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Fotografia

15 de setembro de 2010

Durante dez meses, o russo Igor Chepikov registrou imagens de detentas alemãs. As fotografias compõem a mostra 'Mulheres na Prisão', aberta ao público em Colônia.

15 detentas aceitaram ser fotografadasFoto: Igor Chepikov

Pode soar macabro ou, no mínimo, contraditório, abordar mulheres encarceradas em busca de beleza. O fotógrafo russo Igor Chepikov, que vive em Colônia desde 1991, visitou uma penitenciária feminina semanalmente durante mais de dez meses com esse propósito.

Ali, depois de pintar uma parede de branco para servir de pano de fundo, ele fotografou algumas detentas milhares de vezes. Essas imagens foram posteriormente escolhidas até se chegar a uma seleção de apenas 56 fotografias, que compõem a exposição Bad Ossendorf: Women in Prison, aberta ao público em Colônia até o próximo 26 de setembro.

O título é um jogo de palavras. Na Alemanha, Bad, no nome de uma localidade, normalmente remete a uma estação de águas, em geral um pequeno lugar turístico e idílico. "E Ossendorf" é o nome de uma penitenciária situada nos arredores de Colônia. "Bad Ossendorf" poderia ser traduzido como "Resort Ossendorf", embora na escolha esteja também implícita a conotação negativa da palavra bad, ou seja, "ruim" em inglês.

Além de fotografadas, presidiárias escreveram relatosFoto: Igor Chepikov

O título da mostra, que associa detentas à beleza, é um prato cheio para a crítica feminista. Afinal, muitas das prisioneiras têm outras preocupações imediatas e certamente pouco tempo para se ocupar de questões filosóficas como a definição do que é belo. Elas estão preocupadas com seus filhos, agora em orfanatos, e sofrendo com a dor que causaram a seus entes. O que mais querem é se libertar do ciclo vicioso da criminalidade.

O fotógrafo Chepikov, pelo menos, deu voz a essas mulheres, optando por não retratá-las apenas, mas também por captar literalmente suas narrativas. Chepikov pediu às detentas que respondessem a algumas questões por escrito. Ele perguntou o que a beleza significa para elas, quis saber se elas tinham a sensação de ter perdido tempo na prisão e qual impacto a detenção tinha causado em seus corpos e mentes.

"A solidão é o pior", "nunca pensei que a prisão poderia fazer alguém ter uma aparência tão ruim" e "não há lugares para comprar maquiagem ou qualquer outro tipo de itens de higiene pessoal aqui" foram algumas das respostas. "Ao ver as fotos, percebi o quão horrível tinha sido o efeito das drogas", "beleza na prisão significa essencialmente estar limpa" foram outras observações, além daquela de uma detenta que "queria poder voltar no tempo".

Leia abaixo a entrevista com Igor Chepikov:


Deutsche Welle: Por que fotos de mulheres na prisão? O que levou você a fazer isso?

Igor Chepikov: Tive essa ideia há seis anos. Estava sentado no metrô de Moscou, olhando pela janela e pensando na canção As Time Goes By. Então comecei a ler sobre prisões e a pensar a respeito de como seria a vida dentro delas. Um homem, por exemplo, pode ter 20 anos e passar a partir daí 15 na cadeia, mas ele só terá 35 quando sair. Quando ele tem 45 e pega 15 anos de prisão, quando sair, terá 60. A vida terá passado e ele não terá tido possibilidade de mudar. Para as mulheres, é ainda mais duro. Além de não se adaptarem à idade, elas ainda perdem a beleza. Percebi que deveria tirar fotos delas antes que isso acontecesse.

A identidade de cada personagem permanece anônimaFoto: Igor Chepikov

Não é um pouco demais essa ideia de mulheres, beleza e prisão?

Não tenho certeza. Isso é o que eu queria descobrir: é problemático para as mulheres ou não? O administrador da prisão estava reticente. Eles não achavam que as mulheres fossem querem se apresentar em uma exposição, o que era minha intenção desde o início. Mas 15 delas aceitaram participar e esse foi o sinal verde para dar início a meu projeto.

Qual foi, na sua opinião, a motivação para as mulheres participarem?

A vida na prisão é bastante entediante. Participar do projeto foi quase como tirar férias – uma fuga da vida cotidiana – para mulheres que frequentemente sentam 23 horas por dia em suas celas. Para elas, foi uma ligação com o mundo exterior.

Elas não se sentiram envergonhadas de se mostrar?

Não sei ao certo. Elas concordaram com as fotos. Algumas estavam na prisão pela segunda, terceira, quarta vez. Uma mulher que aceitou participar foi liberada por alguns meses, então retornou e disse: "Olá, estou de volta, você pode tirar mais fotos minhas". Para ela, foi como voltar para casa.

Você obteve exemplos de histórias dessas mulheres, descobriu por que elas foram presas?

Sim, falei com as mulheres, mas as histórias devem permanecer em segredo. Você pode ler narrativas anônimas dependuradas nas paredes da exposição.

Algumas estatísticas mostram que mulheres são vítimas antes de irem parar na prisão. Você percebeu isso ao conversar com elas?

Foi diferente. Talvez você encontre isso nas narrativas. Na verdade, muitas delas eram viciadas em drogas e várias deveriam estar em hospitais ou clínicas de reabilitação e não na prisão.

Prisioneiras falaram sobre o que é beleza para elasFoto: Igor Chepikov

Qual foi o momento mais difícil ao fotografar as mulheres?

Na realidade, foi, de antemão, conseguir fazer com que a administração me deixasse entrar. Eles não compreendiam realmente o que eu queria e qual era meu objetivo. Mas tão logo perceberam qual era meu foco – não criticar o lugar, mas apresentar a beleza entre as mulheres na prisão – ficou tudo bem.

Como você define a beleza?

Ou você a tem ou não. A beleza não pode ser facilmente definida. Posso mostrar melhor do que consigo descrever com palavras. Cada uma das mulheres aqui na exposição tem alguma forma de beleza, mesmo que seja apenas algo em sua expressão.

Não é um contraste a idea de beleza e mulheres na prisão?

Sim. É difícil para as pessoas imaginarem que as mulheres querem se cuidar na cadeia, mas muitas das detentas me disseram que isso é importante para elas, só que são poucas as chances de fazer isso. Para as sessões de fotos elas se maquiaram, cortaram o cabelo.

O que você fez para que elas se sentissem confortáveis na sua presença?

Levei bolachas, cigarros, chá. E conversei com elas. Não foi apenas uma sessão de fotos com cada uma, mas também um bate-papo

Você se formou como arquiteto, passou a se dedicar à pintura e, finalmente, à fotografia. Por quê?

Pintei durante dez anos – pinturas abstratas. Mas então percebi que existem coisas que você só pode captar naquele momento e passei a fotografar. Meu primeiro projeto de fotografia foi em um abatedouro. Fiquei impressionado com as cores que pude registrar lá e com o momento no qual a vida se extingue. Você não consegue isso com uma pintura abstrata.



Esse projeto de retratos de mulheres na prisão é político?

Exposição acontece em Colônia até 26 de setembroFoto: Igor Chepikov

Não, é humano. Não quero criticar ninguém. Isso simplesmente faz parte da vida, mesmo que às vezes seja assustador.

Por que mulheres e não homens? Homens podem ser bonitos também...

Porque pessoas pensam em mulheres e não em homens quando ouvem a palavra beleza.

Você pediu às mulheres para escreverem sobre beleza. Por quê?

Porque queria saber a opinião delas sobre o tema e não a minha. Talvez elas sequer pensassem a respeito. Mas, pelas cartas, posso dizer que sim. A vida é dura na prisão e, às vezes, deixa muito mais marcas no rosto das pessoas do que entre aquelas que estão livres.

Quando se lê as narrativas, fica claro que as mulheres também estão lutando contra outros problemas, como as drogas, a saudade dos filhos e a segurança. Não é um luxo pedir que escrevam sobre beleza quando estão enfrentando situações muito mais difíceis?

Realmente não sei.

Entrevista: Louisa Schaefer (mda)
Revisão: Soraia Vilela

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