Forças Armadas alemãs voltarão a empregar capelães judeus
11 de dezembro de 2019
Ministra da Defesa diz que medida envia um "sinal importante" para centenas de judeus que servem na Bundeswehr. Militares do país não contam com assistência de rabinos desde a Primeira Guerra, há mais de cem anos.
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As Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) vão empregar rabinos como capelães militares. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (11/12) pela ministra da Defesa do país, Annegret Kramp-Karrenbauer.
As dezenas de milhares de católicos e protestantes em uniforme contam há décadas com assistência religiosa na Bundeswehr, mas os últimos registros de emprego de rabinos como capelães militares datam da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando dezenas de milhares de judeus serviram no antigo Exército Imperial.
O Ministério da Defesa aponta que há pelo menos 300 judeus servindo na Bundeswehr atualmente. O contingente total das Forças Armadas da Alemanha é de cerca de 180 mil militares, sendo que 90 mil se declaram cristãos praticantes.
Ao anunciar o plano, Kramp-Karrenbauer disse que a medida mostra "um comprometimento claro: a vida judaica é autoevidente na Alemanha". "Hoje, na reunião de gabinete, nós enviamos um sinal importante para nossos soldados judeus. Após cem anos, vamos empregar novamente um rabino militar na Bundeswehr."
A medida já foi aprovada pelo governo alemão e agora aguarda sinal verde do Parlamento. A nomeação dos novos capelães judeus deve contar com a participação do Conselho Central dos Judeus da Alemanha (ZdJ, na sigla em alemão), principal organização judaica do país, que deve indicar os candidatos, cabendo à Bundeswehr a palavra final sobre a escolha.
Os capelães militares normalmente prestam assistência religiosa aos membros de uma corporação militar e ainda servem de conselheiros em questões éticas ao longo do treinamento ou de missões militares.
O anúncio também levantou o tema do oferecimento de assistência religiosa para os cerca de 3 mil muçulmanos que servem na Bundeswehr, mas a questão ainda esbarra na falta de um conselho central que represente a comunidade islâmica na Alemanha e que possa indicar os candidatos a capelão.
As diferentes mesquitas do país não contam com um órgão central como o ZdJ, a Conferência dos Bispos da Alemanha (DBK) ou a Igreja Evangélica na Alemanha (EKD, na sigla em alemão). Esta última representa a maior parte da comunidade protestante.
O anúncio de que as forças militares da Alemanha vão voltar a empregar rabinos ocorre em um momento delicado para a Bundeswehr, que se vê envolta em uma série de escândalos sobre a presença de extremistas de direita em suas fileiras.
Em 2017, um soldado da Bundeswehr chocou a Alemanha e a Áustria ao ser preso tentando recuperar uma arma e munição que havia escondido no aeroporto de Viena. Ele foi acusado de planejar ataques a políticos do alto escalão e figuras públicas que acreditava serem "favoráveis a refugiados". Ele também foi acusado de armazenar memorabilia nazista em seu quartel, incluindo uma caixa de fuzil com uma suástica gravada.
Mais recentemente, três militares da unidade de elite militar Comando de Forças Especiais (KSK) se tornaram alvo de uma investigação por suspeita de ligação com a cena extremista. Dois deles foram acusados de fazer a saudação nazista em uma festa privada. Fazer a saudação nazista e exibir publicamente símbolos nazistas são ilegais na Alemanha.
Grandes e pequenos memoriais em toda a capital alemã relembram seu passado judaico e os crimes do regime nazista.
Foto: Renate Pelzl
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Esse enorme campo de monólitos no centro da capital alemã foi inaugurado em 2005. O projeto é do arquiteto nova-iorquino Peter Eisenmann. Os quase três mil blocos de pedra evocam a lembrança dos seis milhões de judeus de toda a Europa que foram assassinados pelos nazistas.
Foto: picture-alliance/Schoening
Stolpersteine ("pedras de tropeço")
Estes pequenos blocos podem ser encontrados em centenas de calçadas de Berlim, em frente a imóveis que eram ocupados por famílias judias. Nelas, constam os nomes dos antigos moradores judeus e informações sobre seu destino final, como o campo de concentração para onde foram enviados. No total, existem mais de 7 mil desses pequenos memoriais só em Berlim.
Foto: DW/T.Walker
A casa da Conferência de Wannsee
Quinze autoridades nazistas de alto escalão se reuniram nesta mansão às margens do lago Wannsee, no subúrbio berlinense de mesmo nome, em 20 de janeiro de 1942. O tema da conferência: discutir o assassinato sistemático de judeus europeus, que foi batizado de "solução final para a questão judaica". Hoje o local é um memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial Plataforma 17
Rosas brancas na plataforma 17 da estação Grunewald, no oeste da capital, lembram os mais de 50 mil judeus de Berlim que foram enviados para a morte a partir desse local. Em exibição estão 186 placas que mostram a data, o destino e o número de deportados.
Foto: imago/IPON
Museu Otto Weidt
O complexo de prédios Hackesche Höfe no centro de Berlim é mencionado em vários guias de viagem. Em um dos edifícios, ficava a fábrica de escovas e vassouras do empresário alemão Otto Weidt (1883-1947). Durante a era nazista, ele empregou muitos judeus cegos e surdos, salvando-os da deportação e da morte. Hoje o local é um museu.
Foto: picture-alliance/Arco Images
Centro de moda na Hausvogteiplatz
O coração da moda de Berlim uma vez bateu aqui. Uma placa comemorativa feita de espelhos lembra os estilistas e fashionistas judeus que fizeram roupas para toda a Europa na praça Hausvogtei. Os nazistas expropriaram os donos judeus e entregaram os ateliês para funcionários e empresários arianos. Esse centro de moda acabou sendo irremediavelmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Memorial na Koppenplatz
Antes do Holocausto, 173 mil judeus viviam em Berlim. Em 1945 havia apenas 9 mil. O monumento "Der verlassene Raum" (a sala abandonada) está localizado no meio da área residencial da praça Koppen. É uma forma de relembrar os cidadãos judeus que foram tirados de suas casas e nunca retornaram.
Foto: DW
O Museu Judaico
O arquiteto Daniel Libeskind escolheu um design dramático: visto de cima, o edifício parece uma estrela de David quebrada. O Museu Judaico é um dos prédios mais visitados em Berlim, oferecendo uma visão geral da turbulenta história teuto-judaica.
Foto: AP
Cemitério Judaico Weissensee
Ainda há oito cemitérios judaicos em Berlim. O maior deles fica no distrito de Weissensee. Com cerca de 115 mil túmulos, é o maior cemitério judaico da Europa. Muitos judeus perseguidos se esconderam no emaranhado de construções dos cemitérios durante o regime nazista. Em 11 de maio de 1945, três dias após o fim da Segunda Guerra, o primeiro funeral judaico público foi realizado aqui.
Foto: Renate Pelzl
A Nova Sinagoga
Quando a sinagoga da rua Oranienburger foi consagrada em 1866, o prédio foi considerado o mais magnifico templo judaico da Alemanha. O edifício foi danificado na Noite dos Cristais em 1938 e depois foi duramente bombardeado na Segunda Guerra. No início dos anos 1990, foi parcialmente reconstruído. Desde então, sua cúpula dourada voltou a ser facilmente inidentificável no horizonte de Berlim.