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FPÖ: a turbulenta história de um partido de extrema direita

Jane Mcintosh av
19 de maio de 2019

Desde as origens declaradamente nazistas, seis décadas atrás, o Partido da Liberdade da Áustria ocupa um lugar incômodo na política europeia, com políticas populistas, anti-imigração e xenófobas.

Ex-líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache (esq.), e chanceler federal austríaco, Sebastian Kurz
Ex-líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache (esq.), e chanceler federal austríaco, Sebastian KurzFoto: picture-alliance/dpa/APA/R. Schlager

O Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) foi fundado em 1956 como um grupamento nacional-liberal germânico com associações estreitas com os nacional-socialistas. Seus dois primeiros presidentes, Anton Reinthaller (1956-58) e Friedrich Peter (1958-78), eram ex-oficiais da milícia paramilitar nazista Schutzstaffel (SS).

Nas duas décadas seguintes, o FPÖ oscilou politicamente da extrema direita para o centro e de volta, até adotar uma plataforma política ultradireitista, antielite e populista, a partir de 1986. Sua maior vitória eleitoral foi em 1999, quando conquistou 26,9% do votos no pleito legislativo nacional.

No princípio de 2000, seu então líder Jörg Haider fez um acordo com o conservador Partido Popular da Áustria (ÖVP) para formação de um governo de coalizão. Essa era a primeira vez que uma legenda de origem nazista integrava um governo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Jörg Haider marcou o perfil do FPÖ por mais de uma décadaFoto: picture-alliance/dpa

Era Haider

Filho de membros do Partido Nacional-Socialista da Áustria, Haider tornara-se líder do movimento jovem do FPÖ em 1970, e, nove anos mais tarde, consagrou-se o parlamentar mais jovem do partido. A partir de 1986, como líder do partido, passou a defender posturas nacionalistas, anti-imigração e antieuropeias.

A coalizão conservadora-ultradireitista de 2000 suscitou uma reação sem precedentes da União Europeia: Portugal, que detinha a presidência rotativa do bloco, instou os demais 14 Estados-membros a recusarem contatos bilaterais com Viena, negarem apoio a qualquer austríaco almejando um cargo numa organização internacional, e a só receber embaixadores do país "em nível técnico", caso o FPÖ integrasse um novo governo na Áustria.

"Se um partido que expressou pontos de vista xenófobos e que não acata os valores essenciais da família europeia chega ao poder, naturalmente não poderemos continuar com as mesmas relações como no passado, por mais que o lamentemos", declarou o então primeiro-ministro português e atual secretário-geral da ONU, António Guterres, concluindo: "Nada será como antes."

Segundo o Tratado de Amsterdã de 1997, um membro da UE pode ser suspenso se estiver "em transgressão séria e persistente" dos princípios de liberdade, democracia, respeito aos direitos humanos, liberdades fundamentais e Estado de direito.

Como o FPÖ recebera mais votos do que o ÖVP, caberia a Haider ser o próximo chanceler federal austríaco, porém forte pressão internacional convenceu ambos os partidos a entregarem o posto à legenda conservadora. Haider renunciou à liderança do ÖVP em fevereiro de 2000.

No voto legislativo, dois anos mais tarde, a votação do FPÖ caiu para 10%, e divergências partidárias internas acarretaram um racha e a formação de um novo partido encabeçado por Haider, a Aliança para o Futuro da Áustria (BZÖ). Ambos tiveram bom desempenho no pleito parlamentar de 2008, com 17,5% para o FPÖ e 10,7% para o BZÖ. Apenas 13 dias após a eleição, porém, Haider morreu num acidente de carro no sul da Áustria. A polícia não encontrou qualquer indício de homicídio.

Heinz-Christian Strache pontificava por linha dura na imigração e tiradas racistasFoto: picture-alliance/picturedesk.com/G. Hochmuth

Era Strache

Após a série de líderes que se seguiram à renúncia de Haider, Heinz-Christian Strache foi eleito presidente do FPÖ em 2005. O técnico em odontologia tornara-se ativo na política vienense em 1991, sendo eleito para o parlamento da capital em 2001. Ele guiou o partido mais ainda para a direita, com uma plataforma anti-imigração e xenófoba.

Embora o FPÖ fosse bem nas pesquisas de opinião, Strache nunca teve boa figura entre os candidatos a chanceler federal da Áustria. O estilo abrasivo e populista de suas campanhas não contribuía para aumentar suas chances na chefia de governo, entre os conservadores austríacos.

A posição do FPÖ como partido nacionalista foi em grande parte assumida pelo líder do ÖVP, Sebastian Kurz, que adotou a linha-dura durante a crise migratória de 2015, quando seu país acolheu dezenas de milhares de migrantes e refugiados da Síria. Até o fim daquele ano, mais de 90 mil haviam solicitado refúgio na Áustria.

Ainda assim, nas eleições parlamentares de 2017 o FPÖ alcançou 27% nas urnas, ficando em terceiro lugar, depois do ÖVP e do Partido Social-Democrata (SPÖ), de centro-esquerda. Dispondo de apenas 31% dos votos, Kurz concordou em formar uma coalizão governamental com o FPÖ.

Ao contrário de 2000, dessa vez a UE não impôs sanções à Áustria pela ascensão de extremistas de direita ao governo, em meio a fortes sentimentos populistas por todo o continente e partidos ultradireitistas no poder na Hungria e Polônia.

Pouco depois de se formar o governo de coalizão, houve batidas policiais armadas nas dependências do serviço de inteligência doméstica BVT. Material relativo à infiltração da agência em organizações ultradireitistas e nazistas foi confiscado, noticiou o jornal Financial Times, também segundo o qual o FPÖ tem controle sobre todos os três serviços secretos nacionais.

"Strache, seu neonazista!": protestos diante da Chancelaria Federal em Viena após divulgação de vídeo incriminadorFoto: dpa

Declínio

Controvérsias acompanharam a coalizão ÖVP-FPÖ desde o início. A indicação de Heinz-Christian Strache como vice-chanceler federal, apesar de frequentes tiradas antissemitas e racistas, causou grande mal-estar. Recentemente, Christian Schilcher, do FPÖ e vice-prefeito do local de nascença de Hitler, teve que renunciar, após a publicação de um poema num jornal do partido, em que ele comparava migrantes a ratos, a fim de advertir contra a "miscigenação" das culturas.

Então, em 17 de maio de 2019, a menos de uma semana do início das eleições para o Parlamento Europeu, a revista Der Spiegel  e o jornal Süddeutsche Zeitung, ambos alemães, publicaram reportagens sobre um vídeo secreto em que Strache oferece favores políticos a uma suposta investidora russa, em troca de ajuda eleitoral. A filmagem fora feita em julho de 2017, sem conhecimento do populista austríaco, na ilha espanhola de Ibiza.

Tanto Strache quanto seu correligionário do FPÖ Johann Gudenus, que no vídeo atua como tradutor-intérprete do russo para o alemão, renunciaram. Com o apoio do presidente Alexander Van der Bellen, Kurz anunciou novas eleições para o mais breve possível.

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