ter acesso aos meios de comunicação e poder se envolver política e socialmente, para, assim, implementar o ensino social católico. Ela [a Igreja] é mediadora e sinal de esperança no caminho [de Cuba] para um Estado de Direito."

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