Fornecedores da indústria têxtil alemã exploram trabalhadores no exterior
28 de outubro de 2012Em setembro deste ano, aconteceu um incêndio em uma fábrica de roupas no Paquistão, que deixou um saldo de mais de 250 mortos. O fogo conseguiu se alastrar de maneira tão devastadora porque as saídas de emergência do lugar estavam fechadas. Os padrões de segurança, no caso, não foram respeitados.
Pouco tempo depois, ficou-se sabendo que a fábrica produzia sobretudo para a cadeia alemã de lojas Kik, que vende roupas de baixo preço. O caso rendeu um escândalo e demonstrou mais uma vez a falta de interesse dos comerciantes alemães pelas condições nos estabelecimentos de seus fornecedores. A cadeia KiK reagiu enviando um total de 500 mil dólares às famílias das vítimas do incêndio. Nessas alturas, já se fala da necessidade de pagamento do dobro deste valor.
Mudanças estruturais no lugar de ajuda emergencial
Essa ajuda é louvável, diz Sabine Ferenschild, da organização Südwind, que luta pela igualdade de direitos sociais e econômicos no mundo. Ferenschild acentua, contudo, em entrevista à Deutsche Welle, que esse tipo de auxílio é de muito curto prazo. "O que falta é uma perspectiva de longo prazo. Isso é o que demonstraram as catástrofes ocorridas até agora. Já aconteceram incêndios em fábricas com frequência, deixando incontáveis trabalhadores mortos", diz ela.
As empresas, nesses casos, cumpriram com suas obrigações imediatas de apoio financeiro, mas acabaram deixando a ajuda de lado no decorrer dos anos seguintes. "Mas os envolvidos continuam vivendo, alguns incapazes de trabalhar, outros com dificuldades depois da perda dos pais, que não podem mais contribuir para garantir a sobrevivência dos filhos", completa Ferenschild.
A pressão do mercado
Cada empresa, por sua vez, é obrigada a garantir um lugar no mercado. E para isso elas calculam exatamente os custos que seus produtos acarretam. Isso acaba recaindo sobre as costas dos mais fracos, ou seja, dos funcionários das fábricas em países onde os salários são baixos, critica Ferenschild.
"A falta de contratos de trabalho, salários mínimos muito baixos ou horas extra compulsórias são inconvenientes estruturais causados pela altíssima concorrência no setor têxtil, mas que também acontecem em outros segumentos", diz a representante da Südwind. Ao lado desta, há também outras organizações que tentam modificar os padrões sociais das empresas fornecedoras nos países em desenvolvimento e emergentes. Até agora, no entanto, sem muito sucesso. Isso porque, acredita Ferenschild, até agora todo acordo é facultativo. Ou seja, as empresas podem mudar a situação, mas não são obrigadas a fazer isso.
As empresas alemãs não têm obrigação de controlar regularmente no exterior as condições de trabalho de seus fornecedores, quanto menos de explicitar publicamente seus esforços neste sentido. Mas "a comissão da UE já declarou no ano passado que está disposta a eliminar o princípio facultativo neste ponto", comenta Ferenschild. Isso significaria introduzir a obrigatoriedade da transparência: os grandes grupos passariam a ser obrigados a informar a opinião pública a respeito das condições sob as quais seus produtos são fabricados. Para que todo consumidor saiba se quer comprá-los ou se prefere deixá-los na prateleira.
"Querer, mas não poder"
O varejo alemão vê a coisa com outro olhos. Stefan Wengler, diretor comercial da Associação de Comércio Exterior do Varejo Alemão, defende a perpetuação da situação atual, que não obriga as empresas a darem tais declarações. Em entrevista à Deutsche Welle, ele acentua que a "Business Social Compliance Initiative" (BSCI) empenha-se há nove anos em prol da implementação de padrões internacionais nos quesitos segurança e salários.
Aproximadamente mil empresas já declaram disposição em participar da BSCI. Wengler acredita que este seja um bom caminho. "No início, no primeiro ano da iniciativa, apenas sete entre 100 passaram no teste. Os 93% restantes não". Em avaliações mais recentes, conta Wengler, um terço das empresas conseguiu passar no teste. E as empresas com deficiências teriam eliminado as mesmas com rapidez, diz ele.
"A BSCI segue medidas rígidas. O problema é que eles vão até um estabelecimento e veem que está tudo maravilhosamente em ordem. Quando saem dali, tudo fica como antes", completa Wengler. Por isso a necessidade de uma sensibilização maior dos executivos nos países fornecedores, que pode se dar através de formações especiais para diretores e trabalhadores. Pois só depois de perceberem a importância dos padrões de segurança é que eles vão de fato querer mudar algo, acredita Wengler.
A responsabilidade é da Alemanha
Sabine Ferenschild, por sua vez, não é tão otimista quanto Stefan Wengler. Ela concorda que há mudanças, mas acredita que as condições péssimas de trabalho continuam existindo. Ferenschild aponta que a resposabilidade é sobretudo dos comerciantes alemães: "A maioria dos produtos que são vendidos aqui não são fabricados na Alemanha, mas sim em países onde os direitos do trabalhador existem no papel, mas não são respeitados na prática. E as empresas alemãs se aproveitam dessas condições de trabalho", conclui.
Autor: Günther Birkenstock (sv)