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O fantasma A Esquerda

Agências (as)25 de fevereiro de 2008

O sucesso de A Esquerda, que elegeu parlamentares também em Hamburgo, consolida um cenário com cinco partidos políticos na Alemanha e complica o quebra-cabeça das alianças partidárias.

Partidários exibem banner de A Esquerda, representada em dez parlamentos estaduaisFoto: AP

O ingresso de A Esquerda num décimo Parlamento estadual alemão reforça a tendência de crescimento do novo partido político no Oeste do país e confirma o que já era previsto por analistas políticos: a consolidação, na Alemanha, de um sistema de cinco partidos cujo efeito mais imediato é tornar complexa a formação de coalizões.

No último domingo (24/02), A Esquerda superou a barreira dos 5% e ingressou no Parlamento de Hamburgo com 6,4% dos votos. O partido já está representando no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), em todos os estados do Leste alemão (Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia), em Berlim e em quatro estados do Oeste: Bremen, Baixa Saxônia, Hessen e Hamburgo.

Com isso, o tradicional cenário político alemão – composto pela CDU (ou sua "irmã gêmea" CSU na Baviera), pelo SPD, pelo Partido Liberal Democrático (FDP) e pelo Partido Verde – ganha um novo ator. Para o cientista político Richard Stöss, da Universidade Livre de Berlim, a política alemã tem definitivamente um sistema com cinco partidos. "Eu dou como certo o ingresso de A Esquerda em outros parlamentos estaduais", declarou ao site de notícias Tagesschau.

Oskar Lafontaine, egresso do SPD e crítico de seu ex-partidoFoto: AP

O efeito imediato do resultado das eleições de Hamburgo é a possibilidade de uma aliança entre a CDU e o Partido Verde na cidade-estado, algo inédito na política estadual alemã devido às diferenças entre os programas dos dois partidos. A possibilidade existe porque, mesmo que os partidos de esquerda (SPD, Partido Verde e A Esquerda) tenham, juntos, obtido a maioria dos votos, o SPD se recusa a compor com A Esquerda.

Novas combinações

A CDU/CSU tem no FDP seu mais tradicional aliado. O mesmo vale para a dupla SPD-Partido Verde. Outras combinações possíveis são a chamada grande coalizão (CDU-SPD) ou, menos comum e mais difícil, uma aliança entre SPD e FDP, como a que elegeu o chanceler federal Willy Brandt em 1969.

No sistema parlamentarista alemão, os governantes estaduais são escolhidos pelos parlamentares entre os candidatos indicados pelos partidos antes das eleições. Para chegar ao poder, é necessário ter maioria entre os parlamentares, o que torna as coalizões importantes caso um partido não tenha mais da metade das cadeiras no Parlamento.

O SPD, com Kurt Beck à frente: partido em criseFoto: AP

Com a presença de A Esquerda nos parlamentos, o quebra-cabeça partidário se torna mais complexo, pois as tradicionais parcerias CDU/CSU-FDP e SPD-Partido Verde podem não bastar para se obter maioria, como comprovam as recentes eleições em Hamburgo e Hessen. Isso obriga os "velhos" partidos a considerar a possibilidade de negociar com o novo A Esquerda, o que só o Partido Verde não rejeita.

SPD: um partido em crise

CDU e CSU são partidos conservadores, situados no lado direito do espectro político alemão. O FDP é um partido liberal, tradicional defensor do Estado mínimo, de uma carga tributária menor e de uma economia de mercado. Nenhum deles cogita a hipótese de se aliar com A Esquerda, uma agremiação formada principalmente por ex-comunistas oriundos do partido único da antiga Alemanha Oriental.

No SPD, uma aliança com A Esquerda é descartada com veemência pelos principais líderes do partido. Motivos não faltam. O presidente de A Esquerda, Oskar Lafontaine, é egresso do partido social-democrata e foi ministro das Finanças do governo Gerhard Schröder (1998-2005), sustentado pela coalizão SPD-Partido Verde. Lafontaine deixou o ministério e a presidência do SPD em 1999 e desde então é um dos principais críticos do seu ex-partido.

Angela Merkel e Ole van Beust, prefeito de Hamburgo: CDU avalia aliança com verdesFoto: AP

O SPD passa por uma das maiores crises de sua história. O número de filiados cai sistematicamente desde o início dos anos 1990 e chegou aos níveis mais baixos do pós-Guerra. Em janeiro deste ano, a mais antiga agremiação partidária alemã tinha 538 mil filiados. Nos anos 1980, eram mais de 900 mil. Na década anterior, o partido chegou a ter mais de 1 milhão de pessoas em suas fileiras. O temor das lideranças do SPD é que o crescimento de A Esquerda acelere ainda mais esse processo.

O quebra-cabeças de Hessen

Foi o ingresso de A Esquerda no Parlamento de Hessen que mostrou o quanto o novo partido pode complicar a formação de alianças. Uma grande coalizão entre CDU e SPD é inviável por causa das divergências dos social-democratas com o governador e candidato à reeleição dos democrata-cristãos, Roland Koch. As alianças entre CDU e FDP ou entre SPD e Partido Verde não bastam para formar maioria parlamentar.

Ypsilanti e Koch: o difícil quebra-cabeça de HessenFoto: AP

Uma opção seria uma coalizão entre SPD, Partido Verde e FDP, mas os liberais se mostram reticentes. Como CDU e FDP descartam conversar com os ex-comunistas de A Esquerda e o SPD também rejeita com veemência essa possibilidade, o estado vive há semanas um impasse acompanhado com interesse em toda a Alemanha.

Na semana passada, o presidente do SPD, Kurt Beck, admitiu pela primeira vez contar com os votos de A Esquerda para eleger a candidata social-democrata ao governo de Hessen, Andrea Ypsilanti, ainda que sem formar coalizão. Foi criticado por praticamente todas as lideranças do partido. O ministro alemão das Finanças e vice-presidente do SPD, Peer Steinbrück, lembrou Beck de que ele não deveria quebrar uma promessa de campanha e manchar a credibilidade dos social-democratas diante de seus eleitores.

Mas, nesta segunda-feira, o diretório nacional do SPD indiretamente avalizou a proposta de Beck. Em nota oficial, o diretório recomendou conversações com o Partido Verde e o FDP e mesmo com a CDU. Se elas resultarem infrutíferas, a direção do partido em Hessen fica livre para decidir se Ypsilanti se apresenta ou não como candidata diante dos parlamentares. Nesse caso, mesmo sem coalizão, ela poderia ser eleita se os deputados de A Esquerda votarem nela por livre e espontânea vontade. Exatamente o que Beck havia sugerido.

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