Tropas do regime retomam várias áreas do bastião rebelde, e Assad diz que ofensiva vai continuar. Enquanto isso, centenas de civis fogem de intensos bombardeios. Trump e May criticam ação de Damasco e Moscou na região.
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Centenas de civis deixaram Ghouta Oriental neste domingo (04/03), à medida que as forças pró-regime sírio avançam na região, último grande bastião dos rebeldes. Contrariando alertas da comunidade internacional, o presidente Bashar al-Assad disse que a ofensiva deve continuar.
"A maioria das pessoas em Ghouta Oriental quer escapar dos braços do terrorismo. A operação deve prosseguir", disse o líder sírio em declarações transmitidas pela televisão estatal neste domingo.
Assad afirmou que seu governo continuará respeitando as cinco horas diárias de pausa humanitária na região, a fim de permitir que civis deixem o local, se assim desejarem. "Não há contradição entre a trégua e a operação militar", disse ele.
No âmbito desse cessar-fogo diário, um corredor humanitário permanece aberto durante cinco horas por dia, sob controle de tropas sírias e russas. Os governos em Damasco e Moscou, porém, acusam os rebeldes de disparar contra os civis que tentam escapar de Ghouta Oriental por essa via.
A imprensa estatal e grupos de direitos humanos afirmaram que militares sírios e milícias aliadas conseguiram capturar uma série de vilas e cidades neste domingo, no maior avanço desde o início da grande ofensiva para reconquistar o bastião, em 18 de fevereiro.
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Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, as forças do governo controlam agora 25% do reduto rebelde, conquistados por meio de bombardeios aéreos e combates em terra. As tropas sírias, que já estariam a cerca de três quilômetros de Douma, a maior cidade de Ghouta Oriental, afirmam ter matado "um grande número de terroristas" na ofensiva deste domingo.
O Observatório Sírio, que monitora a situação na Síria por meio de informantes, denunciou ainda que entre 300 e 400 famílias fugiram da região em guerra somente neste fim de semana.
"Está todo mundo na estrada. Há destruição em todo lugar", relatou Abu Khalil, de 35 anos, à agência de notícias AFP, enquanto carregava no colo uma menina com ferimentos no rosto.
Ao menos 18 civis, incluindo três crianças, foram mortos em bombardeios do regime sírio em Ghouta Oriental neste sábado, afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
Neste domingo, a ONU comunicou que planeja entrar na região em conflito a partir desta segunda-feira para entregar ajuda humanitária a cerca de 70 mil pessoas.
A iniciativa neste 5 de março contará com 46 caminhões transportando alimento e medicamento suficientes para 27.500 pessoas, afirmou um comunicado. As Nações Unidas disseram ainda ter recebido garantias de que um novo comboio será enviado em 8 de março.
Os caminhões devem entrar no reduto durante as cinco horas de cessar-fogo diárias, estabelecidas pela resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas na terça-feira passada.
Crítica internacional
A grave situação em Ghouta Oriental incitou críticas de vários líderes internacionais. Neste domingo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, acusaram a Síria e a Rússia de serem responsáveis pelo "sofrimento humano" na região.
Os dois líderes, em telefonema, "concordaram que a Síria sofre uma catástrofe humanitária e que a maior responsabilidade pelo sofrimento humano é do regime sírio e da Rússia, como principal patrocinadora do regime", informou o governo britânico.
Em outro telefonema, o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu ao presidente do Irã, Hassan Rohani, que faça "pressão necessária" sobre o regime sírio a fim de travar os ataques "indiscriminados" contra civis no país.
O líder francês ressaltou a "particular responsabilidade do Irã, por conta de seus laços com o regime, no que diz respeito à implementação da trégua humanitária" determinada pela ONU.
Desde o início da grande ofensiva em Ghouta Oriental, em 18 de fevereiro, mais de 600 pessoas foram mortas, incluindo cerca de 150 crianças, de acordo com as Nações Unidas.
Antes da guerra, a região abrigava em torno de 2 milhões de pessoas. Hoje permanecem por lá cerca de 400 mil, a metade delas crianças, segundo estimativas. Elas estão sitiadas pelo governo sírio desde 2013. Ghouta Oriental foi uma das primeiras áreas a se rebelar contra Assad, já em 2011.
EK/afp/ap/lusa/ots
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.