Forças iraquianas retomam cidade petrolífera do EI
14 de novembro de 2014
Integrantes do "Estado Islâmico" perdem Baiji, responsável pela produção de um quarto do petróleo iraquiano. Relatório da ONU denuncia extremistas por inúmeros crimes contra a humanidade.
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Forças iraquianas expulsaram o "Estado Islâmico" (EI) nesta sexta-feira (14/11) da estratégica cidade petrolífera de Baiji, no norte do país. A retomada é um revés significativo para os jihadistas, que já vêm sofrendo significativas perdas em suas fileiras desde que as forças aliadas intensificaram os ataques aéreos.
A notícia da reconquista de Baiji, onde se encontra a maior refinaria de petróleo do país, responsável por cerca de um quarto da produção nacional, foi divulgada pela imprensa estatal iraquiana, citando o general Abdul Wahab al-Saadi como fonte.
A localidade estava sob poder dos radicais desde junho passado, quando eles tomaram também o controle de Mossul, segunda maior cidade do país.
A ação desta sexta-feira acabou empurrando os extremistas para a região de Tikrit, de maioria sunita. Situado mais ao sul do país, esse é local de nascimento do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein.
Moeda própria
Na quinta-feira, o"Estado Islâmico" divulgou registros de áudio atribuídos ao líder Abu Bakr al-Baghdadi, dias depois de rumores de que teria sido ferido ou morto num ataque da aliança militar internacional contra os jihadistas no Iraque.
O EI também anunciou planos de criação de uma moeda própria – o dinar islâmico – nas extensas faixas territoriais de seu "califado" na Síria e no Iraque.
Segundo lideranças do EI, que já teriam autorizado a cunhagem de ouro, cobre e prata para a fabricação de moedas, a ideia é "substituir o sistema de câmbio tirano". Criado segundo o modelo ocidental, ele teria "escravizado" os muçulmanos. A informação foi publicada num site ligado ao grupo islâmico, que já foi usado em outras ocasiões para disseminar mensagens dos radicais.
Crimes de guerra
Também nesta sexta-feira, investigadores das Nações Unidas acusaram o EI de cometer crimes de guerra e contra a humanidade em larga escala, nas áreas sob seu controle na Síria.
Segundo relatório elaborado pela comissão das Nações Unidas que investiga as violações dos direitos humanos no conflito armado da Síria, é terrível a situação dos milhares de habitantes das regiões sob domínio dos radicais. Há registros de massacres de minorias étnicas, principalmente de yazidis e curdos, além de decapitações, torturas, escravidão sexual, recrutamento de crianças e gravidez forçada.
Evocando uma interpretação extrema da lei islâmica tradicional, a sharia, o EI procura "subjugar os civis sob seu controle e dominar todos os aspectos de suas vidas através do terror e da doutrinação". O relatório poderá dar origem a um processo internacional contra os responsáveis. Ele se baseia em mais de 300 entrevistas com mulheres, homens e crianças que viveram ou vivem nas áreas sob controle do grupo extremista.
"O 'Estado Islâmico' realiza amputações e açoitamentos em espaços públicos. Homens têm as mãos amputadas, por supostos roubos, ou os dedos, por fumar. Eles podem também ser chicoteados por estar na companhia de uma mulher não vestida apropriadamente", relata o documento.
Presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, a comissão da ONU que se ocupa dos direitos humanos na região alerta, ainda, que "a capacidade militar dos jihadistas aumentou", com uma mobilização mais rápida e um poder de fogo maior, permitindo-lhes surpreender seus oponentes e assegurar a própria superioridade.
MSB/rtr/lusa/ap
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.